Um protótipo nacional de acelerador linear de prótons está em desenvolvimento no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), com foco em garantir autonomia tecnológica na produção de radioisótopos usados no diagnóstico por imagem e em terapias oncológicas. O projeto, aprovado pelo Ministério da Saúde, terá investimento de aproximadamente R$ 27 milhões via Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL) e prazo de execução de dois anos.
A iniciativa busca viabilizar um equipamento mais compacto, acessível e menos oneroso do que os atuais cíclotrons, importados e restritos a grandes centros. A ideia é permitir que regiões hoje desassistidas tenham condições de produzir localmente os radiofármacos, cuja eficácia depende da curta meia-vida dos isótopos.
Segundo o CNPEM, a proposta não é tratar pacientes diretamente, mas sim desenvolver e entregar a tecnologia para que outras instituições possam utilizá-la nas áreas médica e farmacêutica.
Alternativa ao cíclotron
Hoje, a produção nacional de radioisótopos depende exclusivamente de cíclotrons importados, que exigem estruturas robustas, espaços amplos e altos custos de instalação e manutenção. O novo acelerador do CNPEM visa gerar feixes de prótons com até 7 MeV, o suficiente para produzir substâncias como flúor-18 e gálio-68, amplamente utilizadas na medicina nuclear. O equipamento, já em fase de testes, foi projetado, construído e integrado inteiramente por equipes do centro de pesquisa.

De acordo com James Citadini, diretor adjunto de Tecnologia do CNPEM, a expectativa é que o projeto tenha impacto direto no Sistema Único de Saúde (SUS), ampliando o acesso a tratamentos mais precisos e menos invasivos.
“Nosso objetivo é dominar toda a tecnologia. Na sequência, aumentaremos a energia para permitir a produção de uma maior variedade de radioisótopos”, explicou o engenheiro.
Redução de custos e ganho logístico
Citadini também destaca o ganho logístico com a produção descentralizada dos materiais. “Existem poucos locais que produzem radioisótopos no país, e muitos deles decaem em poucas horas ou minutos. Isso torna inviável transportar o material por longas distâncias. A solução é ter produção local, próxima aos hospitais”, pontuou.
Entre os principais benefícios esperados estão:
- Redução de custos operacionais e estruturais com a produção de radioisótopos;
- Descentralização do acesso ao diagnóstico por imagem e tratamento de câncer;
- Diminuição da dependência externa na aquisição de tecnologias nucleares;
- Fortalecimento da pesquisa nacional em aplicações estratégicas, da medicina à análise de materiais.
Os radiofármacos, baseados nesses isótopos, são usados para direcionar radiação a células tumorais, o que aumenta a eficácia do tratamento e minimiza os efeitos colaterais. Ao perderem radiação, tornam-se ineficazes — o que reforça a urgência de alternativas que permitam produção regional e em tempo hábil.