Enquanto bruxas, zumbis e abóboras iluminadas tomam as ruas em diferentes países do ocidente nesta sexta-feira, 31 de outubro, o Brasil celebra o Dia do Saci, personagem do folclore nacional que vem sendo resgatado como alternativa simbólica ao Halloween.
A data foi oficializada em 2003 por meio da Lei nº 2.762, proposta com o intuito de valorizar a cultura brasileira frente ao avanço de festas importadas.
Retratado como um menino negro de uma perna só, gorro vermelho na cabeça e cachimbo na boca, o Saci-Pererê tem origem indígena — o nome “Saci” deriva do guarani — mas ganhou contornos africanos e europeus ao longo dos séculos, refletindo o caldeirão cultural miscigenado que forma a identidade do país. A iniciativa de instituir o Dia do Saci partiu da Sociedade dos Amigos do Saci (Sosaci), grupo paulista que atua na pesquisa e promoção do personagem.
Tradição nacional e espírito travesso
A figura do Saci reúne diferentes camadas simbólicas:
- Gorro vermelho remete às lendas europeias sobre duendes e bruxas;
- Cachimbo é um hábito atribuído a tradições africanas;
- A perna única se relaciona a mitos que envolvem capoeira, fugas de cativeiro e resistência cultural. Essa justaposição de elementos torna o Saci um ícone singular — ou sui generis — no panteão folclórico.
Alguns historiadores afirmam que o espírito de travessura também aproxima a data brasileira da celebração anglo-saxã.
“Saci é guerreiro do gorro vermelho”
A cultura pop também vem incorporando a figura do Saci. Em 2014, o músico Bruno Sutter, da banda Detonator, lançou no álbum Metal Folclore: The Zoeira Never Ends um dos refrões mais populares sobre o personagem. A letra confronta diretamente o Halloween, exaltando o folclore nacional:
“31 de outubro é o dia do Saci / Não se engane, meu amigo, não é dia de Halloween / Halloween é americano, que é bem longe do Brasil…”
A canção, em tom irreverente, sintetiza o movimento de resgate cultural promovido por diferentes atores ao longo das últimas décadas.