Dando continuidade à minha intenção de mostrar aos brasileiros, as invenções e os talentos portugueses como já fiz em algumas colunas passadas, essa coluna traz um estilista português que admiro muito, não só por conta do talento extraordinário, mas por ser uma pessoa que também tem uma ligação muito forte com o Brasil. Afinal o talento atravessa fronteiras, não?
Para começo de conversa, ou melhor, dessa coluna, e para quem ainda não o conhece, Nuno nasceu em Lisboa em 1974 e tem uma trajetória na arte de criar roupas há muito tempo, arriscaria dizer desde muito criança. Segundo contam os familiares, na infância, era chamado de o menino das agulhas, pois adorava costurar.
Se o talento e o dom eram inevitáveis, Nuno seguiu sua saga pessoal e licenciou-se em Design de Moda na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa. Ao longo de sua carreira, realizou vários trabalhos para a dupla de criadores portugueses Alves/Gonçalves, onde atuou como assistente até 2013.

Nuno morou no Brasil, mais precisamente em São Paulo, por 6 anos e durante essa estadia, acabamos nos conhecendo. Na verdade, várias coincidências fizeram com que nossos caminhos se cruzassem, e desde então, posso dizer que nossa amizade tem se consolidado enquanto acompanho sua trajetória de sucesso.
Conhecido por fazer inesquecíveis vestidos de noiva, em 2018, Nuno apresentou sua coleção no evento Bride Style, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, quando teve início a parceria com a criadora portuguesa Alexandra Fructuoso da Maison Alexandrine.

De volta a Portugal em 2019, no ano seguinte ele abriu um atelier próprio em Lisboa, na emblemática Avenida Infante Santo. De lá para cá, o espaço tornou-se endereço obrigatório onde a sociedade lisboeta e renomados artistas se encontram em busca de peças de autor de uma elegância nada óbvia.
Se o ex-libris sempre foi a criação de vestidos de noite e de noivas, Nuno vem, desde 2020, apostando no pret-a-porter, com o mesmo sucesso de sempre. As peças casualmente chics vão desde a famosa minissaia Madrid, confecionada em tule, que virou coqueluche em Lisboa, até os modernos hoodies com canutilhos.

Para falar das coincidências interessantes que fazem parte da história da nossa amizade, a que mais gosto aconteceu em Castelo de Vide, local onde meu amigo decidiu casar-se com sua cara-metade.
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Como sou péssimo motorista, minha saída do Porto a Castelo de Vide foi planejada literalmente pelo WAZE, mas ao chegar na cidade o aplicativo deixou de funcionar.
Perdido, percebi que o carro à minha frente também estava na mesma situação: perdido numa aldeia portuguesa à procura do hotel onde aconteceria o evento. Para sair dessa confusa situação, desço do carro para pedir sua ajuda e, para minha surpresa, reencontro um amigo da adolescência que não via há mais de trinta anos. Mais ironicamente ainda, descubro que ele morava a um quarteirão da minha antiga casa em São Paulo sem que nunca tivéssemos nos encontrado no bairro. Mas lá estávamos os dois, numa aldeia portuguesa com menos de três mil e quinhentos habitantes, indo ao casamento de amigos portugueses que conhecemos no Brasil.

Nuno ainda tem outras atividades paralelas e fez trabalhos de restauro de peças da coleção de moda de Francisco Capelo e figurinos para teatro, como a peça “As Malditas” no Teatro Tivoli em Lisboa e para óperas como “Carmen” de Bizet, “Nabucco” de Verdi e “O Barbeiro de Sevilha” de Rossini, produzidas e encenadas pela Orquestra do Norte.
Também criou os figurinos para a ópera Trilogia das Barcas de Joly Braga Santos assim como a coordenação de óperas no Teatro Nacional de São Carlos como La Bohème, Trovador, Madame Butterfly, Andrea Chénier, Falstaff, entre outras.

Caso o leitor tenha se interessado em conhecer melhor o trabalho artesanal do atelier Nuno Velez sugiro uma busca na internet/site do artista ou que siga o Instagram @nunovelez_world_.