A ansiedade pela tão sonhada estatueta do Oscar talvez nunca tenha sido tão forte no Brasil. Com ‘Ainda Estou Aqui’ disputando três prêmios, o filme dirigido por Walter Salles pode realizar o desejo de uma série de filmes que quase chegaram lá.
De filmes clássicos dos anos 60 a verdadeiros longas cultuados dos anos 90, o Brasil bateu na trave do Oscar em mais de uma ocasião. Confira, a seguir, cinco vezes que produções brasileiras chegaram a Hollywood, mas não saíram vitoriosas.
Levamos o ouro, mas não o Oscar
Cultuado no Brasil, e mundo afora, ‘O Pagador de Promessas’ (1962) trouxe para as telonas um debate focado no preconceito religioso. Na história, Zé do Burro, interpretado por Leonardo Villar, enfrenta uma série de dificuldades enquanto carrega uma enorme cruz de madeira para pagar promessa feita a uma mãe de santo após desejar pela recuperação de seu burrinho.
Ao ouvir os motivos que levaram Zé do Burro a levar a pesada cruz por quilômetros, o padre local o impede de cumprir sua promessa. A situação gera um embate entre Zé, a população e a igreja, culminando em um final surpreendente.
‘O Pagador de Promessas’ se tornou o primeiro filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro, honraria máxima do Festival de Cannes, na França. O longa, entretanto, acabou derrotado no Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro após perder a disputa para o drama francês ‘Les dimanches de Ville d’Avray’.
Um beijo na trave
Apesar de ser uma ‘bola dividida’, a produção Brasil/Estados Unidos de ‘O Beijo da Mulher Aranha’ (1985) se saiu bem no Oscar, mas trouxe uma estatueta apenas para os EUA. Dirigido pelo argentino/brasileiro Héctor Babenco, o longa conta a história de dois prisioneiros durante a ditadura no Brasil.
Com uma pegada de filme mais ‘meta’, a história rapidamente evolui para outras histórias enquanto o enredo acompanha os companheiros de cela contando causos uns para os outros.
Com um elenco que contava com William Hurt, o saudoso Raul Julia, Sônia Braga e Milton Gonçalves, ‘O Beijo da Mulher Aranha’ disputou quatro prêmios: Melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro adaptado. Sorte de William Hurt, que faturou seu prêmio de melhor ator, mas o Brasil seguiu chupando o dedo.
Quase lá, companheiro!
Contando com um baita elenco que incluía Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Selton Mello, Luiz Fernando Guimarães, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro, Eduardo Moscovis e Alessandra Negrini, ‘O Que é Isso, Companheiro?’ trazia uma trama baseada em fatos reais.
Na história, Fernando Gabeira, interpretado por Pedro Cardoso, se une a um grupo de guerrilheiros que lutavam contra o regime militar que se instalou no Brasil após o golpe ocorrido em 1964.
Com mais ação que a maioria dos longa-metragens tupiniquins, ‘O Que é Isso, Companheiro? disputou o Oscar de 1998 pelo Brasil contra produções de Alemanha, Rússia e Espanha, mas acabou derrotado pelo holandês Karakter, ou Character em inglês.
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A premiação mais polêmica
O ano em que ‘Central do Brasil’ (1998) disputou as estatuetas de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz foi, sem dúvidas, cercado de polêmicas.
A história de Dora (Fernanda Montenegro) e Josué (Vinícius de Oliveira) acompanha uma improvável amizade selada pelo destino e que coloca ambos em uma viagem rumo ao nordeste brasileiro em busca do pai do menino após o mesmo perder sua mãe de forma trágica no Rio de Janeiro.
Com tons de melancolia, mas uma beleza indescritível potencializada pela atuação dos dois protagonistas, o enredo rapidamente se desenvolve de forma natural e delicada. A obra rapidamente começou a colecionar premiações e, após a vitória de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, as chances no Oscar pareciam evidentes. Mas quis o destino que não fosse assim.
A produção de Walter Salles acabou perdendo o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro para ‘A Vida é Bela’ (1997), que também concorria ao Oscar de melhor filme. Já na categoria de melhor atriz, Fernanda Montenegro, Meryl Streep, Cate Blanchett e Emily Watson viram a estatueta acabar nas mãos da improvável Gwyneth Paltrow de Shakespeare Apaixonado (1998), longa este que também faturou o prêmio de melhor filme contra ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998).
Anos depois, a história de que Harvey Weinstein, produtor executivo de ‘Shakespeare Apaixonado’, e que hoje está preso por uma série de crimes de abuso, viria à tona, revelando uma campanha agressiva com eleitores da Academia para dar vantagem a seu filme na disputa.
City of God
É verdade que Cidade de Deus (2002) não disputou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas o longa-metragem participou de forma forte no Oscar de 2004.
Contando a história de três jovens negros que passam por vidas cercadas de violência, pobreza e criminalidade nas ruas da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, o, hoje muito mais famoso, ‘City of God’, como é conhecido lá fora, disputou um total de quatro estatuetas: Melhor Direção, para Fernando Meirelles, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia.
Apesar da expressiva participação, o filme brasileiro teve concorrência pesada e perdeu, em três destes prêmios, para o colossal ‘O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei’ (2003). Mas nem tudo foi negativo. Anos após seu lançamento, Cidade de Deus passou a encabeçar uma série de listas, brasileiras e estrangeiras, de melhor filme a nunca ter sido premiado com uma única estatueta do Oscar, confirmando que o impacto, e legado, da história de Zé Pequeno, Bené e Buscapé será para sempre.
Onde assistir ao Oscar?
O Oscar 2025 será no próximo domingo, dia 2 de março, às 21h. No Brasil, a transmissão será feita pela Globo, na TV aberta, na TNT, na TV fechada e na HBO Max, pelo streaming.