Os advogados de Thiago Arruda Campos Rosa, de 32 anos, acusado de dirigir o carro que atropelou e matou o cantor Adalto Mello, de 39, em São Vicente, na Baixada Santista, apresentaram à Justiça um laudo pericial particular. A defesa argumenta que o acidente foi causado por problemas externos, como falhas na sinalização e na iluminação da via, e pede que o caso seja tratado como homicídio culposo, e não como homicídio doloso.
De acordo com o laudo, ao qual o VTV News teve acesso exclusivo, Thiago não teria visto a vítima até momentos antes do impacto, o que teria dificultado qualquer reação para evitar o atropelamento. Os advogados afirmam que esses fatores externos foram determinantes e reforçam que o bancário não agiu com intenção de matar, buscando reclassificar a acusação.
Por outro lado, a advogada Sabrina Dantas, que representa a família de Adalto, contesta a versão apresentada pela defesa. Ela destaca que o processo ainda está em fase inicial, com laudos pendentes e testemunhas a serem ouvidas, mas aponta elementos que, segundo ela, comprovam a imprudência de Thiago, como a alta velocidade e o consumo de álcool, indicando dolo eventual na conduta do réu.
A advogada também afirmou que o laudo apresentado pela defesa será contestado. Segundo ela, o documento tenta desviar o foco das evidências já apresentadas, como a alta velocidade, a embriaguez e a imprudência de Thiago no momento do atropelamento.
Omissão de socorro
Além da acusação de homicídio doloso, foi instaurado um novo inquérito para apurar a omissão de socorro por parte dos ocupantes do carro. Três pessoas que estavam com Thiago no momento do acidente confessaram que haviam consumido bebidas alcoólicas durante o dia, mas alegaram que não tiveram a intenção de omitir socorro.
Segundo Sabrina, as imagens de monitoramento contradizem essa versão, mostrando que o grupo fugiu do local imediatamente após o atropelamento. “Esses comportamentos evidenciam a gravidade das ações e a tentativa de se eximirem de responsabilidades”, declarou a advogada. Ela reforçou que a omissão de socorro agrava a conduta já imprudente do réu.
Outro ponto destacado pela defesa de Adalto é o histórico de multas do réu. Thiago acumula 26 infrações por excesso de velocidade, o que, segundo Sabrina, demonstra um padrão de comportamento irresponsável no trânsito. “Esses registros deixam claro que ele está habituado a desrespeitar os limites e coloca vidas em risco”, afirmou.
O que diz a defesa de Thiago Arruda?
A defesa refuta completamente a acusação de homicídio qualificado com dolo eventual, argumentando que as circunstâncias e a dinâmica do acidente indicam o contrário. Para Mário Badures, que representa Thiago, as imagens de monitoramento mostram uma ultrapassagem imprudente pela direita, sem que o motorista tivesse a intenção ou previsse a morte de Adalto.
Badures afirmou, em nota, que aguarda o reconhecimento da modalidade culposa, alinhada à corrente majoritária das Cortes Superiores. Além disso, informou que a defesa tentou estabelecer um acordo financeiro com os advogados da vítima para cobrir os gastos e despesas, mas “até o momento não houve interesse em um diálogo fora do âmbito judicial”.
MP denuncia homem que atropelou e matou cantor de pagode no litoral de SP
O promotor de justiça Manoel Torralbo Gimenez Júnior, do Tribunal do Júri de São Vicente, denunciou por ‘homícidio doloso‘ o bancário Thiago Arruda Campos Rosas, de 32 anos, acusado de causar a morte do cantor de pagode Adalto Mello, 39, em um acidente de trânsito na madrugada do último 29 de dezembro.
De acordo com o inquérito policial, Thiago estava embriagado, com o índice de 0,82 mg/l no bafômetro, mais de duas vezes o limite legal. O acidente aconteceu na Avenida Tupiniquins, no bairro Japuí, por volta das 2h38, quando Thiago, conduzindo um veículo Kia Sportage, atingiu a moto Honda Lead 110 pilotada por Adalto.
Denúncia
Segundo a denúncia, feita em 16 de janeiro, o bancário foi flagrado dirigindo de ‘maneira incompatível’ com as condições da via pública de pista simples e mão dupla. Ao ultrapassar um veículo pela direita e subir na calçada, ele atropelou Adalto, que ‘trafegava regularmente em sua motoneta’, sem ter qualquer possibilidade de reação.
O promotor destacou que, ao agir de ‘modo imprudente’, Thiago assumiu o risco de causar a morte do cantor – e de outras pessoas que pudessem estar no local. A velocidade excessiva e a ultrapassagem arriscada resultaram em uma colisão com a traseira da moto, arremessando a vítima a vários metros de distância.

Em sua argumentação, o promotor também aponta que a atitude do acusado gerou um perigo comum, impedindo que a vítima tivesse qualquer chance de defesa. Isso reforça a qualificação do homicídio, conforme os artigos 121, § 2º, incisos III e IV do Código Penal, que tratam das circunstâncias agravantes.
Thiago não estava sozinho no carro
A polícia ouviu apenas o bancário formalmente. Entretanto, imagens obtidas pelo VTV News revelaram que mais pessoas estavam no carro envolvido no atropelamento. A defesa de Adalto identificou outros ocupantes no veículo, que não prestaram depoimento; Thiago ficou para trás e assumiu a direção.
Diante disso, o promotor solicitou ao Ministério Público (MP) que a autoridade policial realizasse diligências para ouvir as demais pessoas que estavam no veículo no momento dos fatos. Em depoimento à Polícia Civil de São Vicente, um estudante de 20 anos, testemunha do acidente, relatou detalhes da madrugada de 29 de janeiro.
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O jovem disse que estava no carro com dois amigos – incluindo o bancário – após uma confraternização em Santos, e que todos haviam consumido bebidas alcoólicas em um bar de Praia Grande. Segundo o depoente, Thiago Arruda, que dirigia o veículo, parecia estar em ‘condições normais’ para conduzir.
‘Distração’
De acordo com a testemunha, o acidente teria ocorrido quando Thiago se distraiu ao procurar algo no console do carro, quase bateu em outro veículo e, ao desviar, perdeu o controle e atingiu a moto da vítima.
O estudante afirmou que Thiago não dirigia em alta velocidade. Além disso, contou que saiu do carro em estado de choque, viu a movimentação de pessoas no local e o ‘desespero’ de Thiago para socorrer a vítima. Por fim, afirmou não ter acionado o socorro por ouvir em um posto de gasolina que a ambulância estava a caminho.

Cantor Adalto Mello morre atropelado; relembre o caso
O acidente ocorreu quando Adalto Mello pilotava sua motocicleta e foi atingido por um Kia Sportage, conduzido em alta velocidade por Thiago Arruda. Thiago ultrapassou um veículo que estava atrás da moto pela direita, subindo na calçada, antes de colidir com a vítima, causando o impacto fatal.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorreu Adalto rapidamente, mas ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Após o acidente, Thiago foi preso em flagrante e levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Praia Grande.
Em audiência de custódia, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou a conversão da prisão em preventiva, mantendo-o detido enquanto o processo judicial está em andamento.
Sigilo negado
A defesa de Thiago havia solicitado o sigilo dos autos no dia 31 de dezembro, alegando que a medida evitaria prejuízos aos envolvidos na investigação. Entretanto, o promotor de Justiça, Carlos Eduardo Viana Cavalcanti, se manifestou contra, argumentando que não havia elementos concretos que justificassem o sigilo.
O juiz Eduardo Hipólito Haddad, responsável pela decisão, destacou a importância da atuação da imprensa, afirmando o papel relevante na disseminação de informações e na vigilância da transparência das instituições.
Em análise, disse que não havia abuso na cobertura do caso pela mídia, e a publicidade dos atos não representaria risco à segurança de Thiago. Assim, o pedido de segredo de justiça foi negado.
Pesar
Por meio de nota, o advogado de defesa de Thiago, Mario Badures, declarou pesar pelo acidente que resultou na morte de Adalto de Almeida. Segundo ele, o episódio é ‘marcado pela dor e sofrimento de ambas as famílias envolvidas’, mas reforçou que não houve intenção ou previsão.
Quem era o cantor de pagode Adalto Mello, que morreu atropelado em São Vicente?
Cantor e compositor de pagode, Adalto se apaixonou pela música ainda na infância. Aprendeu a tocar cavaco observando seu pai e, desde jovem, se dedicou à carreira musical, se apresentando em eventos e comércios, segundo a família.
Além do talento musical, se formou em Educação Física e trabalhou em várias empresas ao longo de sua vida. Apesar disso, nunca abandonou o seu amor pela música, sempre conciliando o trabalho com os ensaios e apresentações à noite. Para ele, a música era um sonho a ser vivido, e não apenas uma fonte de dinheiro.
Aos 10 anos, Adalto deixou um filho, que estava com ele nas férias quando o cantor faleceu. A mãe do artista, Carla, destaca que o filho era apegado à família e procurava transmitir amor e bondade a todos ao seu redor. Fãs, amigos e familiares lembrarão de Adalto pela dedicação à música e sua fé.
“Desde quando me entendo por gente, desde criança, eu já toco pagode e samba. Meu pai e minha mãe sempre curtiram música. Meu pai era de escola de Samba de Santos. Meu primo tocava em grupo de pagode”, disse o cantor em entrevista à VTV SBT.