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13 de maio: pesquisas revelam o pragmatismo econômico da escravidão em Atibaia e Campinas

O cotidiano dos escravos incluía jornadas extenuantes de até 18 horas, alimentação precária e exposição a doenças.
13 de maio e a promulgação da Lei Áurea no Brasil (Foto: Iago Y. Seo)

A data de hoje, 13 de maio, é relembrada na história como o dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, proposição essa que acabou com a escravidão no Brasil. A lei foi assinada em 1888, e mesmo 137 anos depois, resquícios históricos desse torvo período ainda pairam nas cidades interioranas do Brasil, como Atibaia e Campinas. 

O professor de história, Bruno de Oliveira, explicou que, embora a Lei Áurea tenha sido promulgada em uma data específica, a disseminação da informação e, sobretudo, a aceitação e a implementação efetiva dessa medida, variaram significativamente entre as diferentes regiões do país. Na avaliação do especialista, seria razoável supor que houve resistência e atrasos na concretização da abolição em diversas localidades.

“No sul do Brasil a talvez tenha chego a informação da abolição no ano [em que foi sancionada], mas muitas cidades não concordaram com a abolição de primeira, primeira pelo tempo da notícia chegar. Depois pela câmara dos vereadores, as câmaras dos homens bons votarem, decidirem de fato se vai ter abolição, como vai ser, então pode ser que tenha demorado um pouco mais que aqui”, avaliou.

Atibaia na rota da escravidão e do 13 de maio

Segundo Bruno, no caso de Atibaia, a forte vinculação econômica com o sistema escravista pode ter retardado a incorporação das transformações legais. A cidade, após a proibição do tráfico transatlântico, tornou-se uma referência regional na reprodução e comercialização de pessoas escravizadas, suprindo, entre outros, o mercado de Minas Gerais. 

As rotas terrestres ligando Atibaia a cidades mineiras, como Monte Verde, e a outras regiões, como Guarulhos, sustentavam esse fluxo. Tal estrutura econômica explica, em parte, a resistência à abolição e a lentidão no processo de substituição da mão de obra.

Para preservar essa narrativa e a história dos escravos em Atibaia um movimento ganhou notoriedade cultural local. O que nasceu como um coletivo se constituiu posteriormente em um quilombo urbano, o Negra Visão. Em 2020, o quilombo de Atibaia se tornou uma associação cultural, e passou a preservar a história dos escravos, expondo e cuidando de ferramentas, utensílios e obras de artes do período.

Segundo o censo de 2022 do IBGE, o Brasil conta com 8.441 localidades quilombolas, sendo 24% delas no Maranhão. A região sudeste abrange 1.245 dessas localidades. A diretora presidente da Associação Cultural Negra Visão, Silvana Moreira, comentou em entrevista ao VTVNews, que, apesar da data ser emblemática, ela não é comemorada no movimento, mas refletida:

A gente não comemora o 13 de maio como vitória, pois ela foi um passo para uma vitória que não veio”, iniciou Silvana. “Não podemos negar a importância da data, mas como vitória não dá. Faltou muita coisa, como falta até hoje. A abolição nem foi querida nem desejada por quem assinou. Foi uma coisa imposta”, finalizou a diretora.


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Campinas na escravatura

Já a escravidão em Campinas no século XIX foi marcada por uma estrutura socioeconômica que combinava expansão agrícola, tráfico interno de cativos e concessões de liberdade moldadas por interesses senhoriais e tensões jurídicas. Documentos judiciais, testamentos e registros de compra e venda revelam uma experiência multifacetada do período.

Dados levantados pela pesquisadora Letícia Lemes por exemplo, mostram que a maior parte dos escravizados que chegaram a Campinas entre 1860 e 1888 veio de outras províncias. Ao menos 71,6% dos indivíduos analisados foram trazidos pelo tráfico interno; o índice sobe para 91,3% se considerados também os africanos ou os de origem desconhecida. Apenas 11% dos escravos citados em processos judiciais nasceram em Campinas.

Esse deslocamento forçado contribuiu para redes sociais e trajetórias específicas, que influenciaram as possibilidades de fuga, resistência e litígio. Cerca de 35,6% dos escravizados que figuram em registros de crimes, fugas ou ações de liberdade foram comprados ou vendidos pelo menos uma vez na vida.

(Trecho extraído da pesquisa, disponível em: https://www.researchgate.net/publication/312574022_Criminosos_fugitivos_e_litigantes_pela_liberdade_os_escravos_traficados_para_Campinas_1860-1888)
(Trecho extraído da pesquisa, disponível em: https://www.researchgate.net/publication/312574022_Criminosos_fugitivos_e_litigantes_pela_liberdade_os_escravos_traficados_para_Campinas_1860-1888)

Crescimento econômico ampliou a demanda 

Segundo a pesquisa de Duílio Battistoni Filho, o número de escravizados em Campinas saltou de 156 pessoas, em 1779, para cerca de 14 mil em 1872, impulsionado pela transição do cultivo da cana para o café. A cidade se consolidou como polo agrícola do estado de São Paulo, com forte dependência da mão de obra cativa.

O cotidiano dos escravos incluía jornadas extenuantes de até 18 horas, alimentação precária e exposição a doenças. A expectativa de vida era reduzida, e os registros apontados na pesquisa mostram que muitos recém-chegados passavam por uma quarentena no Largo Santa Cruz antes de serem leiloados em praça pública.

“Eu acredito que a Atibaia demorou muito, assim como Campinas, para acertar com a abolição, porque era a principal fonte de renda. E não à toa, os imigrantes quando vêm para a nossa região, chegam em Atibaia.”, comentou Bruno na sua análise histórica.

Autor

  • Iago Yoshimi Seo

    Jornalista de profundidade, autor do livro A Teoria de Tudo Social: Democracia LTDA., ambicioso por política e debates

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