Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ
Esses dias li um post com o qual me identifiquei muito. Era algo assim: como explicar para as pessoas que curto MPB e arte, requebro com hip-hop, curto postar e ser low profile, vou do luxo ao lixo, do boteco pé sujo ao restaurante superfaturado, amo socializar e também ficar quietinha em casa?
Para quem não me conhece de perto sou exatamente assim!
Minha playlist é muito, digamos assim, eclética – tem ópera, louvor, ponto, música eletrônica, Marília Mendonça, Bjork, Tonico e Tinoco, George Michael e Belchior.
Mas meu ecletismo não se resume à música.
Mais nova, fazia parte do grupo de jovens da igreja católica, acompanhava a amiga na igreja Mórmon aos domingos, já fiz estudo bíblico com Testemunha de Jeová, fui ao culto da Casa da Benção com minha avó, frequentei terreiro de Umbanda, visitei roça de Candomblé e meditei em Centro Budista.
Talvez para alguns eu seja perdida. Mas a verdade é que eu me encontro na diversidade. Sou curiosa, apreciadora das diferenças, e acredito que há muitos caminhos possíveis e legítimos para se viver e ser.
Há anos, uma paciente curiosa me perguntou como era minha cabeça, pois ela chegava e tinha um gay com barba e salto alto saindo, e depois dela – que se nomeava “maluquinha” – entrava uma freira vestida de hábito. Me lembro de pensar que essa era, justamente, a maravilha de ser psicóloga!
Escutar cada um em sua singularidade, testemunhar que somos feitos da mesma matéria humana e que temos todos a necessidade de sermos aceitos e amados, mas que cada um faz isso de um jeitinho único.
E vocês acreditam que essa pessoa que vos fala, assim como muitos outros humaninhos, perde um tanto da capacidade de apreciar e acolher as diferenças quando está sob algum tipo de estresse?
Pois a gente perde a flexibilidade cognitiva e emocional quando vivemos algum período crítico. E foi justamente isso que aconteceu no meu puerpério.
De apreciadora da diversidade, com flexibilidade digna de contorcionista, virei uma controladora, mais dura que a velha da Praça é Nossa (entreguei minha falta de colágeno com essa referência).
Foram bons meses de megera da rotina, especialista (com um toque sutil de arrogância) em sono, amamentação e desenvolvimento motor infantil.
Fui me tornando dura comigo, dura com minha bebê, com quem estava à minha volta e, mesmo que silenciosamente, com outras mulheres.
Como defesa para lidar com o estresse, com a privação de sono e com a sobrecarga, nosso “modo controle” é ativado. Nos tornamos críticas conosco e com as pessoas à nossa volta.
A rigidez emocional e cognitiva, nos torna exigentes, e não nos permite aceitar que há jeitos diferentes de viver a maternidade e de criar filhos.
Talvez você não tenha toda a rede de apoio que eu tive para sair do modo controle. Mas, mesmo sem conseguir mudar seu contexto estressor, tornar-se consciente de que pode estar sendo dura consigo e com os seus, como resultado desse estresse, é libertador!
Talvez você até perceba que algumas bandeiras radicais que tem levantado sobre formas de maternar e educar, também são efeitos dessa rigidez.
Fica aqui meu convite: por mais que você esteja sofrendo, não se deixe ser engolida pela fantasia de controle, nem pela ideia de que há caminhos únicos para maternar e o “jeito certo” de educar.
Apesar de ser uma defesa contra coisas dolorosas, o controle aprisiona, deixa tudo mais pesado e sofrido.
Não abra mão de buscar sempre a leveza, a autocompaixão,o acolhimento e a empatia. É lindo demais que haja formas infinitas de ser e de viver essa coisa bonita e caótica, que chamamos maternidade.
Essa é a graça de estarmos aqui.