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Com um não binário no casal, família Coelho comemora Dia dos Pais em dose dupla

Respeito, cumplicidade e muito amor deixam a data quase mais especial que o Natal

Quando o pequeno Jorginho nasceu há quatro anos em Campinas, ele não sabia, mas já integrava um esquema familiar fora dos padrões impostos pela sociedade. Na filiação dele, aparecem o pai, André Coelho, e… o outro pai! Kumiho Coelho.

Isso porque Kumiho se identifica como não binário, mas não foi sempre desse jeito. Foi designado mulher ao nascer e viveu boa parte da vida como tal. Conheceu seu atual companheiro assim, mas ainda faltava alguma coisa. A cumplicidade e o respeito mútuo entre os dois foi o estopim para uma mudança radical e ousada.

“O masculino também não é 100% certo pra mim. Pelo menos não o que se entende como masculino na nossa sociedade de hoje. Na comunidade trans, essa questão de masculinidades plurais é muito debatida porque são pessoas que precisam estar pensando nisso o tempo todo, as questões são muito presentes. A minha escolha pelo rótulo de não binário é pra representar o fato de que não me identifico com todos os aspectos desse masculino que é imposto pra gente”, explica o veterinário Kumiho Coelho.

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“Falar que nunca teve nenhum problema é um exagero. Sempre tive relacionamentos tradicionais e me vi numa situação que eu não tinha controle. Foi um período de autodescoberta pra mim também. Eu aprendi a me entender junto com ele e hoje tenho muito orgulho do que ele conquistou e se tornou”, conta o companheiro de Kumiho, o coordenador pedagógico André Coelho. “Ele ficou uma pessoa mais serena e mais calma. Se amar é uma escolha, foi uma escolha muito acertada. A realidade foi melhor do que o sonho, imaginei uma coisa e a realidade é bem melhor “, acrescenta.

Kumiho inclusive conquistou esse direito que hoje está registrado em seu documento de identidade. “Antigamente só se conseguia fazer isso com uma ordem judicial e outros requisitos. Mas depois uma lei permitiu os cartórios a fazerem esse processo na esfera civil, porque entendiam que é uma questão de dignidade individual. Eu poder viver quem eu sou de verdade me tornou uma pessoa muito mais feliz e completa”, afirma.

Dia dos Pais em dose dupla

Falta pouco para um dos dias mais felizes do ano na casa da família Coelho. Depois do Natal, o Dia dos Pais é a data mais especial para André, Kumiho e Jorginho. É dia de amor em dobro, presentes em dobro, alegria e carinho em dobro.

“Nós dois somos os pais. Dentro do ambiente em que vivemos ninguém levanta isso como uma objeção. Somos muito gratos pela comunidade que abraçou a gente nesse aspecto. Isso poderia trazer consequências negativas para o Jorginho, mas ele é muito bem aceito. O fato do Dia dos Pais cair sempre no domingo é uma garantia de nós três estarmos juntos. Nós trocamos presentes pela manhã e depois vamos pro parque pra passear. Um domingo com carga emocional mais especial”, conta André.

O Dia dos Pais também traz “trabalho” dobrado para Jorginho na escola em que estuda, em Campinas. Lembrancinhas, cartinhas, desenhos… tudo é feito em dose dupla para garantir a alegria dos papais.

“Quando ele entrou na escola, desde o primeiro ano deixamos claro que ele não tem mãe, e sim dois pais. A escola nunca discutiu isso, foi super tranquilo, eles entenderam desde o começo e nunca foi um problema, inclusive com os colegas de escola”, complementa Kumiho.

Apesar de ter dois pais, Jorginho chama cada um de um jeito diferente. Enquanto André é o “papai”, Kumiho, que é descendente de coreanos, é o Appa (se pronuncia Apá: papai em coreano).

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“O Jorge ainda tava na barriga e a gente discutia como ia se apresentar. Eu disse que queria ser o papai, porque eu sempre sonhei com isso. Então a gente pensou: já que ele também é descendente de coreanos, porque não te chamar de Appa? Eu continuo sendo papai, então tá tudo certo!”, brinca André.

Rede de apoio

A transição de Kumiho para não binário teve um grande empurrão de uma rede de apoio que o casal segue na internet. Pessoas que passam por esses mesmos questionamentos, não se sentem felizes ou completos da maneira que vieram ao mundo e dividem conhecimento. Os desafios que enfrentaram, as barreiras que derrubaram e as conquistas para ajudar outros indivíduos.

“Desde 2013 seguimos amigos e grupos na internet que debatem a questão de gênero e desde o começo foi uma jornada de autodescobrimento. Esses debates ensinam a abordar esse tema com os filhos que estão crescendo. Todos que fazem parte desse meio passaram ou vão passar por isso”, diz Kumiho.

“Essa questão inclusive me ajuda como profissional. Como coordenador escolar, essa rede de apoio me dá ferramentas para compreender professores de outros gêneros, alunos com essa questão, pais que têm perguntas… funciona tanto dentro de casa quanto no trabalho”, revela André.

Mas e o Dia das Mães?

Você que acompanhou essa reportagem até aqui com certeza deve ter se perguntado em algum momento: e o Dia das Mães?

Ah, ele também é muito especial para outra integrante da família Coelho: a vovó Terezinha, mãe do André. É ela quem recebe todas as honras do dia. “O Dia das Mães é especial para a mãe do André. Todos os presentes que o Jorginho faz sempre são pra ela”, explica Kumiho.

E o que o Dia dos Pais representa para eles?

“O Dia dos Pais é uma celebração do que nós estamos construindo enquanto família. Todo Dia dos Pais é uma lembrança pra gente de como que uma série de probabilidades resultou em algo tão bacana, tão gostoso”, diz Kumiho.

“Foi uma mudança de eixo, porque até ontem eu era apenas o filho que dava presente. Agora somos dois pais dentro de casa. O Dia dos Pais pra gente acabou virando o Dia da Família”, afirma André.

Jorginho tem dois pais… Jorginho é muito feliz!

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