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Gastroenterocolite não é virose? Entenda surto na Baixada Santista

Turista relatou ter sido infectada enquanto dividia apartamento com 12 pessoas, em Guarujá (SP)
Foto/divulgação: Freepik

Virose foi a palavra mais falada nas últimas semanas na Baixada Santista, após municípios da região registrarem aumento de casos de diarreia, náuseas, vômitos e febre. Na última segunda-feira (6), entretanto, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo afirmou que o problema trata-se de um surto de gastroenterocolite aguda, em uma reunião com autoridades de saúde locais.

De acordo com a SES, gastroenterocolite é uma infecção do trato digestivo causada, na maioria dos casos, por vírus, como rotavírus e norovírus, mas também pode ter origem bacteriana, com agentes como Salmonella, Shigella e Escherichia coli. Seus sintomas incluem diarriea, náuseas, vômitos, dor abdominal, febre e mal-estar geral.

Esses sintomas foram sentidos na pele por milhares de turistas e moradores da Baixada Santista, como o caso da empresária Vanessa Peloso, de 36 anos. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais — que já conta com meio milhão de acessos —, ela relatou ter passado o Réveillon em Guarujá com 12 familiares, dos quais 11 apresentaram os sintomas típicos.

Vanessa e seus familiares apresentaram sintomas da doença apenas dois dias após chegarem ao litoral – Fotos/reprodução: arquivo pessoal

Tudo ia bem… até piorar!

No dia 26 de dezembro, Vanessa saiu de Rio Claro, no interior de São Paulo, com a família para passar o ano novo na Praia da Enseada. Preparados para evitar problemas com alimentação, levaram lanches naturais e evitaram consumir alimentos em quiosques. “Sabemos que, nesta época, é complicado consumir nas praias devido aos preços e quantidade de pessoas, então estávamos precavidos”, explicou ao VTV News.

Dois dias depois (28), por volta das 16h30, o primo de 7 anos de Vanessa começou a vomitar. Em seguida, outros familiares começaram a apresentar sintomas como dores de estômago, náuseas e diarreia.

“Minha irmã relatou dor de estômago, eu comecei a me sentir mal e, depois, minha priminha e meu cunhado também. Foi um efeito dominó”, lembrou.

Os sintomas pioraram rapidamente, com vômitos excessivos e diarreia constante. “Tinha que ficar deitada com a barriga para cima, porque o vômito não parava de sair”. Por volta das 22h30, decidiram buscar atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Enseada, onde encontraram a unidade lotada. “Muitas pessoas estavam com os mesmos sintomas que a gente”, relatou.

Mudança de planos

Na UPA, foram informados por uma médica que a água do mar estava poluída e que a praia estava muito suja. “Tinha fralda e até lenço umedecido no chão. A médica comentou que isso pôde ter contribuído”, afirmou Vanessa. A situação também foi registrada, em imagens obtidas pela reportagem.

Vanessa suspeita que poluentes presentes na areia da praia tenham contribuído para a transmissão da virose — Fotos/reprodução: arquivo pessoal

Dito e feito: a Prefeitura de Guarujá afirmou ter coletado 76 toneladas de lixo nas praias entre 2h30 e 8h do dia 1° de janeiro. Já a família passou os dias seguintes tentando se recuperar, mas os sintomas persistiram até o fim da viagem, na última sexta-feira (3).

Aliás, na própria noite de Réveillon, a comemoração foi limitada. “Descemos para ver a queima de fogos, mas ninguém conseguia comer ou ficar muito tempo fora do apartamento. Ficamos só 40 minutos”, contou Vanessa. De volta a Rio Claro, ela e o filho ainda estavam com diarreia, enquanto a irmã precisou buscar atendimento na Unimed.

Agora, Vanessa relata que todos da família já estão melhor, exceto sua irmã, que ainda enfrenta alguns sintomas. Apesar de terem passado nove dias no litoral, a experiência deixou marcas. “A gente imaginava que fosse estar cheio, mas não nesta proporção e que teria uma virose que iria se alastrar”, desabafou.

@vanessapeloso 2 dias de praia e pegamos virose! #virose #guaruja ♬ som original – Vanessa Peloso

O que a Prefeitura e a Sabesp disseram?

A Prefeitura de Guarujá informou, na última sexta-feira (3), que houve um aumento nos casos de virose no mês de dezembro, registrando um total de 2.064 atendimentos nas UPAs, e que estendeu até domingo (5) o horário de três unidades de saúde, em caráter de plantão, devido ao alto número de visitantes no município.

Logo no dia seguinte (4), a administração municipal alegou ter normalizado o horário de espera nos atendimentos médicos, e que o pico de virose foi superado. O coordenador da Vigilância Sanitária de Guarujá, Marco Chacon, confirmou as informações. “O reforço da estrutura, com mais médicos, enfermeiros e estações para aplicação de soro, deu resultado”, disse.

Em nota, a prefeitura afirmou aguardar o resultado de análises encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz para tentar explicar a origem dos casos de gastroenterocolite aguda.

A Prefeitura de Guarujá também mencionou extravasamento de esgoto clandestino no mar como possível fator contribuinte — hipótese investigada pela SES. Por outro lado, a Sabesp, responsável pelo saneamento na região, declarou que não identificou problemas na rede de esgoto.

SES reuniu secretarias municipais de saúde da região para discutir surto de infecções — Fotos/reprodução: Secretaria Estadual de Saúde

Próximos passos

Para discutir medidas de contenção, a Secretaria Estadual de Saúde promoveu uma reunião com os representantes das vigilâncias epidemiológicas e secretários municipais de saúde dos nove municípios da região. “Apresentamos o fluxo de informações, coleta de amostras e cuidados que devem ser tomados diante da situação”, afirmou Regiane de Paula, coordenadora da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD/SES).  

Entre as orientações estão a coleta de amostras de água e humanas para análise e a intensificação de ações preventivas para a população, especialmente contra doenças transmitidas por água e alimentos (DTAs).

“Ainda não podemos confirmar a origem do surto, pois estamos aguardando a conclusão das análises das amostras para fechar os casos”, explicou Regiane à VTV, emissora afiliada do SBT na região.

Entretanto, em análise, a coordenadora disse que a temperatura do verão e a intensa movimentação de turistas na região são fatores que podem potencializar a proliferação de patógenos. Os municípios mais afetados incluem Santos, Guarujá, Praia Grande e São Vicente.

Os protocolos de notificação também foram discutidos durante o encontro. “A colaboração entre os municípios é essencial para entender a dimensão do surto e adotar estratégias eficazes de controle”, frisou Regiane. Além das autoridades locais, estiveram presentes representantes dos Grupos de Vigilância Epidemiológica e Sanitária do Estado.

Objetivo da reunião foi organizar notificações, coletas de amostras e medidas preventivas diante do aumento de casos na região — Foto/reprodução: Secretaria Estadual de Saúde

Não é virose? Entenda o que é gastroenterocolite aguda

Apesar de muitos associarem o quadro ao termo popular “virose”, especialistas esclarecem que a condição vai além de uma simples definição genérica. Para entender melhor, o VTV News conversou com o infectologista Dr. Ricardo Bonifácio, do Hospital Sírio-Libanês.

“O termo virose é muito amplo e pode incluir doenças respiratórias, gastrointestinais e até meningite viral”, explica. O surto atual envolve gastroenterocolite, uma infecção aguda que afeta o trato digestivo. “O agente mais comum é viral, mas também pode haver causas bacterianas, embora isso seja menos frequente”, complementa.

Entre os principais agentes virais responsáveis pela doença estão adenovírusrotavírus e norovírus. O período de incubação é curto, entre 12 e 24 horas, e a doença dura, em média, até sete dias. Dr. Bonifácio destaca que, embora a maioria dos casos seja de origem viral, a mudança de nomenclatura pode estar ligada à suspeita de agentes bacterianos, como a Shigella, em alguns pacientes.

Transmissão

O aumento no número de casos está diretamente relacionado às condições climáticas e comportamentais típicas do verão. “Aglomerações em praias, temperaturas elevadas e maior proximidade entre as pessoas favorecem a proliferação e transmissão do vírus”, afirma. Além disso, hábitos inadequados de higiene, como a falta de lavagem das mãos e o consumo de alimentos mal higienizados, contribuem para a disseminação.

A transmissão ocorre principalmente por contato direto entre pessoas, gotículas respiratórias e superfícies contaminadas. Banheiros públicos mal higienizados e alimentos consumidos em ambientes sem condições adequadas também são fatores de risco. “Nessa época, o ambiente de praia cria um cenário perfeito para a propagação do vírus”, alerta.

Os sintomas mais comuns da gastroenterocolite incluem diarreia, náuseas e vômitos. Casos leves podem ser tratados em casa, com repouso e hidratação adequada. “Se você é jovem e apresenta apenas duas ou três evacuações ao dia, hidrate-se bem e evite contato com outras pessoas até se recuperar”, orienta o especialista.

Orientações

Entretanto, casos mais graves exigem atenção. “Se os vômitos forem frequentes e causarem desidratação, ou se houver dores abdominais intensas que persistem por mais de uma semana, é importante procurar atendimento médico”, afirma o médico. Crianças e idosos merecem cuidados redobrados, já que estão mais vulneráveis à desidratação severa.

A falta de tratamento adequado em casos graves pode levar a complicações sérias, incluindo óbito. Dr. Bonifácio reforça a importância de reconhecer os sinais de alerta, como sonolência excessiva, confusão mental e ausência de urina por períodos prolongados. “Esses sintomas não devem ser ignorados”, enfatiza.

Por fim, a melhor forma de prevenção é adotar práticas básicas de higiene, como lavar as mãos regularmente, evitar compartilhar utensílios e consumir alimentos de procedência segura. No verão, quando as condições para a proliferação do vírus são favoráveis, o cuidado deve ser ainda maior.

Números de sintomas de virose atualizados no litoral de São Paulo

Bertioga

O INTS, responsável pela gestão do Hospital Municipal de Bertioga, informa que, considerando diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível e outras gastroenterites e colites, foram registrados 220 casos na unidade entre 30/12/2024 e 05/01/2025.

No momento, não há pacientes internados com sintomas de gastroenterite.

Cubatão

Entre 1º e 6 de janeiro, as unidades de saúde de Cubatão registraram 915 atendimentos relacionados a sintomas de gastroenterocolite, com destaque para o Pronto-Socorro Central, que atendeu 303 casos.

Não houve internações devido a agravos, e o movimento na UPA teve pico no dia 3, com 102 atendimentos.

Guarujá

A Prefeitura informou que os atendimentos relativos a casos de virose nas unidades de saúde do Município voltaram à normalidade, sem picos de demanda desde o último sábado (4).

Itanhaém

Não há pessoas internadas na cidade. Desde o dia 1º de janeiro, a Secretaria de Saúde de Itanhaém realizou 1.145 atendimentos de casos de virose, somando a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e UPA Infantil.

Mongaguá

Os números levantados pela Secretaria de Saúde, em Mongaguá, desde o início da semana do natal (23 de dezembro), apontam 12.270 atendimentos, sendo 1.783 por virose, o que compreende cerca de 15% de todos os atendimentos realizados.

Praia Grande

A Prefeitura de Praia Grande informou que os atendimentos por virose nas unidades de Urgência e Emergência diminuíram nos últimos dois dias, retornando ao esperado para esta época do ano, quando a cidade recebe até 2 milhões de turistas.

Apesar do aumento de casos no início de 2025, não houve caracterização de surto. Além disso, a Secretaria mantém equipes reforçadas e monitora a situação durante a temporada de verão.

Santos

A Secretaria de Saúde de Santos informa que as viroses não são de notificação obrigatória perante o Ministério da Saúde.

Dessa forma, foram registrados 1.339 atendimentos relativos a casos de virose nas 3 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) entre os dias 1 e 6 de janeiro (até às 12h).

São Vicente

A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informa os seguintes dados de atendimentos de casos referente a gastroenterocolite, vômito e diarreia nos hospitais da Cidade, no período de 30/12 a 05/01.

Pronto-Socorro Central: 3.131 atendimentos.

Hospital Dr. Olavo Horneaux de Moura: 376 atendimentos.

Pronto-Socorro do Rio Branco: 538 atendimentos.

Peruíbe ainda não enviou os dados atualizados até a publicação. Portanto, a matéria pode ser atualizada.

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