“Liga a seta!” – gritou um menino, enquanto outra voz infantil completava: “O farol!”. No instante seguinte, o carro começou a dar ré. O grupo de crianças percebeu o perigo e, em pânico, correu para salvar suas vidas.
A cena, digna de um pesadelo, aconteceu na Rua Humberto Ladalardo, no bairro Savoy, em Itanhaém, no último sábado (30). O motorista, identificado como um policial militar aposentado, de 61 anos, sacou uma arma e disparou contra as crianças após o comentário sobre o veículo.
Embora nenhum dos tiros tenha atingido os pequenos, o trauma deixado pelo ato de violência é incalculável, como classificam os pais em entrevista à VTV, emissora afiliada do SBT na Baixada Santista.
Episódio devastador
A mãe de uma das crianças ainda tenta processar o que aconteceu. “Nunca tinha acontecido nada parecido aqui. As crianças brincavam livremente. Eu brinco com elas quando posso, mas naquele dia estava trabalhando. O que esse homem fez foi um absurdo. Ele voltou, sacou a arma e atirou. Graças a Deus os dois primeiros tiros falharam, porque, se não, poderiam ter atingido outras crianças.”
Embora ela tenha preferido não se identificar, revelou que a revolta tomou conta. “Agora, ele está solto e as crianças estão presas em casa. Minha filha tem pesadelos, e não sabemos como será o psicológico delas daqui para frente.”
Outro pai, também com identidade preservada, relatou o impacto do episódio na família.
“Minha filha chegou em casa tremendo, sem conseguir falar. Minha esposa teve que insistir até ela contar o que aconteceu. Estamos muito assustados. Ela ainda não consegue falar disso sem chorar.”
Confiança reconstruída
O medo agora domina as ruas onde antes as brincadeiras eram a principal atividade. “A gente nunca imaginou algo assim. Sempre foi um lugar seguro, mas agora temos receio de deixar as crianças saírem. Os outros pais sentem o mesmo. Antes, todos brincavam juntos. Hoje, o silêncio tomou conta”, lamentou o terceiro pai.
Ele destaca o apoio dos vizinhos, mas reforça que o sentimento de insegurança não diminui. Agora a expectativa das famílias recai sobre as autoridades.
“Nós queremos justiça. O que aconteceu foi grave demais. Atirar já é algo inconcebível, mas contra crianças é ainda pior. Ele precisa responder pelo que fez. E se tivesse acertado alguém? Estamos vivendo com essa dúvida e medo constante de que algo assim aconteça de novo”, declarou um dos pais, que também pediu mais atenção ao bairro por parte da polícia.
Enquanto aguardam respostas, os pais tentam reconstruir a confiança dos filhos. “Eu sempre ensinei minha filha a ficar atenta, a sair correndo se algo estranho acontecer, e acho que foi isso que salvou ela. Mas agora, como faço para ela voltar a brincar na rua? Como faço para ela se sentir segura de novo?”, questiona a mãe.
O que diz a SSP?
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o suspeito compareceu à delegacia na segunda-feira (2) para prestar depoimento e apresentar a arma utilizada no incidente, que foi apreendida para perícia.
Outros detalhes do caso estão sendo preservados para garantir a autonomia do trabalho policial. A reportagem continuará acompanhando o caso e trará atualizações assim que disponíveis.
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