O presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, é praticamente um personagem do noticiário nacional.
Ali estão (ou estiveram) nomes que todo brasileiro conhece de cor: Suzane von Richthofen, os irmãos Cravinhos, Elize Matsunaga, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, além do médico Roger Abdelmassih.
Agora, todos ganham novas versões na série “Tremembé”, produção nacional da Prime Video em cinco episódios.
A trama mergulha na rotina da penitenciária que abriga os criminosos mais midiáticos do país, mas entrega algo bem diferente: um drama cheio de tensão sexual, intrigas, figurinos impecáveis e trilha sonora digna de novela das sete.

A “Liga da Justiça” de Tremembé
Se a proposta era mostrar o cotidiano dentro da prisão, Tremembé acaba criando o que poderia ser chamado, sem exagero, de “Liga da Justiça do crime brasileiro”. Cada personagem parece ter seu “superpoder” narrativo:
Suzane, a estrategista que manipula emoções e domina o ambiente
Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa) foi condenada por homicídio triplamente qualificado pelo assassinato dos próprios pais, Manfred e Marísia von Richtho. Daniel Cravinhos (Felipe Simas), era namorado de Suzanne von Richthofen e um dos executores do assassinato. Além de Cristian (Kelner Macêdo), irmão de Daniel, outro envolvido no crime.

Elize Matsunaga, a justiceira de sangue frio
Elize Matsunaga (Carol Garcia) foi condenada pelo assassinato do marido, Marcos Kitano Matsunaga, em um caso de grande repercussão ocorrido em 2012. O crime aconteceu no apartamento do casal, em São Paulo, após Elize descobrir uma traição. Na sequência, ela matou Marcos com um disparo de arma de fogo, esquartejou o corpo e distribuiu os restos mortais em diferentes locais da cidade, para dificultar a identificação e a investigação.

Anna Carolina Jatobá, a parceira dividida entre amor e descontrole
Esposa de Alexandre Nardoni, Anna Carolina Jatobá (Bianca Comparato) foi responsabilizada por jogar a enteada, Isabella Oliveira Nardoni, de 5 anos, do sexto andar do prédio onde moravam, em São Paulo. Ela recebeu a pena de 26 anos e 8 meses.

Alexandre Nardoni, o cúmplice silencioso
Alexandre Nardoni (Lucas Oradovschi) foi condenado pelo homicídio triplamente qualificado da filha, Isabella Oliveira Nardoni, de 5 anos, em um caso que teve ampla repercussão nacional. O crime ocorreu em março de 2008, na cidade de São Paulo. Alexandre Nardoni foi sentenciado a 31 anos, 1 mês e 10 dias de prisão.

Roger Abdelmassih, o “cientista do mal” do grupo
Roger Abdelmassih (Anselmo Vasconcelos), ex-médico da área de reprodução assistida, foi condenado a 181 anos, 11 meses e 12 dias de prisão por crimes sexuais cometidos contra pacientes entre 1990 e 2008, na clínica que mantinha em São Paulo. Ele foi responsabilizado por estupros, atentados violentos ao pudor e outros atos libidinosos contra ao menos 52 mulheres, que estavam sob efeito de sedativos durante os procedimentos médicos.

O time está completo – só faltou um uniforme e um logo cintilante na tela.
O problema é que, nessa mistura de estética pop e roteiro dramático, Tremembé acaba transformando crimes reais em entretenimento leve, com personagens que flertam mais com o glamour do que com o peso da realidade.
Entre celas e confissões
A série tenta equilibrar drama e humanidade, mas o tom é incerto. O foco nas relações entre os presos, e nas disputas por poder, atenção e afeto, deixa em segundo plano o que realmente deu fama a cada um deles: os crimes que chocaram o país.
Em vez de mergulhar na complexidade moral desses personagens, o roteiro prefere apostar em festas improvisadas, olhares intensos e triângulos amorosos.
O resultado é uma obra visualmente elegante, porém emocionalmente rasa, em que o horror vira estética e a reflexão se dissolve em ritmo de clipe musical.

Espelho distorcido
Tremembé não é exatamente uma série sobre o sistema prisional brasileiro. É sobre o espetáculo que criamos em torno dos criminosos, e a forma como, sem perceber, transformamos cada um deles em figuras pop.
A prisão mais midiática do país se transforma em um palco onde monstros reais desfilam como celebridades de ficção, levantando uma questão incômoda: nosso fascínio por histórias de assassinos e True Crime, revela apenas curiosidade… ou algo mais profundo?