fbpx
Search
Close this search box.

Atleta que teve a perna amputada corre mais de 1 km durante 366 dias em Americana, SP

Elbert precisou amputar a perna direita devido ao Sarcoma de Ewing, um raro câncer ósseo

O arquiteto e atleta Elbert Palombino, de 27 anos, concluiu um desafio extraordinário na noite da última sexta-feira (3), em Americana (SP): correr pelo menos 1 km durante 366 dias consecutivos. O feito é ainda mais inspirador considerando que, há três anos, Elbert precisou amputar a perna direita devido a um raro câncer ósseo.

Em entrevista ao VTV News, Elbert explicou que a ideia do desafio foi sugerida por sua irmã, Melissa, no final de 2023. Inspirado pelo projeto Corrida no Ar, do repórter Sérgio Rocha, em parceria com a Chelso Sports, ele decidiu abraçar a proposta. A jornada começou em 1º de janeiro de 2024, durante uma viagem a Monte Verde, no sul de Minas Gerais (MG), com uma corrida no aeroporto.

A última etapa aconteceu na Avenida Brasil, em frente ao Centro de Cultura e Lazer (CCL), onde o americanense seguiu até uma ponte em frente ao hospital da Unimed, passou pelo sentido contrário da avenida e terminou no ponto inicial. Ele foi acompanhado pelo Corpo de Bombeiros, pela Polícia Militar (PM) e pela Guarda Municipal de Americana (Gama), além de integrantes do Instituto Pernas da Alegria, amigos e familiares.

Jéssica Palombino, 26, psicóloga e esposa de Elbert, acompanhou todo o processo e destacou sua dedicação. “Ele não correu apenas 1 km por dia; em algumas ocasiões, chegou a completar 15 ou até 21 km”, relembrou. A amputação, realizada em dezembro de 2022, foi consequência de um diagnóstico de Sarcoma de Ewing, espécie de câncer raro que causa muita dor e fraqueza e que pode se espalhar para outras partes do corpo.

Diagnóstico

Antes do diagnóstico, Elbert Palombino era um jovem ativo e apaixonado por esportes. “Sempre gostei de academia e corrida. Quando as dores começaram, achei que fosse algo muscular. Nunca imaginei que fossem sinais de um tumor maligno”, revelou o paratleta.

O câncer foi descoberto de forma inesperada, após uma fratura espontânea no fêmur. “No dia 11 de outubro de 2022, durante uma sessão de fisioterapia, senti um estalo forte na perna. Pensei que fosse algo simples, mas os exames mostraram a gravidade do quadro”, relembrou Elbert, que logo enfrentaria a difícil decisão de amputar a perna direita.

Elbert começou a sentir dores na coxa direita e não conseguiu mais andar. Após atendimento inicial no Hospital Municipal de Americana, foi encaminhado pela Central de Regulação e Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) ao Hospital da Unicamp, em Campinas, onde recebeu o diagnóstico de um câncer ósseo raro, semelhante ao Sarcoma de Ewing, já em estágio avançado.

A escolha pela amputação foi feita com cautela, amparada por fé e apoio emocional. “Como cresci na igreja, busquei respostas em Deus. Com o tempo, entendi que amputar era a melhor forma de continuar vivendo. Depois disso, meu foco foi me adaptar e recomeçar”, afirmou.

Já a recuperação foi um processo tanto físico quanto emocional, que ele descreve como um verdadeiro renascimento.

“É como ser um bebê novamente. Você precisa reaprender a andar, a se levantar e a viver de uma maneira completamente nova”, concluiu Elbert.

Quando recebeu o diagnóstico, o câncer estava em nível avançado e, para salvar a própria vida, Elbert passou pela cirurgia de amputação – Reprodução: arquivo pessoal

Voltando a sonhar

A cirurgia trouxe uma consequência emocional: Elbert perdeu parte da esperança de voltar a correr, mesmo tendo a corrida como uma paixão antiga. O interesse foi reaceso quando Lilica Amâncio, voluntária do Instituto Pernas da Alegria, o convidou para participar de uma corrida de rua em um triciclo. 

Durante uma dessas provas, ele foi conduzido por Hugo Farias, corredor conhecido por completar maratonas diárias, e a experiência despertou nele a vontade de voltar a correr por conta própria.  

No início, Elbert pensou em correr com uma prótese, porém, os médicos o desaconselharam devido à complexidade da sua cirurgia e ao alto custo do equipamento, e chegou passar três dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Desta forma, conheceu Douglas Robinho, atleta amputado que corre de muletas, e decidiu tentar o mesmo.

As primeiras tentativas foram frustrantes, mas, ao completar 1 km pela primeira vez, sentiu uma satisfação tão grande que decidiu repetir a experiência diariamente, sempre sem dor. Em seguida, para manter a rotina de corridas, Elbert passou a investir no fortalecimento muscular, essencial para seu desempenho.

O maior desafio para Elbert foi adaptar o corpo ao estilo de corrida esperado nos 366 dias – Reprodução: arquivo pessoal

Desafios

Jéssica relembrou os desafios enfrentados durante o período de adaptação. “O início foi muito difícil, mas ele sempre foi independente e determinado. Mesmo sem a prótese, ele consegue se virar bem em casa. A corrida foi um alívio e uma motivação para que ele superasse tudo”, destacou.

Em 2024, além do desafio dos 366 dias correndo, Elbert enfrentou outro obstáculo: a descoberta de um nódulo no pulmão que levantou suspeitas de metástase. Após a remoção bem-sucedida, ele continuou inabalável. “Ele correu até mesmo durante as sessões de quimioterapia. Isso mostra a força e a determinação dele”, contou Jessica, orgulhosa.

Para Elbert, a corrida não foi apenas questão de esforço físico. “Ela me ajudou a controlar a ansiedade e a manter minha mente focada. Cada quilômetro que eu corria era uma vitória, uma prova de que eu era capaz de superar qualquer barreira”, refletiu.

No entanto, o novo estilo de corrida exigiu adaptações significativas. “O corpo humano não foi feito para correr com muletas. Precisei fortalecer muito os braços e aprender a lidar com o impacto. Foram meses de treino e ajustes até encontrar um ritmo”, explicou. Ele também reforçou que cada desafio foi oportunidade de crescimento.

Elbert e Jéssica se conheceram na adolescência e estão juntos até hoje – Reprodução: arquivo pessoal

Apoio

Além da fé, o apoio da esposa foi um alicerce indispensável. A história do casal começou há mais de uma década, quando os dois se conheceram na Escola Estadual Martinho Rubens Bellucco, no bairro São Benedito, em Americana (SP).

Desde então, tornaram-se parceiros inseparáveis, enfrentando juntos os desafios e comemorando as conquistas ao longo do caminho.

O apoio emocional de Jéssica foi importante, inclusive, para que Elbert superasse os momentos mais difíceis. “O amor e o cuidado da Jessica foram fundamentais. Ela sempre esteve ao meu lado, mesmo nos dias mais complicados”, afirmou o paratleta, que expressa profunda gratidão pela esposa.

Entretanto, os dois também têm enfrentado episódios de preconceitos. Jéssica relembra momentos desconfortáveis em viagens.

“Ouvimos piadas maldosas, mas ele não se abala. Sempre mantém a cabeça erguida. Eu acabo ficando mais nervosa do que ele”, confessou — ela admira a serenidade do marido diante das adversidades.

O lado religioso, por sua vez, desempenhou um papel central na superação do câncer. “Encontrei força em versículos bíblicos e nas palavras de apoio de pessoas que nem conhecia. Essa jornada foi também espiritual, ajudando-me a aceitar e superar tudo o que aconteceu”, refletiu.

O maior desejo de Elbert é garantir a liberdade de locomoção – Divulgação: Caleb Araujo

Foco, força e fé

Durante os 366 dias, Elbert enfrentou diversos desafios físicos, incluindo dores musculares, desgaste na panturrilha e até um princípio de canelite [inflamação na canela].

Mas com o acompanhamento do professor e educador físico João Simões, conseguiu prevenir o agravamento das lesões e manteve o foco, avançando um passo de cada vez em direção ao seu objetivo.

Jéssica ressaltou o impacto que Elbert tem sobre todos ao seu redor. “Em uma prova, corri 5 km ao lado dele, e foi uma experiência inesquecível. Ele inspira não apenas a mim, mas a todos que conhecem sua história. É incrível testemunhar sua força e determinação”, compartilhou, admirada.  

Apesar das dificuldades, Elbert nunca deixou de sonhar. “Sempre quis correr uma maratona de 42 km. Quando perdi a perna, achei que esse sonho fosse impossível. Agora, depois de tudo que conquistei, vejo que estou mais perto do que nunca de realizá-lo”, declarou.

Cada passo do desafio dos 365 dias foi compartilhado por Elbert em seu perfil no Instagram, @elbertpalombino – Reprodução: redes sociais

Arrecadação para prótese

Com o desafio das corridas superado, o americanense já sonha com novos projetos. “Quero inspirar outras pessoas com deficiência a acreditar em seus sonhos. A corrida é um símbolo de superação, e quero continuar mostrando isso para o mundo”, afirma o paratleta, que agora se prepara para alcançar novas metas.  

Para isso, está em busca de uma prótese esportiva, que promete transformar sua vida. Orçada em R$ 148 mil, a prótese proporcionará mais autonomia e qualidade de vida, além de permitir que ele continue ativo no esporte. “Infelizmente, o valor da prótese é muito alto, pois exige três articulações, o que a torna inacessível para mim no momento”, explica Elbert Palombino.

Até agora, ele já conseguiu arrecadar R$ 38,2 mil por meio de doações. Jéssica, sua parceira na campanha, reforça a importância dessa conquista. “Com a prótese, ele poderá realizar mais atividades sozinho e seguir inspirado no esporte. É um investimento que realmente mudará sua vida”, declara ela.  

Quem deseja contribuir pode fazer doações via Pix (3395354@vakinha.com.br) ou pela vaquinha on-line no site (clique aqui para acessar).

Entenda o que é o Sarcoma de Ewing, câncer ósseo superado por Elbert

Trata-se de um câncer raro que afeta ossos ou tecidos moles ao redor deles, segundo o oncologista Roberto Pestana, do Hospital Israelita Albert Einstein. Ele é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos, afetando principalmente ossos longos, pelve e parede torácica.  

A causa exata é desconhecida, mas está relacionada a mutações genéticas. Os sintomas incluem dor localizada que piora com o tempo, especialmente à noite ou após esforço físico, além de inchaço ou uma massa palpável, visível nos membros.  

Em estágios avançados, podem ocorrer fraturas ósseas e problemas de mobilidade. O diagnóstico exige exames de imagem, como radiografia e ressonância magnética, além de biópsias para confirmação, já que não há testes de rastreamento.  

O tratamento começa com quimioterapia para reduzir o tumor, seguida de cirurgia para removê-lo. Em alguns casos, radioterapia é necessária, junto a intervenções para reconstrução óssea, como próteses ou transplantes.

Autor

Mais lidas

Mega-Sena da Virada: Confira os ganhadores

Jovem morre ao gravar vídeo em cima de moto em Americana

Colisão entre carro e carreta mata motorista e interdita Dom Pedro

Ex-prefeito de Araras, Pedrinho Eliseu, rebate atual prefeito por WhatsApp

Motociclista morre após bater contra árvore em Campinas

VEJA TAMBÉM