Ao caminhar pelas praias do litoral de São Paulo, você já percebeu como a textura da areia muda? As areias de Guarujá são mais ‘fofas’ e afundam ao pisar, deixando uma sensação de suavidade sob os pés, enquanto as areias de Santos e Praia Grande, por exemplo, parecem mais firmes.

Mas por que isso acontece? O que explica a diferença entre a areia “dura” e a “fofinha” das praias?

Para entender esse fenômeno natural, o Portal VTV News conversou com o professor João Miragaia, especialista em geomorfologia costeira, que explicou as principais causas por trás dessas variações.

Embora chamemos tudo de “areia”, tecnicamente esse termo se refere ao tamanho dos grãos, e não à sua composição. A maior parte das praias brasileiras é composta por ‘sedimentos de areia’, predominantemente de quartzo – mineral composto por dióxido de silício (SiO2).

Porém, a forma como esses grãos se distribuem e se encaixam entre si faz toda a diferença na textura percebida.

Segundo o professor, grãos menores se acumulam de maneira compacta, deixando pouco espaço entre eles. Isso cria uma sensação de “dureza” ao caminhar. Já grãos maiores, mais espaçados, formam areias soltas e fofas, que facilmente deslizam sob os pés.

Grãos, mar, vento e ondas

Um fator essencial para determinar o tamanho desses grãos é a intensidade das ondas do mar.

“Em praias onde as ondas são mais fortes, os sedimentos menores são retirados e levados para o fundo do mar, restando apenas os grãos maiores. Por outro lado, praias com ondas menores retêm os sedimentos finos, criando superfícies mais compactas e planas“, explica.

De acordo com o professor Miragaia, a profundidade do mar em frente à praia – chamada de batimetria – influencia diretamente na força das ondas. Águas profundas permitem que as ondas cheguem com mais energia, enquanto terrenos mais planos dissipam essa energia, gerando ondas menores.

Além da batimetria, a orientação da praia em relação ao vento e às ondas também influencia sua textura. “As ondas são geradas por ventos, que seguem padrões específicos. A posição da praia em relação a esses ventos determina se as ondas serão maiores ou menores”.

Entenda as interações

As praias de areia mais fina são geralmente planas, enquanto as de grãos maiores tendem a ser mais inclinadas.

O especialista explica: “A água das ondas interage de forma diferente com o sedimento em cada tipo de praia. Nas de grãos pequenos, a água demora mais para penetrar, empurrando o sedimento como um rodo e deixando a superfície uniforme“, detalha o especialista.

Já nas praias com grãos maiores, a água penetra rapidamente no sedimento, formando uma superfície mais inclinada. “Nas praias de sedimento grande, a água vai mais fundo e empilha o sedimento, tornando a praia mais inclinada”, acrescenta.

Essas interações entre vento, ondas e sedimentos tornam cada praia única. Do litoral de Santos às praias de Balneário Camboriú, as texturas variam conforme os fatores naturais que moldam esses cenários ao longo do tempo.

Por que a areia do Guarujá é ‘fofa’ e a de Santos mais ‘rígida’?

Segundo o professor, as praias do litoral paulista podem ser classificadas em duas categorias principais: dissipativas e refletivas, com base em suas características de areia e formação. “As praias dissipativas são aquelas com areia mais dura e plana, geralmente mais largas”, explica.

Ele destaca que essas praias, como as de Santos e do litoral sul, apresentam ondas menores, tornando-as ideais para atividades como caminhadas e esportes de praia. “Essas praias são bem compactas e a areia tende a ser mais dura, o que permite maior estabilidade para quem está caminhando ou praticando esportes”, complementa.

Por outro lado, o professor explica que as praias refletivas, como as do Guarujá e Bertioga, possuem areia mais grossa e fofa, com uma inclinação mais acentuada. “Essas praias têm ondas mais fortes, o que as torna mais atraentes para quem pratica surfe e outras atividades aquáticas“, afirma.

Ele ressalta que, ao norte de Santos, as praias começam a apresentar características refletivas. “À medida que subimos para o litoral norte, vemos a predominância dessas praias mais inclinadas e com maior agitação no mar“, conclui. A diferença de características entre essas duas categorias influencia o tipo de atividades e o perfil dos visitantes de cada região.