Imagem: divulgação
O Brasil vive um boom das plataformas de apostas online, mas, junto com o crescimento do setor, aumenta também o número de pessoas que perdem tudo para o vício. Em apenas seis anos, os atendimentos para jogadores compulsivos na rede pública de saúde cresceram mais de 1000%, saltando de 108 para 1.290 casos registrados entre 2018 e 2023, segundo o Ministério da Saúde.
Diante desse cenário, o governo federal pretende criar uma Lista de Proibidos, um cadastro que poderá impedir que jogadores viciados continuem apostando. A medida tem como objetivo reduzir o impacto financeiro e emocional do vício, além de obrigar as empresas do setor a barrar esses usuários.

O ciclo do vício
O jogo do Tigrinho, um dos mais populares entre as plataformas de apostas, se tornou um caminho perigoso para muitos apostadores. No começo, os ganhos rápidos incentivam novas apostas, mas logo as perdas começam a se acumular.
“Comecei apostando R$ 30 e ganhei mil no primeiro dia. Depois fui perdendo aos poucos, mas sempre tentando recuperar. Quando percebi, já estava apostando R$ 100, R$ 200 e até usando o cartão de crédito”, conta uma das pessoas ouvidas pelo VTV News.
O problema é que a sensação de vitória inicial mascara o risco real. “Às vezes, é um dinheiro que você tem que pagar uma conta. Você joga para ver se consegue um pouco mais e acaba ficando zerado”, explica outro jogador.
Os efeitos do vício vão além da perda financeira. Uma ex-apostadora conta que ficou quase oito meses presa aos jogos, perdeu o emprego e se afundou na depressão. “Se somar tudo, acho que perdi uns R$ 10 mil. Não queria mais sair de casa, nem levar meus filhos para a escola”, desabafa.
Como poderá funcionar a Lista de Proibidos
O governo pretende adotar um sistema semelhante ao de países como Portugal e Reino Unido, onde jogadores compulsivos podem se cadastrar voluntariamente para serem bloqueados das plataformas. No Brasil, ainda não foi definido se a inclusão será feita por iniciativa do próprio apostador ou por recomendação médica.
Continua após a publicidade
“A depender do grau de gravidade, muitas pessoas precisam de internação psiquiátrica. O paciente pode ficar até três meses em uma clínica para reverter os impactos no cérebro”, explica Silvia Marchant Gomes, da Associação Psiquiátrica de Brasília.
Além disso, especialistas apontam que os próprios jogos são desenvolvidos para ativar gatilhos mentais e incentivar a permanência dos jogadores. “O cérebro é enganado. A pessoa acha que está ganhando e quer mais, sem perceber que está perdendo. É como um carro com motor de Ferrari, mas com freios ruins”, compara a psiquiatra.
Regulamentação em análise
O cadastro vai ser gerenciado pelo governo federal e as empresas de apostas serão obrigadas a impedir que os jogadores proibidos continuem apostando. Quem descumprir a regra poderá ser multado e até perder a licença de operação.
Mesmo com tratamento, muitos apostadores relatam dificuldades em abandonar o vício. “Tem horas que dá vontade de jogar para recuperar o que perdi. Mas eu penso dez mil vezes antes de voltar”, confessa uma jogadora.
A Lista de Proibidos ainda precisa ser detalhada e será analisada pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda. A expectativa é que a medida entre em vigor nos próximos meses.