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O esquecimento materno

Ao me tornar mãe eu descobri algo muito interessante: existe uma chave chamada “esquecimento” que nasce junto ao nascimento de um bebê.

Eu sei que você deve estar pensando que se trata daquilo que acontece com todas nós, de cabeça confusa e lenta para tudo o que não diz respeito ao bebê. Eu mesma, por dezenas de vezes, quase saí para atender a porta com os peitos para fora depois de amamentar. Eu peguei um carro que não era meu no estacionamento e andei quilômetros, sem perceber.

Sim, tem esse esquecimento, fruto de um estado psíquico que entramos no Puerpério, no qual nosso foco é apenas o bebê e suas necessidades. Que também tem a ver com a programação biológica que é acionada quando nasce um filhote, e que está relacionada ao cansaço absurdo, por conta dos dias e das noites ininterruptas cuidando de um pacotinho. Mas não é desse esquecimento que estou falando.

As pessoas – e quando digo pessoas me refiro às mulheres-mães – sempre têm algo a dizer sobre o bebê. E, geralmente, coisas totalmente desconectadas da realidade que a mãe puépera está vivendo: “Olha, não pode ficar com o bebê no colo, senão ele vai acostumar”
“Será que ele não está chorando de fome?”
“Porque será que ele dorme sonecas tão curtas?”
“Não pode fazer dormir balançando, senão depois…”
“Viu, cê não acha que essa livre demanda tá muito livre não?”
“Mas deve estar acontecendo algo! Porque ele não come? Deve ser o peito”
“Ah, mas se você não acostumá-lo a dormir no meio do barulho, ele não vai dormir nunca”
“Nossaaa, mas ele ainda acorda à noite?” É tanta, mas tanta coisa que escutamos quando nos tornarmos mães, que ficamos realmente confusas! O que parece é que tudo o que nosso bebê é, e tudo o que fazemos para atendê-lo, está errado.
Algumas acabam duvidando se são boas mães para seus bebês. Outras se questionam se realmente esses palpites são de mulheres que já foram mães. E a maioria de nós sente as duas coisas. Assim, tudo junto e misturado.

Mas escuta, ao recebermos um bebê nos braços, junto dele, embrulhadinho no cueiro, ganhamos graciosos brindes chamados “perrengues”. Sim! Se você teve um bebê fique sabendo que:

Bebês não dormem à noite!
Bebês pequenos não ficam no carrinho, pois precisam de colo!
Bebês mamam pra caramba!
Toda mãe balança e faz “shiiii” instintivamente!
Bebês choram! Por dezenas de coisas, e simplesmente, porque BEBÊS CHORAM!
Bebês fazem pequenos cochilos de gato!
Nem todo bebê faz seis meses e topa papinha!

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Depois de tanto escutar palpites eu tenho uma tese, e até que me provem o contrário, ela está certa. Vejam, se toda mãe passa por esses perrengues (por muitos outros mais) porque muitas delas despejam essa bobeirada em cima de outras mães?

É que elas simplesmente esquecem. Ploft! Apagam. Apagam as noites mal dormidas, as horas sacolejando bebê e os malabarismos para fazê-lo comer, e ficam com o que é bom. Só assim conseguem pensar na aventura (loucura) de ter outro bebê. E se livrar da experiência de também, vez ou outra, terem se sentido péssimas mães. Fazem backup para algum lugar inacessível do inconsciente. Limpam o sistema para abrir espaço para os outros perrengues que virão.

Claro que muitas apenas reproduzem o que viveram. Elas mesmas foram interrompidas com palpites e “tem quê”, mais do que apoiadas e encorajadas a maternar em conexão e em aceitação de seus bebês reais. Nessa via, muitas não puderam viver seus Puerpérios balançando, acordando e mergulhando. Foram desamparadas, e por vezes, não conseguiram amparar seus filhotes.

Mas, de maneira geral, os palpites vêm desse espaço borrado pelo esquecimento do Puerpério. Tática inconsciente de sobrevivência materna. Simples assim.

O que nos resta é acolher o que nos é dito, como enunciados de mulheres que fizeram o seu melhor, e que não conseguem lembrar que atravessaram noites sem fim com um bebê esguelando nos braços. O que nos resta é a conexão e a entrega a esses momentos que, em breve, escorrerão pelos nossos dedos e serão armazenados lá na gavetinha dos fundos. E tudo também vai parecer apenas um sonho bom.

Camila Ramos é psicóloga especialista em Saúde Mental, Parentalidade e Perinatalidade. É autora do livro ‘Desmanual Materno – palavras de uma psicóloga para maternidades possíveis’, e criadora do projeto ‘Um colo para mãe’, no qual atende mães e crianças e produz conteúdo no Instagram @um.colo.para.mae
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