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Burnout atinge 30% dos brasileiros e se torna epidemia silenciosa nos ambientes de trabalho

Alta cobrança e jornadas exaustivas levam milhares ao esgotamento mental
burnout. Foto: Unsplash

A Síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento profissional, já atinge mais de 30% dos trabalhadores brasileiros, segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR). O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking global da doença, atrás apenas do Japão.

O crescimento acentuado da síndrome reflete uma sociedade cada vez mais sobrecarregada, pressionada por metas inatingíveis e que negligencia o descanso. Globalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 10% da população economicamente ativa sofre com burnout.


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Oficialmente reconhecida pela OMS e incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), a síndrome é caracterizada por exaustão física e mental, sensação de fracasso, distanciamento emocional e queda de produtividade. “É como um colapso da parte mental do indivíduo. Afeta desde a afetividade até as funções cognitivas, e tudo isso geralmente em decorrência do trabalho”, explica o Dr. Thyago Henrique, médico especialista em saúde mental pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo ele, a manifestação da síndrome vai muito além do cansaço. “A pessoa se torna mais irritada, o limiar de paciência diminui de forma absurda, afetando suas relações interpessoais. Mas o principal impacto está na produtividade, que despenca. A pessoa não quer ir trabalhar não por preguiça, mas por estresse, por medo. Mesmo quando vai, não rende como antes”, detalha.

Thyago também alerta para o uso crescente de substâncias como resposta ao esgotamento. “É muito comum o abuso de café, energéticos e agora até de medicamentos estimulantes, usados na tentativa de manter a produtividade. Mas isso é extremamente prejudicial, porque não resolve a causa real e ainda traz outros riscos à saúde.”

O diagnóstico do burnout é clínico e não exige exames laboratoriais. “Com uma boa anamnese, conseguimos identificar o quadro. Quanto antes for feito o diagnóstico e iniciada a intervenção, melhor o prognóstico. E o tratamento vai além de remédio: é comportamento, mudança de rotina e, principalmente, readequação do ambiente de trabalho”, afirma o psiquiatra.

Em muitos casos, o afastamento temporário ou definitivo do ambiente hostil é necessário. “Não adianta medicar se a pessoa continua inserida na fonte do sofrimento. A melhora pode ser perceptível já nos primeiros dias longe do local. Às vezes, a pessoa sai de férias e no segundo dia já se sente outra”, relata.

Outro ponto levantado pelo médico é a cultura da produtividade sem limites. “Vivemos a geração do desempenho. Há uma pressão absurda por resultados, e o descanso vira luxo. Mas o burnout não surge só de excesso de trabalho. Ambientes tóxicos, com bullying velado e relações hostis, também são gatilhos potentes”, explica.

Segundo o especialista, há formas práticas de prevenção que começam dentro e fora do trabalho: “Sono de qualidade, pausas regulares, atividade física, interação com colegas e ambientes que respeitem os limites individuais são fundamentais. São atitudes simples que fazem toda a diferença”.

Para ele, o aumento da discussão sobre o tema nas redes sociais e na mídia tem sido positivo. “Antes, burnout era visto como frescura. Hoje há mais conscientização. Quando uma figura pública revela que está passando por isso, ajuda a legitimar o sofrimento de pessoas comuns. Isso tem um papel importante na quebra do preconceito.”

Ainda assim, ele ressalta que a principal chave para combater o problema é a valorização da saúde mental. “Respeitar os próprios limites é essencial. O trabalho não pode estar acima da sua saúde. Não adianta ter um cargo importante, um bom salário, se você não tem saúde para usufruir disso. O burnout cobra um preço alto demais”, finaliza.


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