Quase metade dos consumidores que afirmam apostar ou jogar online, como o popular “Jogo do Tigrinho”, já comprometeram parte da renda, retiraram dinheiro de aplicações ou contraíram empréstimos para sustentar a prática, revela levantamento feito pelo Procon-SP.
O relatório chama atenção sobre o impacto financeiro e psicológico dos jogos de aposta digital, especialmente diante da crescente publicidade com influenciadores. Outro ponto destacado por especialistas do setor diz respeito a falta de transparência sobre os vínculos comerciais com as empresas de apostas, que foram alvos de Comissão Parlamentar de Inquéritos em Brasília.
A enquete, respondida por 1.533 pessoas entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, mostra que 71% dos que jogam afirmam ter mais prejuízos do que lucros, e 39% já acumulam dívidas por conta da atividade. O resultado confirma um cenário de descontrole: 48% admitiram que recorreram a reservas financeiras ou empréstimos para continuar apostando.
Entre os 251 participantes que se identificaram como jogadores ou apostadores, 58% são homens e 51% têm entre 31 e 44 anos. A maioria pertence às faixas de renda mais baixas: 50% ganham até dois salários mínimos, e 30% entre dois e quatro salários.

Redes sociais como vitrine e gatilho
Cerca de 89% dos participantes disseram receber ofertas de jogos em redes sociais ou diretamente no celular. Para 52%, a presença de celebridades nas campanhas publicitárias influencia na decisão de jogar.
Embora o gasto médio mensal com apostas seja de até R$ 100,00 para quase metade dos apostadores, 18% disseram comprometer valores acima de R$ 1.000,00 por mês. Os números se tornam ainda mais graves diante do perfil socioeconômico predominante: 50% dos apostadores ganham até dois salários mínimos.

Direito do consumidor e queixas recorrentes
Apesar da popularização dos jogos online, 63% dos que apostam já enfrentaram algum tipo de problema com as empresas. A maioria relata recusa no pagamento de prêmios (57%), excesso de mensagens promocionais (14%) e regras confusas (14%). Ainda assim, apenas metade dessas pessoas tomou providências concretas, como denúncias formais ou rompimento de vínculo com a empresa.
Desde janeiro de 2024, o Procon-SP registrou aproximadamente 2.300 queixas formais contra empresas de apostas, sendo 90% delas referentes a não pagamento de prêmios ou não devolução de valores. E mesmo com esse volume expressivo, 53% dos entrevistados afirmaram desconhecer que é possível acionar o Procon-SP nesses casos.
O Procon-SP preparou uma campanha digital em parceria com a Secretaria de Comunicação do Governo de São Paulo para conscientizar a população sobre os riscos das apostas e as formas de buscar reparação em caso de prejuízos. A proposta é ampliar o conhecimento do consumidor sobre seus direitos e alertar sobre a importância de verificar a legalidade das empresas — especialmente se possuem autorização do Ministério da Fazenda para operar no Brasil.
Em seu site oficial, o órgão também disponibilizou uma ferramenta para consulta das empresas regularizadas. O objetivo é garantir que o consumidor, uma vez informado, tenha instrumentos para agir diante de eventuais abusos ou fraudes.
Regulação e proteção jurídica
Vale ressaltar que os consumidores que apostam estão amparados pelo Código de Defesa do Consumidor, que assegura o direito à informação clara e adequada, inclusive sobre os riscos da atividade e os critérios para resgate de prêmios. Também é garantida a proteção dos dados pessoais, conforme prevê a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A Lei 14.790, sancionada em 2023, estabelece as bases para a regulação das apostas no Brasil. Além disso, portarias do Ministério da Fazenda definem que empresas do ramo só podem operar legalmente se cumprirem exigências como manter sede no território nacional.