Muitos amigos e familiares me perguntam se a vida Em Terras Lusas é melhor que a vida no Brasil e quais foram, ou são, as maiores diferenças e dificuldades que tive, ou tenho, que enfrentar cotidianamente nesses quase dez anos em que moro em Portugal.
Se as perguntas que me fazem tem lá a sua curiosidade e razão; as reflexões que faço e as respostas que dou sempre me intrigam. Ora pela simplicidade, ora pela falta de densidade, ora pela sutileza dos sentimentos que me trazem, ora pela praticidade com que enfrentei algumas mudanças.
Sempre fico com a dúvida se deveria, ou não, fazer uma escolha, mas quando internamente a faço, há sempre um sentimento de culpa com o lado preterido. Enfim, escolher um país é uma tarefa árdua, já traçar algumas diferenças entre eles, nem tanto.

Acho que uma das grandes diferenças é a questão de escala. Portugal é um país pequenito com 10.639.726 de habitantes e ocupa a décima primeira posição dos 27 países mais populosos da União Europeia.
Para se compreender essa questão, basta pensar que a população de Portugal é um pouco menor que a população da capital de São Paulo, que tem 11.895.578 de habitantes, e menos da metade dos habitantes da região metropolitana de São Paulo que já beira os 22 milhões.
Dito isso, fica fácil perceber, que alguns adjetivos de quantidade passam a ter uma interpretação subjetiva diante desse contexto.
Se a escala diminuta assusta a princípio, a proximidade que ela proporciona entre as pessoas pode trazer algumas gratas surpresas. E falo aqui do espírito de comunidade.
Logo que cheguei por essas bandas, vivenciei uma situação bastante interessante e que somente seria possível em pequenas cidades do interior do Brasil.

Um dia ao chegar em casa, vi em cima da mesa do zelador do prédio onde morava, um saco de supermercado repleto de mexericas e um bilhete: “Vizinhos, fui à aldeia esse fim de semana e havia muitas mexericas, pegue a sua”.
Se o gesto gentil de uma moradora fez toda a diferença para os moradores dos outros 36 apartamentos, muitas ações sociais e governamentais em pequena escala também o fazem.
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Uma das ações de que mais gosto é promovida pela Camara do Porto, o equivalente à nossa Prefeitura Municipal, e atende pelo nome de “Se tem um jardim temos uma árvore para si”.
Essa ação consiste em convocar os moradores da cidade do Porto a candidatarem-se pelo site da Câmara para receberem gratuitamente árvores e arbustos para as replantarem em seus jardins, e assim, recuperar o meio ambiente da cidade.
Após o preenchimento de um formulário, técnicos da Camara avaliam se o candidato em questão, tem espaço suficiente e condições mínimas em sua casa para abrigar a planta a ser doada.
A convocação desse ano foi um sucesso retumbante e as inscrições tiveram de ser encerradas duas semanas antes da data prevista, dada a procura popular.
Nas primeiras edições havia disponível cerca de duas mil plantas nativas de 14 espécies diferentes, para oferecer aos portuenses. Já nessa sexta edição, a Camara duplicou a oferta para quatro mil plantas nativas.
Todas as plantas disponíveis são jovens (dois a três anos) e as espécies nativas abarcam: bétula-portuguesa, cipreste, gilbardeira, lódão, pilriteiro, teixo, urze-branca ou urze-das-vassouras. As espécies de plantas de pequeno porte disponíveis são madressilva, milefólio, relva-do-olimpo, tomilho-rasteiro, torga e urze-vermelha.
Iniciada em 2016, a iniciativa já atribuiu cerca de 10 mil árvores aos portuenses. A ação decorre no âmbito da Ação Climática do Município e desenvolve-se no contexto do FUN Porto – Florestas Urbanas Nativas do Porto, para o FUTURO – projeto das 100 mil árvores na Área Metropolitana do Porto.
Se o leitor acredita que pequenas ações podem causar diferenças significativas na sociedade em que vivemos, que os exemplos citados nessa coluna os inspirem a criar muitas mais.