O tempo parece ter parado para a mãe de Brenda Bulhões. Desde a última sexta-feira (29), quando a jovem, que completaria 27 anos na próxima segunda (9), foi assassinada em frente ao próprio salão de beleza em Guarujá, a dor e o vazio se tornaram companhias constantes.
Sete dias se passaram, mas o suspeito do crime continua foragido, enquanto a mãe revive memórias de um ciclo de violência que parecia não ter fim.
“Ele era um agressor, tinha um ciúmes doente”, a mãe de Brenda desabafou em entrevista à VTV, emissora afiliada do SBT na Baixada Santista. O relacionamento entre a filha e o ex-namorado, que agora é apontado como principal suspeito pela Polícia Civil, foi marcado por episódios de controle, brigas e agressões.
Relacionamento ‘perigoso’
Segundo a mãe, ele não aceitava que ela tivesse liberdade, nem mesmo para ir ao banheiro sozinha durante festas. Esse comportamento ‘controlador’ do ex-namorado foi um fardo que Brenda carregou durante meses, até tomar a difícil decisão de terminar a relação.
Apesar dos alertas e tentativas de ajuda, Brenda ainda se sentia presa ao ex. “Ela dizia que tinha pena dele, que queria ajudá-lo, mas ele se mostrava sempre como uma vítima”, explica a mãe. O sentimento de culpa e a ideia de que poderia mudar a situação a mantinham no relacionamento ‘perigoso’.
“Ele quebrou o celular dela porque não quis abrir, ele queria controlar tudo, até as conversas”, relembra a mãe. As atitudes, cada vez mais abusivas, estavam afastando a empresária de amigos e familiares.
Perigo iminente
Em setembro deste ano, após o episódio do celular, Brenda decidiu romper o relacionamento, confome apurado pela reportagem, mas o homem passou a rondar a jovem, a segui-la em bares, a enviar mensagens obsessivas e a monitorar cada passo.
Amigos e familiares perceberam o perigo e tentaram alertá-la, mas a mãe admite que subestimou até onde ele poderia ir. Já o término, porém, não trouxe alívio – pelo contrário, foi o estopim de uma perseguição constante. “Eu senti medo, mas eu achava que ele ia [apenas] ficar perseguindo, batendo, fazendo vexame, inferno… mas nunca imaginei que ele fosse tão longe”, desabafa.
A violência não era segredo para aqueles próximos a Brenda. Testemunhas e amigas confirmaram a gravidade da situação e até a neta da mãe da vítima já havia presenciado brigas. “Quando eu falei sobre o que aconteceu, minha neta não teve dúvidas e disse: ‘Foi ele’. Eu tenho certeza absoluta”, afirmou a mãe, que viu o comportamento do suspeito piorar após o término.
“Mãe, eu sinto que não vou viver”
“Eu não sabia que ele estava ameaçando a minha filha, senão eu não deixaria ela ir”, a mãe diz, com uma mistura de culpa e tristeza. Dois dias antes da tragédia, Brenda comentou com o namorado sobre o medo que sentia de ser morta pelo ex-companheiro, mas a mãe não imaginava que o perigo fosse tão iminente.
A dor é palpável. “Eu cuidei dele como se fosse da família. Estive com ele no hospital, fiz comida, dei remédio”, ela conta. Mas, apesar dos cuidados, a dedicação não impediu o desfecho. “Ela tinha pena dele, mas não via o que ele estava fazendo”, lamenta a mãe.
15 dias antes, Brenda teve um pressentimento do que estava por vir. “Mãe, sei lá, sinto que não vou viver muito”, disse à mãe, que, na época, não deu a devida importância. “Briguei com ela, xinguei. Eu não queria acreditar no que ela estava falando”, admite. Quando desceu novamente, Brenda fez um pedido, querendo que o ex-namorado a esquecesse e fosse feliz com outra pessoa. A mãe ficou sem palavras.
A dor da saudade
Brenda sempre viveu intensamente, seja na alegria ou na raiva, e isso a tornava uma pessoa única. “Ela era felicidade, sabe? Se estava feliz, estava muito feliz. Se estava brava, estava com raiva”, diz a mãe, com saudade. “Ela adorava planejar festas, aniversários, sempre com muita energia.” Esse brilho, agora apagado pela tragédia, é o que a mãe mais sente falta, como um vazio que não pode ser preenchido.
“Eu me sinto morta por dentro”, revela. O filho, que compartilhava o mesmo dia de aniversário, está em choque, e o marido, ferido, guarda um ódio silencioso. “Ela era nossa ‘BB’, nossa vida”.
Embora a dor seja irreparável, a luta por justiça continua com firmeza. “Eu estou aqui de pé por causa da minha neta. Ela depende de mim, e eu não posso deixar esse homem escapar”, afirma, determinada a buscar justiça. “São sete dias, mas é muito tempo”, diz. “Ele deve estar sendo escondido, com pessoas que o ajudam. Elas também têm que pagar”.
Relembre o crime
Brenda foi abordada por um homem de capacete e uniforme de trabalho, cuja identidade ainda não foi confirmada, quando chegava ao trabalho, na Rua Pará, distrito de Vicente de Carvalho, às 8h18. A vítima recebeu pelo menos seis tiros, principalmente nas costas, de acordo com testemunhas.
Imagens de câmeras de segurança obtidas pela VTV News mostram o momento em que o criminoso dispara contra ela e foge em seguida. Mesmo com manobras de reanimação desferidas pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), a empresária não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Brenda deixou uma filha de 9 anos e o crime é investigado como feminicídio. Na segunda (2), a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) oficializou um pedido de prisão preventiva, que foi aceito pela Justiça, mas o suspeito ainda segue foragido.
A vítima havia planejado celebrar seu aniversário neste domingo (8), mas, após a tragédia, familiares e amigos decidiram usar a data para uma passeata em sua memória, pedindo justiça.
Veja também: