Os cuidados para prevenção à febre maculosa em Campinas precisam ser reforçados pelo menos até novembro. Isso porque o período desde maio é marcado por dias seguidos de baixa umidade relativa do ar, condição climática em que há maior predomínio das fases jovens do carrapato-estrela no ambiente, conhecidas como “micuim” (larvas) e “vermelhinho” (ninfas), o que aumenta o risco de transmissão e ocorrência da doença.
A febre maculosa é uma doença grave, com alta letalidade, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. A infecção se dá pela picada do carrapato-estrela infectado com esta bactéria. Na fase jovem, ele pode parasitar qualquer animal, inclusive o ser humano, que frequenta áreas com vegetação, especialmente onde há cavalos, capivaras e outros animais silvestres.
A Secretaria de Saúde registrou um caso com desfecho em óbito em maio, e confirmou nesta quinta-feira, 26 de setembro, um segundo caso que ocorreu em junho, mas evoluiu para cura. Este novo registro é de um homem de 51 anos, morador do Jardim Eulina, área de transmissão e sinalizada para cuidados. O início dos sintomas foi em 10 de junho.
Em 2023 foram contabilizados 20 casos, 17 com transmissão no município, e sete óbitos.
O que está sendo feito?
O município realiza ações educativas de forma contínua para sensibilização das equipes de saúde e da população sobre o tema. Desde o início de 2023 foram realizadas 214 ações, sendo 93 delas neste ano. A lista reúne palestras, oficinas e capacitações.
Para reforçar a prevenção à febre maculosa nos próximos meses, a Prefeitura iniciou nesta semana a primeira etapa do manejo para controle reprodutivo das capivaras que vivem livremente nos parques públicos da cidade. Trata-se da etapa de “ceva”, alimentação controlada dos animais em locais e horários específicos com objetivo de captura do grupo.
O manejo reprodutivo visa combater a transmissão da febre maculosa por meio da redução de nascimentos de filhotes. Nesta fase do projeto serão esterilizadas aproximadamente 200 capivaras que vivem livremente no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), Lago do Café, Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim e Parque das Águas. A gestão do projeto é da Secretária do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas).
Já a Secretaria de Saúde mantém monitoramento constante sobre a doença e, no início deste mês, realizou uma série de orientações para a comunidade ligada a uma escola particular na região do Taquaral, onde foram registradas ocorrências de parasitismo pelo carrapato-estrela em nove estudantes. Todas estão bem, mas uma delas chegou a apresentar febre à época e, por isso, o caso é tratado como suspeita para febre maculosa. Vale destacar que outras doenças em que a febre é sintoma também são consideradas.
Ações educativas
Neste ano, destaca-se a parceria da Administração com a Faculdade São Leopoldo Mandic, em que, pelo terceiro ano consecutivo, os alunos do primeiro semestre do curso de medicina são capacitados sobre o tema e trabalham na prática a abordagem junto à população em locais estratégicos com grande circulação de visitantes, como parques e unidades de saúde.
A Prefeitura mantém uma página na internet que reúne uma série de informações sobre a febre maculosa, incluindo explicações sobre a doença, perguntas e respostas, manual para prevenção em locais com presença de carrapatos, manual para os profissionais da área de segurança do trabalho, material educativo de divulgação para a população, conteúdo para gestores e profissionais de saúde, além de boletim epidemiológico e painel de monitoramento. Há ainda ressalva para a Lei Municipal 16.418/2023, que dispõe sobre a obrigatoriedade de os estabelecimentos, produtores, promotores e organizadores de eventos realizados em locais sujeitos à presença do carrapato-estrela informar sobre o risco de febre maculosa brasileira.
Sintomas e busca por assistência
Os sintomas iniciais são febre, dor de cabeça e dor no corpo, com piora progressiva e surgem de dois a 14 dias após a picada do carrapato infectado, podendo ser confundidos com outras doenças, como dengue, leptospirose, gripe e covid-19.
A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado logo nos primeiros dias de sintomas para evitar agravamento e possível óbito. É importante evitar contato direto com vegetação, principalmente perto de rios, córregos e lagoas, utilizar roupas e calçados que cubram o corpo e ficar atento para retirar rapidamente eventuais carrapatos aderidos à roupa e ao corpo.
Caso a pessoa apresente febre entre dois a 14 dias após frequentar áreas verdes, a pessoa deve procurar imediatamente um serviço de saúde e informar que esteve em local onde o carrapato-estrela pode estar presente. Com isso, a Saúde ressalta a importância de não banalizar sintomas, uma vez que o tratamento oportuno é imprescindível para salvar vidas.
Dez dicas para evitar a doença
Quem visita, trabalha ou mora em área de risco para febre maculosa – próximo a matas, rios e parques com áreas verdes – pode seguir as seguintes medidas de prevenção:
- O carrapato-estrela é encontrado naturalmente em gramados e matas, em especial nas áreas próximas a rios, lagos e lagoas. Se estiver contaminado, pode transmitir a bactéria que causa a febre maculosa;
- Evite caminhar, sentar e deitar na grama e nos locais com acúmulo de folhas secas caídas. Os carrapatos se concentram em áreas de sombra;
- Evite se aproximar de rios, lagos, lagoas e dos animais presentes no local;
- Faça piquenique, comemoração, ensaio fotográfico e atividade física nas áreas pavimentadas;
- Use roupas claras, observe o corpo e as roupas. Se algum carrapato chegar até você será mais fácil enxergar;
- Use repelente com eficiência comprovada contra carrapatos. Passe na pele exposta, sapato e roupa;
- Encontrou um carrapato aderido na pele? Retire com cuidado, sem esmagar, de preferência usando uma pinça e lave o local com água e sabão;
- Em casa, tome banho quente e use bucha vegetal fazendo movimento circular. Se tiver algum carrapato na pele, a bucha ajuda a retirar;
- Ao visitar áreas verdes e parques da nossa cidade, respeite as orientações das placas de informação;
- O carrapato de cachorro não é da mesma espécie do carrapato-estrela. Porém, se o seu pet frequenta área de risco, ele pode ser infestado pelo carrapato-estrela e levá-lo para casa.