Há sete décadas ele encanta famílias de todos os lugares, atraídas pelas várias espécies aquáticas abrigadas nos seus 34 tanques e atividades focadas na educação ambiental. Mas o Aquário de Santos, o mais antigo do Brasil, o parque mais visitado da Cidade e o segundo do Estado, também é pioneiro no resgate e tratamento de animais marinhos, tornando-se referência no País.
De 2023 até março deste ano, cinco tartarugas-verdes já foram devolvidas ao mar para um novo começo em seu habitat natural. Os animais são encaminhados ao Aquário por munícipes e representantes de centros de preservação ao serem encontrados em estado debilitado, seja por ferimentos, acometidos por parasitas, ingestão de corpos estranhos ou desnutrição, em canais e praias. A partir daí, uma série de etapas é realizada até estarem aptos a retornar ao seu antigo lar. Outros, por precisarem de cuidados contínuos, permanecem em observação na instituição.
Um exemplo recente, que demonstrou mais uma vez toda a dedicação da equipe de biólogos e veterinários do parque, foi a reabilitação completa das duas tartarugas-verdes Una e Ramona (como foram batizadas), encontradas por munícipes em estado crítico após uma colidir com embarcações e a outra ingerir plástico e elementos de pesca. Depois de ficarem, ao todo, 1 ano e 5 meses sob intenso tratamento, os animais voltaram ao mar em março deste ano, em uma emocionante soltura no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, a cerca de 40 quilômetros da costa.
Quem se orgulha desse compromisso que é assumido incansavelmente é o biólogo Marco Aurélio Gattamorta, que atua há dois anos no cuidado e manejo dos animais. “Temos muito orgulho de estarmos realizando esse trabalho pioneiro, que é tão bonito e importante para a nossa fauna. Fomos a primeira instituição nacional a iniciar projetos de reabilitação e preservação ambiental. Do ano passado até agora, demos um novo começo a cinco vidas que estiveram em nossos tanques recebendo todo o cuidado diário. Sempre que alguém encontra algum animal debilitado, o contato é direto com o Aquário porque confia no nosso propósito”.
TRATAMENTO
Durante o tratamento, os animais recebem uma alimentação balanceada, geralmente composta por filés de tilápia, camarão, lula e polvo, além de vegetais. “No momento em que a gente os recebe e faz as observações iniciais, é possível determinar protocolos que envolvem coletas de exames, como por exemplo, de sangue, análise de fluidos, parasitológicos e, eventualmente, um diagnóstico de imagem. A partir desse processo, podemos definir quais serão as etapas de tratamento e alimentação adequada, também em função da característica do animal”, explicou o biólogo.
Além disso, as espécies em reabilitação são estimuladas a atividades de lazer e diversão, como bambolês em que tartarugas gostam de coçar as carapaças e boias flutuadoras em formato de espaguete. Vale ressaltar que os animais não deixam de receber acompanhamento da equipe e que, ao apresentarem melhora significativa e ficarem aptos a interagir com outros da espécie, podem ser expostos em um dos 34 espaços visíveis ao público visitante do Aquário. Eles também habitam recintos ou tanques adaptados às suas necessidades, como pinguins que necessitam de ambientes climatizados de forma que promovam comodidade para eles.
EM RECUPERAÇÃO
Tartarugas-verdes são sempre maioria nas espécies que recebem tratamento no parque. Tarracha chegou à equipe mostrando malformação em partes do corpo, como em suas nadadeiras, o que a impede de permanecer embaixo da água por muito tempo, já que a condição dificulta a sua locomoção. Dessa forma, a paciente precisa ficar em um tanque adaptado.
Além de acidentes, algumas tartarugas-verdes, principalmente quando mais jovens, podem ser infectadas por um determinado tipo de herpesvírus, que causa saliências em seu corpo similares a uma verruga. A fibropapilomatose – que não acomete humanos – é contagiosa para a espécie. No Aquário de Santos, não é incomum o caso de herpesvírus nas tartarugas em reabilitação. Lá, ocorre a observação e cirurgias para a remoção das verrugas. E, por mais que seja uma infecção que demanda urgência em seu tratamento, os animais podem ser reabilitados e soltos.
Há também pinguins que recebem tratamento da equipe. “No caso dos pinguins, trabalhamos em parceria com o Gremar e outros centros de reabilitação. Quando eles chegam da Patagônia até a costa brasileira em busca de cardumes, muitos se perdem, ficam debilitados e muito magros. Mas não podemos soltá-los porque sozinhos não conseguem voltar ao lugar de onde vieram. A chance de sobrevivência seria mínima. Nossa intenção é, além do cuidado, poder estudá-los para entendermos como se alimentam e suas características de convivência e, assim, alcançarmos o processo de reprodução – uma curiosidade, é que são seres monogâmicos, ou seja, a parceria entre eles permanece para outras crias. Temos alguns casais por aqui que já deram filhotes”, explicou o biólogo.
Apesar de ter sofrido uma lesão na coluna há três anos, o que o impossibilita de voar por longas distâncias e alturas, o carismático Atobá demonstra ainda ter muita disposição para brincar e interagir com a equipe do parque. Os profissionais, inclusive, planejaram atividades de enriquecimento ambiental unindo lazer à diversão, como duchas de água em dias quentes e brincadeiras semelhantes às experiências que o animal vivenciava em seu habitat. O Atobá ficará no Aquário até o fim da vida.
Atualmente, o parque mantém sob tratamento dezessete animais – entre eles, tartarugas-verdes, tartarugas-cabeçudas e cágados. Onze deles terão a oportunidade de serem soltos no mar.
MONITORAMENTO
Após o período de reabilitação, tartarugas aptas para um recomeço recebem um par de anilhas em parceria com o projeto Tamar. Os acessórios, instalados em nadadeiras, têm a finalidade de realizar um monitoramento dos animais em uma escala global, por meio de uma enumeração onde é possível verificar, em um banco de dados, o tamanho do animal, espécie e em qual lugar do mundo já recebeu tratamento. O anilhamento é essencial nas tartarugas-verdes pela capacidade de migração, uma vez que durante a época reprodutiva, elas voltam para o mesmo lugar em que nasceram.
VISITAÇÃO
Os animais sob tratamento permanecem em espaços internos e, por enquanto, não podem ser expostos. O público visitante pode contar com 34 tanques de água salgada e doce que abrigam diversas atrações marinhas. Entre os moradores estão tubarões, pinguins, tartarugas, além de crustáceos e outros animais invertebrados, como estrelas-do-mar. Para conferir todos de perto e muito mais em um local repleto de educação ambiental, o Aquário fica na Praça Vereador Luiz La Scala s/nº, na Ponta da Praia.