Você já sentiu que, por mais que faça, nunca é suficiente? Que, no papel de mãe, tudo o que você realiza parece pequeno diante das expectativas ao seu redor?
Esse sentimento, tão comum entre nós, é alimentado por uma sociedade que muitas vezes não nos vê pelo que somos — com nossas necessidades e limites — mas apenas pelo que espera que sejamos. E é nesse espaço entre o real e o ideal que se instala o desamparo.
O conceito de desamparo aprendido vem da psicologia e descreve o que acontece quando passamos por tantas situações nas quais nos sentimos impotentes que, com o tempo, começamos a acreditar que nossos esforços não fazem diferença.
No contexto da maternidade, esse desamparo é reforçado por um sistema que nos cobra sem oferecer suporte.
Desde que pegamos o positivo somos cercadas por expectativas de toda ordem: dar conta de tudo, ser emocionalmente presentes, trabalhar fora e cuidar da casa, como se não tivéssemos filhos, educar bem os filhos, como se não trabalhássemos; e ainda não deixar de cuidar de nós mesmas.
No entanto, a sociedade constrói uma maternidade idealizada e irreal, mas não nos oferece as condições para sustentá-la. Nos cobram perfeição, mas não nos oferecem acolhimento e rede de apoio. Nos dizem que nosso trabalho é importante, mas na prática o que fazemos nem é reconhecido como trabalho. Durante a gravidez vivemos nossa “glória social”, mas quando o bebê nasce, por vezes não somos nem olhadas – que dirá enxergadas.
Quando não somos vistas por quem realmente somos, com nossas necessidades, mas apenas pelas expectativas que colocam sobre nós, a maternidade se torna um terreno fértil para o desamparo. E isso não afeta apenas nossa saúde mental, mas também perpetua a ideia de que as coisas “são assim mesmo” e não podem mudar.
É um ciclo de desgaste: tentamos atender a essas demandas, falhamos – porque ninguém dá conta de tudo sozinha – somos julgadas, nos culpamos, e aprendemos a não esperar ajuda.
O desamparo aprendido vai então tomando forma, nos levando a acreditar que estamos sempre em débito, que nossos esforços são insuficientes e que não há saída, a não ser seguirmos apesar disso tudo.
Ficarmos presas nesse funcionamento é mais comum do que se imagina e, infelizmente, não há uma solução individual para isso. Contudo, não significa que não podemos fazer nada a respeito.
Um caminho é justamente entendermos que não se trata de “falhas” pessoais. Há todo um sistema feito para exigir coisas sobre-humanas das mães e nos desamparar. É impossível dar conta de toda demanda, não é você que não consegue.
Acolher nossas imperfeições, limites e exercitar a conscientização de que recai sobre nós, mas não é sobre nós, reforça nosso senso de suficiência. Somos suficientes sim! Não damos e nem precisamos dar conta de tudo sozinhas, mas ainda assim, damos conta de muita coisa.
O desamparo aprendido nos faz acreditar que temos que nos conformar em seguirmos desamparadas. Então, sejamos rebeldes! Não nos aceitemos todas as cobranças. Não nos acomodemos na falta de cuidado. Vamos priorizar nossas necessidades como priorizamos as dos nossos filhos. Nós merecemos e importamos.