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Em Terras Lusas – Azulejaria portuguesa

Traço marcante em Portugal que literalmente salta aos olhos

Se há um traço marcante em Portugal que literalmente salta aos olhos e encanta a maioria das pessoas que aqui vive ou os turistas que aqui chegam, é a azulejariaportuguesa. Não há quem passe ileso à beleza dos inúmeros painéis de azulejos espalhados pelas cidades de norte a sul do país.

De herança árabe, peça em cerâmica de pouca espessura, em sua maioria em formato quadrado, com um dos lados vidrado com revestimento em esmalte, o azulejo é a grande sensação arquitetônica do país.

De uma cor só, ou de várias cores, lisos ou trabalhados em relevo, os azulejos e os painéisde composições são um traço importante da identidade cultural e presença incontornável no país há mais de quinhentos anos.

Aplicados tanto no interior quanto no exterior das paredes de casas a edifícios, os azulejos são presença certa em pavimentos, igrejas, conventos, palácios, jardins e monumentos como expressão artística de requinte, tradição e beleza.

Os painéis de azulejos representam, muitas vezes, momentos históricos, cenas da mitologia, ou da iconografia religiosa, mas também apresentam desenhos geométricos das mais variadas tendências das artes plásticas da cena artística de Portugal.

Há relatos de que os azulejos foram trazidos para Portugal por conta de uma viagem que o Rei D. Manuel I fez à Espanha por volta de 1.500.

Em sua viagem, o rei ficou maravilhado com a proliferação e a exuberância dos interiores de azulejos encontrados nas cidades de Saragoça, Toledo e Sevilha e decidiu construir a sua residência real à semelhança do que viu em Espanha.

Foi assim que o Palácio Nacional de Sintra, que serviu de residência ao Rei, foi decorado com os azulejos hispano-mouriscos importados de oficinas da cidade deSevilha, que também abasteciam, com suas peças artesanais, outros países da Europa, mais especialmente a Itália.

Quem já teve a oportunidade de conhecer as salas do Palácio, certamente ficou impressionado com a composição geométrica de azulejos tridimensionais da Sala Moura ou Árabeno quarto de dormir de D. Joao I, ou, ainda, com as paredes de azulejos em relevo com motivos de parras e maçarocas em forma de flor de lis do quarto de D. Sebastião.

Mas se a exuberância dos azulejos atrai a atenção de todos por motivos óbvios, há aqueles que querem um pedaço dessa preciosidade e beleza para si, e acabam, tristemente, por arrancar e roubar os azulejos das fachadas de casas centenárias ou dos monumentos do país.

Outros tantos, também os arrancam e roubam, mas para comercializá-los nas feiras de rua, cujo público-alvo, na maioria das vezes, é o turista que os compram sem saber a procedência.

Entretanto, não são só os hedonistas, ou os turistas incautos, os maiores culpados pela destruição e delapidação dos azulejos portugueses. Há ainda a ganância do setor imobiliário que acaba por destruir inúmeras casas ou edifícios com painéis de azulejos incríveis para a construção de prédios e condomínios de gosto duvidoso; tudo, como diria um amigo próximo, em nome de um progresso cafona e sem gosto.

Com a crescente expansão imobiliária dos últimos anos em Portugal e a consequentemente remoção de azulejos de expressão notória, era necessário regulamentar a questão da preservação dos azulejos portugueses de forma urgente.

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Assim nasceu, em 2007, o Projeto SOS Azulejo de iniciativa e coordenação do Museu de Polícia Judiciária na dependência do Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais com o objetivo de combater a crescente delapidação do patrimônio azulejar português.

Com apenas 17 anos de existência, várias são as contribuições do Projeto para a preservação da azulejaria portuguesa.

Entre as mais importantes, está a criação de uma Lei, publicada em agosto de 2017, que sujeita quaisquer operações urbanísticas que resulte na remoção de azulejos de fachada a serem alvo de uma vistoria administrativa que avaliará e dará o veredito final se os azulejos em questão devem, ou não, ser retirados ou preservados; bem como a criação do dia nacional do azulejo celebrado em 6 de maio.

Fora isso, e com o slogan “Só protegemos aquilo que valorizamos”. O Projeto alargou suas atividades para a conscientização da importância da conservação preventiva e da sensibilização para a valorização da azulejaria portuguesa.

Como o leitor pode ver, há uma forte mobilização nesse sentido, mas confesso que morando em terras lusas há tanto tempo, vejo cotidianamente muitas destruições de inúmeros painéis de azulejos, mesmo com toda a boa vontade de pessoas bem-intencionadas.

Eu mesmo já fiz uma denúncia, anos atrás, às autoridades locais da cidade do Porto, a respeito de uma obra que estava demolindo a fachada de uma casa centenária que tinha um muro de mais de 3 metros com azulejos em relevo de uma beleza indizível e pedi a ajuda preciosa do SOS Azulejo.

A obra foi embargada e parte do muro da casa reconstruído e preservado. Mas o triste dessa história que conto para vocês é que na calçada em frente à casa em obras havia uma delegacia de polícia que nada fez a respeito até a minha denúncia e de outros vizinhos preocupados com o patrimônio português.

E os desafios do Projeto SOS Azulejo não param por aí. Há ainda algumas metas a serem atingidas, que precisam obviamente de grande divulgação para que sejam cumpridas.

Uma delas é a limitação e o controle de venda de azulejos antigos em feiras e lojas de turismo, a elaboração do “Mapa Nacional do Azulejo” ou “Rota Nacional do Azulejo”, bem como a candidatura do patrimônio azulejar português a Patrimônio da Humanidade.

Portanto, instigo o leitor a divulgar os princípios fundamentais do Projeto pelas redes sociais. Afinal, quem cuida dos outros, cuida de si mesmo.

Autor

  • Paulo Visani Rossi

    Paulo Visani Rossi é advogado especializado em Direito Autoral e assessor de imprensa, atua como consultor de marketing na Europa e vive há 9 anos em Portugal

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