O Congresso do Peru destituiu a presidente Dina Boluarte na manhã desta sexta-feira, 10, após aprovar um processo de impeachment motivado pela escalada da insegurança pública no país. A decisão foi tomada com 118 votos favoráveis entre os 122 parlamentares presentes.
O então chefe do Legislativo, José Jerí, foi imediatamente empossado como novo presidente da República, com mandato até julho de 2026.
Sem exercer seu direito de defesa e isolada politicamente, a ex-presidente foi afastada do cargo que ocupava desde dezembro de 2022, acumulando rejeição popular e enfrentando investigações criminais. A sucessão marca a sétima troca de comando no Executivo peruano desde 2016, e a terceira destituição aprovada pelo próprio Congresso.
José Jerí: jovem conservador assume o poder
Aos 38 anos, Jerí, advogado e integrante do partido Somos Peru, torna-se um dos mais jovens chefes de Estado do mundo. Em discurso no Congresso, ao lado da faixa presidencial, o novo presidente sinalizou uma retórica combativa contra a criminalidade.
“O principal inimigo está lá fora, nas ruas, as gangues criminosas. Como inimigos, devemos declarar guerra a eles”, afirmou.

A mudança no comando ocorre após semanas de manifestações em Lima, impulsionadas por episódios violentos que se intensificaram na capital. Na quinta-feira, quatro músicos e um vendedor foram baleados por pistoleiros durante um evento no sul da cidade. No início da semana, transportadores realizaram paralisações em protesto contra a falta de segurança.
Perda de apoio e governabilidade abalada
Sem partido próprio e com apoio frágil no Legislativo, Boluarte governava por meio de acordos pontuais com blocos conservadores, que garantiam a rejeição de pedidos de cassação. Essa sustentação política, no entanto, não resistiu ao acúmulo de escândalos administrativos, protestos populares e ações do crime organizado, que elevaram os índices de violência a patamares inéditos no país.
Durante seu governo, a capital peruana se tornou epicentro da instabilidade. Diversos setores da sociedade civil exigiam a saída da presidente, considerada símbolo de um regime político fragilizado e desconectado das demandas populares.
Mensaje del presidente de la República, @josejeriore. pic.twitter.com/kAkDdCliDL
— Congreso del Perú 🇵🇪 (@congresoperu) October 10, 2025
Investigada por violações e luxo não declarado
A ex-mandatária responde a três investigações: uma por violência policial em protestos com dezenas de mortos, outra por abandono de cargo — após submeter-se a uma cirurgia plástica sem notificar o Congresso —, e o chamado “Rolexgate”, no qual apareceu com joias de luxo não declaradas em sua lista de bens.
Com a perda do foro privilegiado, Boluarte poderá ser processada na Justiça comum. Outros ex-presidentes do país, como Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Castillo, já se encontram presos, em um padrão que evidencia a instabilidade crônica do Executivo peruano.
Com informações da Reuters, AFP e SBT News/