A Frente Parlamentar de Portos e Aeroportos promoveu, nesta semana, em Brasília, um importante evento voltado para discutir os desafios da dragagem no Brasil, com foco no desenvolvimento e na modernização das infraestruturas portuárias do país. O evento reuniu autoridades do setor público, representantes da iniciativa privada e especialistas em infraestrutura aquaviária, que debateram os entraves que afetam a eficiência e a competitividade dos portos brasileiros.
O encontro aconteceu na sede do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), e os participantes discutiram principalmente questões ligadas à dragagem de manutenção e de aprofundamento dos portos, essenciais para o bom funcionamento do setor portuário. Além disso, o evento abordou brevemente o potencial das hidrovias no Brasil como uma alternativa ao transporte rodoviário, mas o foco principal foi o aprimoramento da dragagem.
Dragagem no centro das discussões
A dragagem foi o tema central dos debates, já que essa atividade é fundamental para garantir a profundidade adequada dos portos e permitir que embarcações de grande porte possam atracar com segurança. Atualmente, os desafios para a realização de dragagens no Brasil são grandes. Durante o evento, especialistas apontaram que, no cenário atual, as dragagens de manutenção enfrentam dificuldades devido a questões administrativas, enquanto as dragagens de aprofundamento esbarram na falta de recursos financeiros.
Em entrevista ao VTV News, o presidente do IBI, Mário Povia, destacou a importância da dragagem para a competitividade dos portos brasileiros. “A dragagem é algo crucial para a infraestrutura de transportes, principalmente no setor portuário e hidroviário. Precisamos discutir a necessidade de melhorias e entender como o governo e o setor privado podem trabalhar juntos para enfrentar os desafios que temos pela frente”, afirmou Povia.
Povia também falou sobre os entraves administrativos que dificultam a realização das dragagens de manutenção, apontando a falta de uma governança eficiente como um dos principais problemas. “A dragagem de manutenção deveria ser uma responsabilidade direta das autoridades portuárias e dos operadores privados, mas temos enfrentado uma série de dificuldades administrativas e judiciais que atrasam ou impedem a execução dessas obras essenciais. É uma questão que precisa ser resolvida com urgência”, completou.
Outro ponto abordado por Povia foi a necessidade de investimentos em dragagens de aprofundamento, que permitem a recepção de embarcações maiores. No entanto, ele destacou que não há previsão orçamentária para essas intervenções no curto prazo. “Atualmente, estamos sem orçamento para esses investimentos, o que é preocupante. Precisamos buscar alternativas, como parcerias público-privadas, para garantir que nossos portos possam receber navios de maior calado e aumentar sua competitividade internacional”, concluiu.
O papel das hidrovias no transporte de cargas
Embora a dragagem tenha sido o principal tema do evento, as hidrovias também foram mencionadas como um modal importante para o transporte de cargas no Brasil. Durante os debates, representantes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) e do Ministério de Portos e Aeroportos discutiram projetos de modernização das hidrovias do país, como o Rio Madeira e o complexo Paraná-Paraguai.
Mário Povia falou sobre a importância de transformar rios navegáveis em hidrovias e como isso poderia ajudar a reduzir os custos logísticos no Brasil. “A transformação de rios navegáveis em hidrovias é uma agenda de mais de uma década. Temos uma expectativa bastante positiva para esses projetos, mas é importante lembrar que isso depende de uma série de fatores, incluindo a modelagem e o interesse do setor privado”, disse Povia ao VTV News.
Especialistas discutem soluções para o setor
O evento foi dividido em quatro painéis que trouxeram à mesa representantes de várias instituições e empresas do setor. O primeiro painel abordou a modernização dos portos e contou com a participação de Alex Sandro Ávila, Secretário de Portos, e Flávia Takafashi, Diretora da ANTAQ. O segundo painel trouxe discussões específicas sobre os desafios da dragagem, com a participação de Dino Antunes,
Secretário Nacional de Hidrovias, e Dieter Dupuis, Diretor-Geral da Jan De Nul no Brasil, que discutiram a importância de garantir recursos e governança adequada para essas operações.
No terceiro painel, especialistas discutiram os projetos hidroviários em andamento no Brasil, enquanto o quarto painel focou nos modelos de governança para os portos, com a participação de Luiz Fernando Garcia, presidente da Portos do Paraná, e Cleverton Elias Vieira, da SCPAR Porto de São Francisco do Sul.
O futuro das dragagens e a competitividade dos portos brasileiros
O consenso entre os participantes é que, para que o Brasil continue a ser competitivo no cenário internacional, é necessário superar os obstáculos que ainda dificultam as dragagens nos portos. Entre os desafios apontados estão a judicialização de processos licitatórios, as dificuldades de gestão nas autoridades portuárias e a falta de recursos para investimentos em dragagens de aprofundamento.
Para resolver esses problemas, as parcerias público-privadas surgem como uma solução viável, possibilitando que o setor privado contribua com os investimentos necessários para a realização das dragagens, enquanto o governo foca na governança e na regulamentação do setor.
O evento promovido pela Frente Parlamentar de Portos e Aeroportos, em parceria com o IBI, destacou os desafios e as oportunidades que o setor portuário brasileiro enfrenta, especialmente no que diz respeito à dragagem. Com expectativas positivas para a modernização das hidrovias e dos portos, os participantes demonstraram otimismo quanto ao futuro do transporte de cargas no Brasil, desde que os entraves administrativos e financeiros possam ser superados.