A crescente ocorrência de queimadas em regiões agrícolas tem levantado preocupações sobre os impactos no solo e na produtividade. Um estudo recente conduzido pelo Grupo GoGenetic, em parceria com a Fazenda Tropical e a Syncbio, revela que o manejo adequado do solo é essencial para mitigar esses danos e garantir uma recuperação mais eficiente.
A pesquisa, realizada na Fazenda Tropical, em Montividiu (GO), mostrou que a estrutura microbiana do solo teve alta resiliência após um incêndio ocorrido em setembro de 2024. Para Vânia Pankievicz, CEO da plataforma GoSolos, esse resultado representa uma excelente notícia para os agricultores, pois comprova que o manejo contínuo e voltado para a agricultura regenerativa contribui significativamente para a recuperação de áreas afetadas por queimadas. Segundo ela, as práticas sustentáveis adotadas na Fazenda Tropical foram determinantes para a estabilidade do microbioma do solo.
A experiência da Embrapa Meio Ambiente também reforça essa perspectiva. Em um estudo conduzido em 2016, o pesquisador Rodrigo Mendes expôs amostras de solo a 80 °C por 30 minutos para avaliar os efeitos do aquecimento na microbiota. O experimento revelou que microrganismos benéficos foram eliminados, comprometendo a capacidade do solo de suprimir doenças. Mendes destaca que, no caso da Fazenda Tropical, a rápida recuperação da área afetada foi possível devido à estabilidade do microbioma, que foi favorecida pelo manejo adequado do solo.
Erick Van Den Broek, produtor rural e proprietário da Fazenda Tropical, explica que o segredo está no investimento contínuo em boas práticas agrícolas. Ele afirma que a utilização de plantas de cobertura, rotação de culturas e mix de espécies tem sido essencial para fortalecer o solo e garantir sua resiliência.
Outro ponto importante levantado por Bruna Souza, agrônoma da GoSolos, é que o manejo adequado do solo também proporcionou ganhos na produtividade. As áreas afetadas apresentaram um incremento de até 12 sacas por hectare na safra de soja, evidenciando que estratégias preventivas fazem toda a diferença. Bruna enfatiza que, em nenhuma hipótese, colocar fogo na lavoura é uma alternativa para melhorar a produtividade, afirmando que o fogo descontrolado é sempre prejudicial. Daniel Mol, agrônomo da Syncbio, complementa que a menor vulnerabilidade do microbioma após o incêndio está relacionada ao equilíbrio do solo antes do evento. Segundo ele, a seca prolongada que antecedeu as queimadas reduziu a umidade, mas o solo estava estável e pronto para se recuperar.
O uso da metagenômica foi determinante para identificar microrganismos benéficos e possíveis desequilíbrios que poderiam comprometer a fertilidade do solo. Essa tecnologia permite um monitoramento preciso e é essencial para orientar estratégias de manejo mais sustentáveis, conforme destaca Vânia Pankievicz.
Os pesquisadores continuarão monitorando as áreas afetadas para compreender os efeitos a longo prazo. Essa iniciativa evidencia que investir em práticas sustentáveis e tecnologia avançada é o melhor caminho para garantir solos mais resilientes e produtivos frente aos desafios climáticos. O estudo deixa uma lição clara para o agronegócio: a prevenção é sempre mais eficiente e econômica do que a remediação. Investir na saúde do solo não apenas reduz os impactos de eventos extremos, como também amplia o potencial produtivo e assegura a sustentabilidade da atividade agrícola.
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