Nesta semana pesquisadores da University College London (UCL) captaram, em tempo real, o momento exato em que o coração começa a se formar durante o desenvolvimento embrionário. O registro inédito foi feito a partir de um embrião de camundongo vivo e revela a organização precoce das células cardíacas, o que pode abrir caminho para avanços no tratamento de doenças cardíacas congênitas.
A gravação mostra que, ainda nas primeiras fases da gestação, as células do futuro coração deixam de se mover aleatoriamente e passam a se alinhar com precisão. Segundo os autores do estudo, o comportamento ordenado das células ocorre de forma muito anterior ao que se imaginava.
Organização precoce das células cardíacas
A pesquisa usou a técnica de microscopia de lâmina de luz, permitindo capturar imagens a cada dois minutos durante um intervalo de 40 horas. Com isso, foi possível acompanhar a movimentação, divisão e organização dos cardiomiócitos, células musculares que geram a contração do coração.
O momento registrado se refere à fase da gastrulação, processo em que as células passam a se especializar e formar as estruturas primárias do organismo. Em humanos, isso ocorre por volta da segunda semana de gestação. Para tornar o movimento visível, os cientistas marcaram os cardiomiócitos com cores distintas.
Impacto em pesquisas cardíacas
Durante a observação, os pesquisadores notaram que as células destinadas ao coração seguiram caminhos específicos: parte delas formaria os ventrículos, responsáveis por bombear o sangue, enquanto outras dariam origem aos átrios, por onde o sangue entra no órgão.
A descoberta tem potencial para influenciar tratamentos voltados a defeitos cardíacos congênitos — condição que afeta cerca de um em cada cem bebês. Ao compreender como o coração se forma logo nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário, a ciência amplia as possibilidades de correção precoce de anomalias cardíacas, ainda durante a gestação.