No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta-feira (5), a Organização das Nações Unidas reforçou o alerta contra a poluição por plásticos e conclamou governos a avançarem em um tratado internacional que interrompa a escalada do problema. Com mais de 400 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente — metade delas de uso único —, menos de 10% desse total é reciclado, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O impacto dessa produção já é notada em escala planetária: cerca de 11 milhões de toneladas de plástico chegam, a cada ano, a lagos, rios e oceanos — o equivalente a 2.200 Torres Eiffel despejadas nos ecossistemas aquáticos.
Segundo a pesquisa, os efeitos colaterais ultrapassam o campo ambiental e já alcançam o corpo humano. Microplásticos com até 5 milímetros de diâmetro estão presentes na água, no ar e até nos alimentos. A estimativa é que cada pessoa consuma mais de 50 mil partículas por ano, sem contar a inalação — uma cifra que escancara a impalpabilidade da contaminação.
Plástico no sangue da crise
A mensagem oficial do secretário-geral da ONU, António Guterres, foi direta: “A poluição plástica está sufocando o planeta.” O apelo internacional ocorre em meio à preparação de um novo tratado global, que será discutido em agosto por representantes de dezenas de países. O objetivo é pactuar um compromisso vinculante que cubra todo o ciclo de vida do plástico, da produção ao descarte, sob a lógica de economias circulares.
O descarte irregular, a queima e o uso indiscriminado de plásticos de uso único comprometem a biodiversidade, ameaçam a saúde humana e infiltram-se em camadas que vão do topo do Everest ao fundo dos oceanos — passando por tecidos humanos e até leite materno.
Sem mudanças estruturais, as projeções indicam que, até 2040, o volume de plástico despejado em ecossistemas aquáticos pode quase triplicar. Paralelamente, a exposição humana à poluição atmosférica fora dos limites seguros pode crescer 50% ainda nesta década.
Soluções possíveis, ação urgente
O tema do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, “Superar a Poluição Plástica” — do Beat Plastic Pollution — sintetiza o apelo por soluções urgentes e coordenadas. Segundo o PNUMA, já existem tecnologias e políticas disponíveis que poderiam mitigar drasticamente o problema, caso adotadas em escala. Governos, empresas e sociedade civil são chamados a reavaliar suas práticas: recusar, reduzir, reutilizar, reciclar e repensar o uso do plástico.
Comemorado desde 1973 e organizado pelo PNUMA, o Dia Mundial do Meio Ambiente se tornou o maior evento de mobilização ambiental do planeta. A edição de 2025, sediada pela Coreia do Sul, espera trazer à tona, justamente, não apenas os impactos da poluição plástica, mas também a necessidade de governança ambiental global com metas claras, prazos definidos e sanções para o descumprimento.
“A urgência não é retórica”, disse Guterres, ao afirmar que a construção de um tratado ambicioso e executável será decisiva para frear o que chamou de “flagelo ambiental”. Segundo ele, o futuro passa por acordos que respeitem a diversidade dos contextos locais, mas que sejam suficientemente amplos para integrar as metas climáticas e de desenvolvimento sustentável.
Leia a carta na íntegra (traduzido)
2025
Mensagem do Secretário-Geral
Este Dia Mundial do Meio Ambiente concentra-se em soluções para vencer a poluição por plástico. E com razão. A poluição por plástico está sufocando nosso planeta — prejudicando ecossistemas, o bem-estar e o clima. Os resíduos plásticos entopem rios, poluem os oceanos e ameaçam a vida selvagem. E à medida que se fragmenta em pedaços cada vez menores, infiltra-se em todos os cantos da Terra: do topo do Monte Everest às profundezas do oceano; do cérebro humano ao leite materno.
No entanto, existe um movimento por mudanças urgentes. Estamos vendo um engajamento público crescente… Passos em direção à reutilização e maior responsabilidade… E políticas para reduzir plásticos descartáveis e melhorar a gestão de resíduos. Mas precisamos ir além, mais rápido. Em dois meses, os países se reunirão para definir um novo tratado global para acabar com a poluição por plástico. Precisamos de um acordo ambicioso, confiável e justo este ano.
Que cubra o ciclo de vida do plástico, sob a perspectiva da economia circular… Que responda às necessidades das comunidades… Que esteja alinhado com metas ambientais mais amplas, os objetivos de desenvolvimento sustentável e além… E que seja implementado de forma rápida e completa. Exorto os negociadores a voltarem às negociações em agosto determinados a construir um caminho comum apesar das diferenças e entregar o tratado que nosso mundo precisa. Juntos, vamos acabar com a praga da poluição por plástico e construir um futuro melhor para todos nós.
Obrigado.