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Brasil

A mãe real de um bebê real

Eu achava que faria yoga e meditação na gravidez. Não fiz. Me estressei, pensei mais do que nunca, e trabalhei loucamente até o oitavo mês de gestação.

Eu achava que com 40 semanas minha bebê nasceria. Nasceu de 43, depois de 20 horas de trabalho de parto, com a ajuda de alguns litros de ocitocina, anestesia e todas as intervenções possíveis.

Eu achava que bebê nascia, abocanhava o peito e mamava. Minha filha sugava meu bico (e minha alma) com sua boquinha minúscula e, como uma encantadora vampirinha, mamou bons litros de leite com sangue até meu peito rachado sarar.

Eu achava que os bebês dormiam à noite. Os bebês não dormem à noite. Eu achava que bebê dormia no berço, enquanto a mãe tomava banho ou descansava um pouco também. Nosso berço virou um cesto de pilhas de roupa para passar. Minha bebê fez sonecas inteiras no colo, até quase um ano. Se tentássemos transferi-la para outro lugar, acordava. Nas raras vezes que dormia sozinha, eu ia lavar roupinhas.

Eu achava que quando faziam seis meses, os bebês sentavam, abriam a boca e comiam papinha. Teresa odiava papinha, colher, cadeirão de alimentação ou qualquer coisa que não fosse peito. Ela só aceitou comer catando grãozinho com as próprias mãos quando fez onze meses.

Eu achava que os bebês traziam apenas amor e geravam harmonia na família. Bebês trazem o caos para as relações. Bebês geram amor, mas com eles também experimentamos emoções e sentimentos que aparentemente nem combinam com amor.

Eu achava que nunca desejaria ficar um pouco sem minha filha. Mas eu quis, eu quero. Às vezes penso em devolvê-la para a fábrica. E tenho certeza que iria atrás do carro de entrega para pegá-la de volta. E ainda brigaria com o entregador.

Eu achava que saberia sempre tudo sobre minha filha. Mas não há um único dia que ela não me surpreenda. E quando eu finalmente sinto que entendi alguma coisa, ela cresce, muda, tem outras necessidades e eu fico perdida novamente.

Eu me achava por saber cantar Faroeste Caboclo inteiro. Agora eu me acho por saber todas as letras da Galinha Pintadinha, do Mundo Bita, da Palavra Cantada.

Eu achava que ia aguentar tudo ao virar mãe. Eu não aguentei. Eu aprendi a não aguentar e a me perdoar por isso.

Eu achava que tinha que fazer sempre o melhor para ser amada. Agora eu sei que basta fazer o meu possível, e ela vai me amar.

Ser a mãe real para um bebê real é tão diferente do que eu poderia imaginar, antes de vivenciar a maternidade. Às vezes mais difícil. Muitas vezes mais difícil!

Desde que minha filha chegou eu me faço e me refaço. Me surpreendo e me descubro, em minhas sombras e minha luz. Sou mais humana, mais caótica, mais atrapalhada e mais cansada. Mas, sobretudo, eu sou mais capaz de amar. Amo muito, mas muito mais, do que suspeitaria ser possível.

Eu achava que sabia o que era amor. Mas eu não tinha a mais ínfima ideia do que essa palavra realmente significava, até me tornar mãe.

CAMILA RAMOS

Camila Ramos é psicóloga especialista em Saúde Mental, Parentalidade e Perinatalidade. É autora do livro ‘Desmanual Materno – palavras de uma psicóloga para maternidades possíveis’, e criadora do projeto ‘Um colo para mãe’, no qual atende mães e crianças e produz conteúdo no Instagram @um.colo.para.mae
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