Foto: Fernanda Sunega/Divulgação
O aumento de casos de dengue na reta final de 2024 fez a Prefeitura de Campinas reforçar o alerta para cuidados na prevenção e combate à doença com objetivo de evitar novo cenário de emergência no próximo ano.
Além de manter ações cotidianas contra o mosquito Aedes aegypti, vetor da doença, a Administração anunciou nesta quinta-feira (21) ampliação da estratégia de enfrentamento até o início do próximo ano incluindo novas parcerias, pedido à Polícia Federal para acessar imagens de satélite para localizar imóveis com grandes quantidades de criadouros e uso de inteligência artificial (IA) para convocar 9,2 mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que estão com a 2ª dose de vacina do esquema atrasada.
Os casos quintuplicaram entre 1º de julho e 9 de outubro, no comparativo com o mesmo período do ano passado: foram de 662 para 3.670. Isso reforça a preocupação de cenário igual ou pior em 2025 – e há ainda preocupação com aumento dos casos de chikungunya.
“É um desafio imenso. A Prefeitura tem que assumir a parte dela e a sociedade também. Ou a gente muda comportamento ou vamos sofrer muito”, destacou o prefeito de Campinas, Dário Saadi, ao mencionar a importância do esforço conjunto em ações contra a dengue.
Novas estratégias
- Capacitação de lideranças de bairros;
- Uso de imagens de satélite da Polícia Federal (pedido enviado à instituição);
- Reforço no estoque de insumos utilizados no tratamento de dengue e chikungunya;
- Capacitações para profissionais de saúde das redes pública e privada;
- Reunião com representantes dos hospitais privados;
- Reunião com representantes do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) para fiscalização em imóveis vazios;
- Uso de chaveiros para entrar em casas com forte suspeita de criadouros. A identificação será feita com o uso de drones e a medida tem respaldo judicial;
- Uso de IA para reduzir o percentual de imóveis sem acesso durante ações contra dengue;
- Campanha publicitária educativa em diversos canais de comunicação;
- Intensificação do trabalho do Grupo de Resposta Unificada (GRU);
- Realização de mutirões nas áreas com alta transmissão da doença;
- Reunião com as comunidades religiosas;
- Parceria com a concessionária CPFL na identificação de casas com criadouros e mensagens educativas nas contas de energia.
- Colocação de aviso nas residências em que as equipes não conseguem entrar
Esforço conjunto
Levantamento do Programa de Arboviroses de Campinas mostra que a média mensal de casos de dengue voltou a subir desde setembro, o que exige atenção para os próximos meses. Isso porque os períodos de chuva tendem a ser mais frequentes até fim do verão e a intensificação do período de calor é determinante para proliferação do mosquito.
A Secretaria de Saúde destaca que o trabalho conjunto do Poder Público e população precisa ser permanente para eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouros para o Aedes aegypti, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d’água e fechar vasos sanitários inutilizados.
“Não deixamos de atender nada em 2024, mas sempre há prejuízos na assistência para outras patologias e nos preocupamos. Isso porque ainda temos demandas reprimidas da pandemia, principalmente doenças crônicas. A epidemia prejudica a atenção primária e hospitalar”, alertou o titular da Pasta, Lair Zambon.
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Wanice Port, e o coordenador da Defesa Civil Sidnei Furtado abordaram a influência de temperaturas elevadas sobre o aumento de casos de dengue.
“Quando a gente olha para a questão do vetor, ele tem um ciclo que em baixas temperaturas pode durar 36 dias. Quando elas se elevam, o ciclo pode ficar menor que oito dias, ou seja, ele se reproduz mais. É uma guerra em que, se cada um não tiver seu papel na linha de frente, não vamos conseguir combater de maneira eficaz para reduzir casos”, explicou Wanice.
“Em 2023 foram 39 alertas de alta temperatura e neste ano já foram 66. É uma questão de saúde pública e nos preocupa bastante a possibilidade de situação de emergência na região”, frisou Sidnei.
IA para vacinação
A Saúde usará IA para convocar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos com esquema vacinal incompleto. O intervalo é de três meses entre cada uma.
Inicialmente, o público-alvo total era estimado em 90 mil, contudo, a Pasta fez uma atualização de sistema e passou a considerar novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a faixa foi atualizada para 65,2 mil pessoas.
As mensagens via WhatsApp são enviadas aos pais ou responsáveis pela Ana, assistente virtual da Saúde, pelo 19-9-9604-3012 – identificado por Acesso Fácil – Saúde Campinas.
Entre 11 de abril e 31 de outubro foram aplicadas 24,1 mil doses do imunizante. Há 9,2 mil crianças e adolescentes com esquema incompleto, público-alvo do uso de IA, e outras 2 mil precisam aguardar o fim do intervalo de três meses para receber a segunda dose.
Vacinação contra dengue
- 1ª dose: 17.724
- 2ª dose: 6.428 (40,9% das 15.680 pessoas aptas para receber)
- Total de doses aplicadas: 24.152
- Receberam a 1ª dose e precisam esperar intervalo: 2.044 pessoas
- Estão com esquema incompleto: 9.252 pessoas (59% das pessoas aptas a receber)
“A dose é segura e importante para evitar complicações da doença. Reforçamos a importância dos pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes comparecerem às unidades básicas para completar o esquema vacinal para evitar casos graves e até óbitos pela doença”, explicou a coordenadora do Programa de Imunização, Chaúla Vizelli.
Não é preciso realizar agendamento para receber a dose contra a dengue. Basta levar documento de identidade com foto e a carteira de vacinação (se tiver).
As salas de vacinação funcionam conforme horário de cada CS. Endereços e contatos estão disponíveis na página: https://vacina.campinas.sp.gov.br.
Esta é a segunda iniciativa da Saúde com aplicação de IA para enfrentamento à dengue. Desde 12 de março, toda pessoa diagnosticada ou com suspeita da doença, após atendimento no SUS Municipal, recebe, via WhatsApp, mensagem disparada pelo chatbot que auxilia a Pasta a acompanhar as condições do paciente e evitar casos graves.
Se necessário, há nova orientação para buscar por atendimento. Até 12 de novembro, 47.885 pacientes foram acompanhados e 16.095 reencaminhados aos serviços de saúde.
IA para reduzir pendências
A Saúde também usará IA, no mesmo modelo da vacina, para avisar moradores de bairros onde forem programadas ações de prevenção e combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e outras arboviroses. A medida ocorre após aumento de imóveis inacessíveis durante visitas feitas em 2024 no comparativo com os dois anos anteriores.
Relatório parcial indica que 52% dos espaços deixaram de ser trabalhados por estarem fechados, desocupados ou até mesmo em virtude de recusa dos moradores aos agentes. Em 2022 e 2023 os percentuais foram, respectivamente, de 48% e 49%.
As visitas a imóveis são feitas, principalmente, por funcionários da empresa Impacto Controle de Pragas, com propósito de eliminar possíveis criadouros do mosquito e fazer orientações.
Os agentes usam camiseta laranja com gola careca e logo da empresa silkado, enquanto o líder da equipe veste blusa verde com as mesmas características. Todos vestem calça na cor cinza, e têm crachá de identificação. Já voluntários de mutirões usam colete na cor laranja com a identificação e a frase “Campinas contra o mosquito”. Dúvidas sobre a identidade dos participantes podem ser esclarecidas pelo telefone 156 (de segunda a sexta) ou com a Defesa Civil pelo telefone 199 (fins de semana e feriados).
O coordenador do Programa de Arboviroses, Fausto de Almeida Marinho Neto, ressaltou que o esforço conjunto do Poder Público e população precisa ser permanente para eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouros para o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d’água e manter fechados vasos sanitários inutilizados.
Imagens de satélite e parcerias
A Administração solicitou à Polícia Federal autorização para acessar imagens registradas por satélite com objetivo de localizar eventuais imóveis com grandes quantidades de criadouros. A expectativa é de que o retorno ocorra em breve e, com esta medida, o monitoramento seja ampliado e otimizado.
Por meio de parcerias com lideranças de bairros, comunidades religiosas e instituições, a Prefeitura prevê ampliar a forma de se comunicar de maneira eficaz com a população e ressaltar a mensagem de que o enfrentamento à dengue exige esforço conjunto.
Contexto e assistência
Entre 1º de janeiro e 11 de novembro, Campinas registrou 120.413 casos confirmados de dengue e 80 óbitos. A epidemia de dengue é nacional e, neste ano, dois fatores contribuíram para aumento de casos na cidade: a circulação simultânea de três sorotipos do vírus pela primeira vez na história e condições climáticas favoráveis para a proliferação do mosquito, principalmente por conta das sucessivas ondas de calor.
O desfecho óbito depende de fatores como procura precoce por atendimento, manejo clínico adequado e características individuais do paciente, como possíveis doenças preexistentes e/ou outras condições clínicas especiais. A taxa de letalidade em Campinas é de 0,06%, menor que a do Estado, de 0,09%, e do Brasil, de 0,1%.
A pessoa que tiver febre deve procurar um centro de saúde imediatamente para diagnóstico clínico. Portanto, a Saúde faz um apelo para que a população não banalize os sintomas e também não realize automedicação, o que pode comprometer a avaliação médica, tratamento e recuperação. Já quem estiver com suspeita de dengue ou doença confirmada e apresentar sinais de tontura, dor abdominal muito forte, vômitos repetidos, suor frio ou sangramentos deve buscar o quanto antes por auxílio em pronto-socorro ou em UPA.
Em relação à chikungunya foram registrados seis casos em Campinas em 2024: quatro deles importados, quando a pessoa é infectada em outra cidade, e dois em que a transmissão ocorreu na cidade.
O que já foi feito?
Vale destacar que desde o fim de 2023 a Prefeitura desencadeou diversas medidas para o enfrentamento da dengue e muitas delas são consideradas adicionais ao planejamento regular de prevenção e combate à dengue. Entre elas estão a Sala de Situação para análise sistemática, reorganização da rede municipal de saúde e novo site para informações.
Entre janeiro e 8 de novembro, equipes contratadas pela Administração realizaram 1.476.662 visitas a imóveis para controle de criadouros e ações educativas. Além disso, foram realizadas 209.252 visitas em residências para aplicação de inseticida por meio da nebulização costal e 33.164 imóveis foram contemplados com nebulização veicular.
No início deste ano já houve reforço nos estoques dos principais insumos usados no tratamento da dengue para garantir o atendimento dos pacientes da rede municipal. Além disso, foi criado o Grupo de Resposta Unificada (GRU), que envolve todas as áreas com objetivo de agilizar respostas e fiscalizações para denúncias que tratam de criadouros.
Já a Secretaria de Serviços Públicos intensificou o trabalho de coleta de lixo e entulhos e, com isso, passou a recolher 4 mil toneladas a mais de resíduos urbanos por mês.
Durante o período de emergência, entre 7 de março e 14 de junho, a Saúde abriu centros de saúde que não funcionavam aos finais de semana e ampliou o horário de atendimento nas unidades que já funcionavam aos sábados.
Ações em números até o dia 8 de novembro
- Controle de criadouros: 1.476.622 visitas a imóveis;
- Nebulização costal: 209.252 visitas a imóveis;
- Nebulização veicular: cobertura de 33.164 imóveis;
- Chatbot dengue (até 12/11): 47.885 pacientes foram acompanhados e 16.095 reencaminhados aos serviços de saúde para novas orientações;
- Mutirões: já foram 20 neste ano que totalizaram 90 mil visitas em 140 bairros, e há um programado para sábado, 23 de novembro, com ações na região do Parque Oziel;
- 250 escolas trabalham o tema e pelo menos 63 mil crianças e famílias foram impactadas;
- 94 mil toneladas de resíduos retirados em ações;
- 250 servidores brigadistas;
- 300 servidores capacitados;
- 12 ações de fiscalização integrada;
- 4,5 mil imóveis notificados;
- 108 mil atendimentos na atenção primária de saúde.
Serviço
Mais informações estão no portal https://dengue.campinas.sp.gov.br