Pesquisadores da USP e de instituições parceiras realizaram um estudo evidenciando que mulheres com obesidade apresentam níveis significativamente menores de cobalto no sangue. O mineral, presente em alimentos como carnes, vegetais e chocolates, é componente da vitamina B12 e essencial ao metabolismo humano. Os dados levantam uma nova hipótese sobre o papel do cobalto na regulação de processos biológicos associados à obesidade.
O estudo que correlaciona a obesidade com os níveis de cobalto, publicado na revista científica Obesities, analisou 33 mulheres brasileiras — 16 com obesidade e 17 com índice de massa corporal considerado normal. Os cientistas observaram que, além da menor concentração de cobalto no grupo com obesidade, também ocorreram alterações na metilação do DNA, processo epigenético que regula a expressão dos genes.
Segundo os autores, essa deficiência pode estar ligada tanto a padrões alimentares pobres em nutrientes quanto a desequilíbrios metabólicos típicos da obesidade. A doutoranda Natália Yumi Noronha, da FMRP-USP, explica que mesmo dietas com alto teor calórico podem ter baixo valor nutricional, o que compromete a presença de minerais essenciais como o cobalto.
Metilação do DNA e impactos epigenéticos
O grupo também identificou diferenças nos padrões de metilação do DNA entre as participantes, o que reforça a hipótese de que o cobalto influencia a regulação de genes envolvidos no metabolismo, no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e no diabetes tipo 2. A professora Carla Barbosa Nonino, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, destaca que os mecanismos epigenéticos podem ser modulados por fatores como alimentação, sono e atividade física.
Para Carla, a epigenética é uma ferramenta relevante para investigar a obesidade sob o ponto de vista das interações entre genética e ambiente. Segundo ela, padrões alimentares específicos podem ativar ou inibir genes ligados ao ganho de peso, sendo a metilação uma via de modulação possível.
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Próximos passos: diversidade genética e novas amostras
Segundo divulgado, a equipe responsável pretende ampliar os estudos, incluindo indivíduos com diferentes condições de saúde e perfis genéticos. A pesquisadora afirma que há uma lacuna de conhecimento sobre os efeitos da epigenética em populações miscigenadas, como a brasileira. Para isso, os cientistas estão utilizando análises de bioinformática para identificar a ancestralidade das participantes e avaliar como diferentes origens geográficas podem influenciar na expressão gênica.
O trabalho contou com a colaboração de equipes da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, da Universidade de Lisboa e do professor Fernando Barbosa Jr., da FCFRP-USP. O projeto recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e integra um esforço maior de investigação sobre o exposoma humano e seus efeitos na saúde ao longo da vida.