A equipe jurídica do lutador Lucas Campos “Karateca”, de Bom Jesus dos Perdões (SP), protocolou um recurso oficial à Comissão de Arbitragem do Jungle Fight, contestando o resultado da luta contra Carlos Alexandre “Mistoca”, realizada no início de junho no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília.
Em entrevista ao VTVNews, Lucas diz que espera mover um recurso judicial caso o protocolo não seja respondido.
A solicitação veio após a repercussão do resultado da luta entre ambos os esportistas, onde o oponente de Lucas teria aplicado um golpe ilegal perante as regras do esporte. “Mistoca” posteriormente assumiu em uma entrevista ao canal da Jungle Fight de ter tomado um risco de estar lutando lesionado e de ter aplicado de fato um chute irregular.
Entenda o caso
Ambos atletas lutaram no evento Jungle Fight 137 na noite do dia 14 para o 15 de junho em Brasília. O evento, segundo o portal oficial, é o maior da América Latina, com 22 anos de história e milhões de espectadores na televisão.
Durante o embate, Lucas foi atingido pelo oponente com um chute na cabeça enquanto estava em posição de três apoios no solo. Isto é, segundo ele, o atleta estava em posição de desvantagem – denominada down. A cena foi vista por centenas de espectadores do evento e transmitida na televisão, ganhando grande repercussão nas redes sociais.
“Eu estava numa posição de down, uma posição desfavorecida, vamos dizer assim. Eu estava deitado no chão, quando ele armou pra me dar o chute. Eu fui subir, pôr o joelho no chão, e ele já encaixou o chute na minha cara. Se eu não tiver uma reação rápida de tentar subir ali e contrair meu corpo, né, fazer aquela rigidez no corpo, meu Deus…”, disse Lucas em entrevista ao VTVNews.
Segundo o protocolo feito pela equipe do lutador, o chute na cabeça é ilegal e vedada pelas ABC Unified Rules e pelo próprio regulamento do evento. Ainda segundo o documento, apesar de reconhecer a irregularidade, o árbitro central apenas deduziu um ponto de Mistoca, desconsiderando a desclassificação obrigatória prevista nas normas internas.
Além da conduta do árbitro, o recurso elenca falhas de procedimento. Lucas sofreu fratura nasal, recebeu 11 pontos de sutura e apresentou sinais de confusão mental, condição que, segundo as regras, o tornaria inapto para decidir sozinho se continuaria no combate. Ainda assim, a luta seguiu. Segundo a defesa, o médico de bordo admitiu ter cogitado a interrupção da disputa, mas se absteve por confiar na conduta da arbitragem.
Justificativas de Mistoca
Lucas pontuou ainda que o próprio oponente reconheceu a falta ao falar sobre o assunto no YouTube. Durante entrevista ao canal oficial Jungle Fight TV, Carlos Alexandre “Mistoca” afirmou ter de fato aplicado um golpe irregular. Ele relatou também que tentou pesar-se vestindo uma blusa preta, em sinal de luto, mas teve o pedido negado. Na mesma entrevista alegou ainda que um comentarista notou a lesão no braço antes do confronto:
“Eu pedi a pesagem com uma blusa preta, estava de luto, faleceu um ente querido, mas tinha um outro porém…Não me deixaram pesar de blusa preta”.
Mistoca prosseguiu: “Fui e tirei a blusa. Um comentarista fez um comentário, acho que sem intenção…Ele falou que meu braço estava lesionado e muito inchado, e todo mundo ficou sabendo antes do início da luta, uma coisa que eu queria esconder.”
Segundo ele, a luta por parte dele foi movida por fatores emocionais: “Eu assumi o risco de estar lutando lesionado e por ter perdido um ente querido”, declarou. Ele afirmou que sempre respeitou as regras, mas que, ao ser provocado pelo corner adversário, reconheceu que acabou dando um golpe irregular:
Eu nunca lutei com raiva, e no início da luta, o corner do meu oponente começou a falar ‘braço dele machucado, chuta o braço dele machucado’. Eu acabei por raiva, raiva, de estarem falando o tempo todo ‘braço machucado, Lucas, chuta o braço machucado’…E por raiva…Não por eu ser uma pessoa maldosa, tenho mais de 30 lutas de MMA, dei um chute irregular. Não foi mau caráter, foi por raiva da situação”.
Durante a entrevista, “Mistoca” disse que o oponente assumiu “um risco”. “Ele, na situação de achar que teria uma vantagem, ele e a equipe mudaram a técnica pra tentar nos colocar pra baixo”, declarou.
Procurado pela redação, Carlos não quis se posicionar oficialmente sobre o caso.
A luta pode seguir na justiça
À redação, Lucas disse que se a luta não for reavaliada pela arbitragem do evento, o caso poderá ser levado à justiça. No recurso, o documento traz também declarações que corroboram a tese da irregularidade.
Segundo o documento, o árbitro da luta afirmou não ter assistido à luta na íntegra e se comprometeu a rever o vídeo. A defesa de Lucas ainda afirma que a representante do evento, confirmou que o golpe foi ilegal, mas considerou suficiente a penalidade de um ponto, “contrariando o que estabelece o regulamento interno do Jungle Fight”.
A redação procurou contato com a organização do evento que ainda não se manifestou sobre o pedido, deixando aqui aberto para eventuais réplicas.
Como reforço, a peça cita precedentes semelhantes no cenário internacional e nacional – como a desclassificação por joelhada ilegal no UFC 259 e por cotoveladas irregulares no TUF Finale -, em que condutas análogas resultaram em DQ imediato.
Ao final, a equipe de Lucas Campos requer:
- Nulidade do resultado
- Vitória por desclassificação
- Abertura de procedimento disciplinar contra a arbitragem
- Republicação do novo placar
- Registro formal da revisão em ata pública.
“Teve muita coisa errada, e eu realmente fui injustiçado ali. Creio também que tem o peso do favoritismo porque o oponente era o campeão, tava lutando em casa, e tinha torcido a favor”, finalizou Lucas.