As mulheres que atuam no setor privado brasileiro recebem, em média, 21,2% a menos que os homens, segundo o 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado nesta segunda-feira (3) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O levantamento examinou 54.041 empresas com 100 ou mais funcionários, somando 19,4 milhões de vínculos formais. A remuneração média feminina é de R$ 3.908,76, enquanto a masculina chega a R$ 4.958,43.
Embora a disparidade persista, dados da PNAD Contínua e do IBGE indicam aumento expressivo da presença feminina no mercado de trabalho. Entre o segundo trimestre de 2016 e o mesmo período de 2025, o número de mulheres ocupadas passou de 37,9 milhões para 44,6 milhões, um acréscimo de 6,7 milhões de postos. No mesmo intervalo, os homens empregados aumentaram de 51,9 milhões para 57,7 milhões, alta de 5,8 milhões.
Desigualdade em crescimento
A diferença salarial entre gêneros se ampliou em comparação aos relatórios anteriores. Em março de 2024, a distância era de 19,4%; em setembro, subiu para 20,7%; e no levantamento de abril deste ano, atingiu 20,9%. Entre os principais fatores apontados pelas empresas para justificar as disparidades estão:
- Tempo de experiência na empresa (78,7%)
- Metas de produção (64,9%)
- Planos de cargos, salários e carreira (56,4%)

Recorte racial e desigualdade regional
O relatório destaca que a diferença salarial é mais acentuada entre mulheres negras e homens não negros, chegando a 33,5%. As mulheres negras recebem R$ 1.836,00, ante R$ 2.764,30 pagos aos homens não negros.
Entre os estados, o Paraná lidera a disparidade, com 28,5%, seguido por Rio de Janeiro (28,5%), Santa Catarina (27,9%), Mato Grosso (27,9%) e Espírito Santo (26,9%). Já as menores diferenças aparecem no Piauí (7,2%), Amapá (8,9%), Acre (9,1%), Distrito Federal (9,3%) e Ceará (9,9%).
Ações e políticas de equidade
De acordo com o MTE, parte das empresas informou ter adotado iniciativas para promoção da diversidade em seus quadros:
- 38,9% implementaram políticas de promoção de mulheres
- 29,6% criaram incentivos à contratação feminina
- 23,1% promovem inclusão de mulheres negras
- 19,7% estimulam a contratação de mulheres com deficiência
- 18,9% apoiam chefes de família mulheres
- 18,8% oferecem incentivos à população LGBTQIA+
- 7,8% incluem mulheres indígenas
- 7,3% priorizam vítimas de violência doméstica
Para a subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, Paula Montagner, é preciso acelerar a implementação de medidas concretas. “As empresas precisam avançar na construção de planos de ação que promovam a igualdade salarial dentro das corporações. Precisamos acelerar esse processo”, afirmou.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destacou que a inserção feminina no mercado de trabalho ainda enfrenta entraves estruturais. “É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Nosso compromisso é intensificar medidas que combatam essas distorções”, disse.