Repensados e desconstruídos, os relacionamentos tradicionais – a dois, como observamos por aí – estão dividindo espaços com a ‘não monogamia’, que se apresenta como uma alternativa para casais que estão em busca de novas formas de conexão emocional e sexual.
Recentemente, o aplicativo Ashley Madison, especializado em encontros fora dos padrões convencionais, divulgou uma pesquisa que confirmou: a tendência está cada vez mais popular em várias cidades do Brasil, incluindo Campinas, onde ‘abrir as portas’ pode tornar relacionamentos mais saudáveis.
De acordo com a plataforma, 20 cidades brasileiras se destacam na adesão ao estilo de vida. Confira:
- Florianópolis
- Porto Alegre
- Joinville
- Contagem
- Londrina
- Ribeirão Preto
- Sorocaba
- Guarulhos
- São José dos Campos
- Cuiabá
- Osasco
- Uberlândia
- Curitiba
- Manaus
- Fortaleza
- Belo Horizonte
- Rio de Janeiro
- Salvador
- Campinas
- Natal
Não é segredo que, no passado, a ideia de relacionamentos abertos ou poligâmicos eram vistos como um tabu. Porém, hoje, as fronteiras se expandem, e, em muitas regiões do país, a flexibilidade nos relacionamentos se torna uma escolha cada vez mais presente no cotidiano de muitos casais.
Isabella Mise, diretora sênior de comunicação do Ashley Madison, explica que a busca por novas experiências e conexões emocionais é algo natural do ser humano. “A diversidade de cidades presentes na lista, como Florianópolis, Ribeirão Preto e Curitiba, indica que o interesse por relações não monogâmicas transcende fronteiras regionais e culturais”, destaca.
Entenda o que é monogamia, não monogamia e poligamia
À VTV News, a psicóloga e terapeuta sexual Márcia Atik, com 38 anos de experiência, falou sobre as diversas formas de relacionamento e os desafios emocionais e afetivos envolvidos, e explicou as diferenças entre os conceitos.
A monogamia, tradicionalmente, é o combinado entre duas pessoas que se dedicam exclusivamente uma à outra. Já a poligamia envolve o relacionamento de mais de duas pessoas, formando uma união fechada e permanente, o que é ilegal no Brasil”, explica.
No Brasil a poligamia é considerada crime pelo Código Penal Brasileiro, com pena máxima de 3 anos, para quem compartilha o cônjuge, e a 6 anos, para quem tem vários cônjuges, mas isso não impediria um relacionamento aberto, que permite que os parceiros tenham relações afetivas e sexuais com outras pessoas, sem estabelecer um vínculo fechado.
Portanto, o não monogâmico seria alguém que adere a essas práticas mais ‘flexíveis e dinâmicas’, onde a relação amorosa não se limita apenas à exclusividade entre duas pessoas, mas sim à liberdade de explorar conexões afetivas e sexuais fora do relacionamento, desde que com respeito e entendimento compartilhado.
O que se classifica como um relacionamento aberto?
A terapeuta acredita que, independentemente do formato do relacionamento, todos os envolvidos precisam ter um “contrato de permissão”.
Isso significa que todos devem estar de acordo com a convivência, sem imposições. A falha nesse entendimento pode resultar em frustrações.
“Eu atendi um casal que decidiu tentar o swing. Eles fizeram isso umas três vezes, mas na quarta tentativa, um dos parceiros se sentiu incomodado. Isso é muito comum, porque, na teoria, a ideia parece atraente, mas na prática, pode gerar desconforto”, conta.
Quando isso acontece, é essencial que o casal tenha uma conversa séria sobre os limites e as expectativas de cada um. “Se um dos parceiros não aceita, o relacionamento não será saudável. É um reflexo de como a comunicação e o entendimento mútuo são cruciais para qualquer tipo de relacionamento”.
O que leva uma pessoa a aderir esse tipo de relacionamento?
Segundo Márcia, a necessidade está, muitas vezes, presente em casais que buscam evitar frustrações.
“A busca incessante pela plenitude afetiva e sexual é, na verdade, um reflexo de uma imaturidade emocional. O adulto, ao longo de seu desenvolvimento físico e emocional, precisa aprender a lidar com as frustrações. Muitas vezes, as pessoas que buscam relacionamentos abertos ou não monogâmicos estão tentando escapar de sentimentos como a frustração e a insegurança. Elas querem gratificação instantânea e, muitas vezes, isso é uma manifestação de imaturidade emocional. Não saber lidar com as frustrações naturais de um relacionamento pode ser um obstáculo para a construção de uma convivência saudável e equilibrada.”
Márcia ainda destaca que a cultura popular tem influenciado a forma como essas relações são vistas, especialmente quando se trata de um trisal envolvendo um homem e duas mulheres.
Ela aponta que há uma tendência machista, onde a dinâmica sexual é muitas vezes associada à aparência física e ao corpo da mulher. No entanto, lembra que também é possível um trisal homoafetivo, mas ressalta que, mesmo nestes casos, a equidade entre os parceiros nem sempre é alcançada, com ‘dois deles formando um vínculo mais forte, e o terceiro se agregando à relação’.
Como lidar com o desejo (ou a proposta) da não monogamia?
A psicóloga acredita que, na prática, o ideal é que os casais se comuniquem abertamente sobre seus desejos e expectativas.
Ela reforça que o que pode parecer ‘moderno’ e ‘bonito’ na teoria, como a busca por relações não monogâmicas ou o desejo de múltiplos parceiros, muitas vezes esbarra na imaturidade emocional, já que as pessoas muitas vezes querem viver experiências imediatas de satisfação.
Para ela, qualquer mudança nas dinâmicas de relacionamento deve ser vista como um “adendo” ao contrato existente entre as pessoas. Assim como em qualquer outro acordo, a frustração e a negociação são partes essenciais no processo de construção de uma convivência saudável.
Se o futuro dos relacionamentos será ou não dominado pela não monogamia, ainda é uma questão a se observar, mas uma coisa é certa: as fronteiras do amor estão se expandindo, e o Brasil está cada vez mais aberto a novas possibilidades de conexão afetiva, desde que haja respeito mútuo.