A mudança começa a valer a partir desta terça-feira (02/04).
A vacinação contra o papilomavírus humano, o HPV, no Sistema Único de Saúde (SUS) vai deixar de ser feita em duas doses e passará para a dose única.
Segundo o diretor do Programa Nacional de Imunização do do Ministério da Saúde, Eder Gatti, após a mudança, as pessoas que receberam uma dose já vão estar plenamente vacinadas e não precisarão receber a segunda.
A vacina utilizada no novo esquema da rede pública permanece sendo a dose quadrivalente produzida pelo Instituto Butantan, que protege contra quatro subtipos de HPV associados ao câncer de colo de útero.
Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, considerou a mudança uma estratégia acertada.
“É uma tendência. Vários países do mundo estão migrando para a dose única. Alguns porque não têm vacina e o único jeito de introduzir é com uma dose apenas. Outros, como Austrália, Escócia e Dinamarca, migraram para a dose única porque já conseguiram controlar ou reduzir em mais de 90% a circulação do vírus, das lesões e do câncer”.
Mônica destacou ainda que a mudança se aplica estritamente ao SUS e que o esquema de duas doses para adolescentes de 9 a 14 anos está mantido na rede particular. Isso porque, segundo ela, estudos apontam a eficácia da dose única contra o HPV na prevenção do câncer de colo de útero, mas o vírus está associado a outros tipos de câncer, como de orofaringe, pênis, ânus, vagina e vulva.
Hoje, o Brasil está focado na eliminação do câncer de colo de útero e utiliza a dose única como ferramenta. Já a população que se vacina no sistema privado também terá proteção contra a verruga genital e outros tipos de câncer, que precisam ser realizadas em duas doses.
A presidente considera a passagem para duas doses um dado positivo para o Brasil, já que o país estava com uma baixa cobertura vacinal e adesão da segunda dose. Com apenas uma dose, vai ser possível aumentar essa cobertura.
Porém, é importante frisar que a Sociedade Brasileira de Imunizações e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia vão manter o esquema de duas doses até aos 20 anos e de três doses para acima de 20 anos.
A vacina é importante para meninos e meninas, já que também há doenças associadas ao HPV no sexo masculino. O foco da decisão do ministério pela dose única é a eliminação do câncer de colo de útero e muitos países estão fazendo o mesmo.
A OMS também recomenda a vacinação em dose única, com a intenção de proteger mais pessoas. Mônica ressalta que os desfechos provavelmente vão ser melhores do que mantendo duas doses e não conseguindo cobertura vacinal para a segunda, que é o que está acontecendo no momento no Brasil.
De 2017 a 2023, entre os meninos, só 27% têm a segunda dose. Entre as meninas, 56% têm a segunda dose, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A partir dos esforços concentrados em aumentar a cobertura vacinal em dose única, será possível obter um resultado melhor a longo prazo.
Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), reforçou que eliminar o câncer de colo de útero não é chegar a zero, mas transformar a doença em uma patologia rara, com pouco escape de casos positivos. O intuito é que o câncer de colo de útero deixe de ser um dos cânceres que mais mata mulheres no mundo para se tornar um câncer raro. Por isso, a importância de uma medida como essa no Brasil, que tem entre 13 e 16 casos desse câncer por 100 mil mulheres. São 17 mil casos novos e 6,6 mil óbitos todos os anos.
(AGÊNCIA BRASIL)
Isabela Meletti (Sob supervisão)