A Polícia Civil de Atibaia investiga o empreendedor Guilherme Piccini Martins, de 20 anos, por suspeita de aplicar um golpe financeiro de R$ 8 milhões em falsos investimentos em criptomoedas, sendo a principal vítima um empresário conhecido de Atibaia. O inquérito que ainda está em andamento, aponta que os recursos aportados podem ter sido desviados para benefício próprio. A investigação está em curso, sem condenações ou prisões até o momento.
Durante diligência na residência de Piccini, agentes realizaram uma busca e apreensão de equipamentos e bens de alto valor. Entre os itens recolhidos, estão computadores e uma Porsche roxa que, segundo a Polícia, poderia ter sido comprada com recursos da vítima. O veículo, inicialmente envelopado com o logotipo da iVipCoin — criptomoeda criada pelo próprio investigado — teve o adesivo removido antes da operação.
Em declaração à Polícia, Piccini alegou que o caso se trata de “um desacordo comercial” e que os investimentos “sabidamente poderiam dar errado”. O delegado Hermes Nakashima, responsável pelo caso, pontuou ao VTVNews: “Tomamos conhecimento de uma outra faceta do Guilherme na iVipCoin…Houve a suspeita de que ele possa ter coisa maior”.
- ATUALIZAÇÃO 24/10/2025 (8H45): A defesa de Guilherme Piccini entrou em contato com a reportagem, e afirmou que se posicionará somente em juízo.

Promessas de lucro e histórico escolar
De acordo com pessoas próximas de Piccini, o jovem era tratado como “garoto prodígio” nas áreas de tecnologia e finanças desde a escola. Testemunhas ouvidas pela reportagem, que preferiram não se identificar, relatam que ele “fazia aplicativos”, “programava com facilidade” e se destacava por participar de clubes de finanças desde o segundo ano do ensino médio.
Relatos também indicam que Piccini passou a ostentar alto padrão de vida logo após o fim do ensino médio, incluindo a compra da Porsche, além de manter residência em um dos bairros mais valorizados de Atibaia. Uma das fontes ouvidas pela reportagem afirmou que os supostos sinais de golpe já eram perceptíveis à época do ensino médio.
“’Era dinheiro de golpe, só pode’, todo mundo desconfiava disso”, afirmou uma testemunha que presenciou a ascensão de Piccini ao se referir a compra da Porsche.
As mesmas testemunhas alegam que Piccini chegou ter ex-colegas e amigos de escola como colaboradores após criar a empresa, informação que não foi confirmada pela autoridade policial. Porém, alguns desses ex-colegas chegaram a aparecer em vídeos lado-a-lado de Piccini nos grupos de Telegram da iVipCoin.
Criação e colapso da iVipCoin
Piccini é apontado como fundador e sócio majoritário da iVipCoin, projeto de stablecoin que prometia revolucionar o mercado financeiro brasileiro. Com 17 anos, ele lançou a plataforma com foco em “educação cripto”, segundo arquivos da própria empresa. No entanto, relatos de investidores e registros públicos sugerem que a moeda nunca teve liquidez significativa: o token IVIP vale atualmente cerca de US$ 0,00001, sem volume de negociação considerável, conforme dados do CoinMarketCap.

Diversos investidores relatam que seus investimentos nunca foram devolvidos devidamente. As reclamações obtidas pela reportagem surgem especialmente em grupos da plataforma Telegram.
O acúmulo de reclamações reforça a suspeita de um esquema fraudulento por parte dos membros no grupo da moeda. Um dos investidores afirmou ao VTVNews que chegou a investir no criptoativo no passado, mas que “vendeu antes do desastre”, e comentou que diversos outras pessoas que compõem o grupo não conseguem mais vender a criptomoeda, assim perdendo os seus investimentos. Os membros reclamam da ausência de respostas do suporte e do próprio Guilherme Piccini, idealizador da moeda.
Anteriormente no mesmo canal do Telegram, Piccini divulgou que a “primeira agência física da iVipBank estava tomando forma”, outro projeto ligado a iVipCoin. A escolha de localização para a fundação da agência chama atenção. Segundo divulgado pelo próprio empreendedor, a agência da iVip ficaria na cidade de Natércia, em Minas Gerais.
- Segundo o último senso do IBGE, a cidade tem 4.691 habitantes e fica a cerca de 200 km de distância de Atibaia.
A empresa iVipBank, segundo consulta no banco de dados da Receita Federal, possui um quadro societário extenso, tendo cinco sócios ao lado de Piccini. Além da presença no mercado cripto, em uma busca por meio de plataformas de consulta publica empresarial, é possível identificar que o jovem também possui cinco CNPJs em seu nome, sendo uma baixada.


Além das denúncias financeiras, um prestador de serviço que também preferiu não se identificar, relatou ao jornal ter desenvolvido uma material de investimentos para os investidores do grupo a pedido do jovem, porém não chegou a receber o valor integral prometido. “Fiz o material, mas ele pagou só uma parte. Fiquei no prejuízo e depois, sumiu”, afirmou.
Ausência de Piccini nas redes
Segundo a Polícia Civil, o investigado não está foragido e foi localizado em sua residência durante a busca e apreensão, mas sua ausência nas redes sociais e nos grupos de investidores tem levantado suspeitas.
Segundo o site oficial da criptomoeda, a empresa estaria localizada em um prédio empresarial de Atibaia, próximo ao centro da cidade. Entretanto, conforme apurou o VTVNews, o locatário devolveu a sala há cerca de um ano.
O caso foi formalizado como crime de estelionato, e segue em investigação pela Polícia Civil.