A Cúpula de Líderes do BRICS teve início neste domingo (6), no Rio de Janeiro, marcada por ausências que reduzem seu peso político e podem comprometer a visibilidade de um dos principais eventos da política externa do governo Lula. A confirmação de que os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, não participarão presencialmente do encontro acentuou o esvaziamento da reunião.
O Palácio do Planalto admite que outras ausências ainda podem ocorrer, especialmente entre os países do Oriente Médio. A diplomacia brasileira atua para mitigar os efeitos desse cenário, buscando preservar o multilateralismo e impedir que a falta dos principais chefes de Estado inviabilize consensos sobre temas como as guerras em curso, as barreiras comerciais e a proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Putin é representada pelo chanceler Serguei Lavrov e discursou por videoconferência. Sua ausência era prevista, devido à ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na Ucrânia. Por ser signatário do Estatuto de Roma, o Brasil teria a obrigação legal de prender o presidente russo, caso ele pisasse em território nacional.
Até o momento, estão confirmadas as presenças dos líderes ou representantes da:
- China: Li Qiang, primeiro-ministro
- Rússia: Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores
- Índia: Narendra Modi, primeiro-ministro
- África do Sul: Cyril Ramaphosa, presidente
- Irã: Abbas Araghchi, ministro das Relações Exteriores
- Arábia Saudita: príncipe Faisal bin Farhan Al-Saud, ministro das Relações Exteriores
- Egito: Mustafa Madbouly, primeiro-ministro
- Etiópia: Abiy Ahmed, primeiro-ministro
- Indonésia: Prabowo Subianto, presidente
- Emirados Árabes Unidos: Khalid bin Mohamed bin Zayed, príncipe herdeiro de Abu Dhabi
Apesar de um perceptível esvaziamento, o BRICS ainda desempenha um papel relevante nos debates internacionais de articulação política e diplomática, ao passo de despertar a atenção de potências desenvolvidas, como os Estados Unidos. Para compreender a atuação do grupo no cenário geopolítico contemporâneo, a redação do VTVNews preparou uma breve introdução destinada a contextualizar o leitor sobre os desdobramentos das próximas reuniões da cúpula.
O que é o BRICS
O BRICS é o bloco formado principalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — sigla consolidada após a adesão sul-africana em 2011. Criado oficialmente em 2009, o grupo articula países emergentes com o objetivo de fortalecer a cooperação econômica, aumentar a influência política no cenário internacional e buscar reformas em organismos multilaterais como ONU, FMI, OMC e Banco Mundial.
A despeito de sua proeminência econômica — os Brics representam 31,5% do PIB mundial, superando os 30,7% do G7, segundo a Acron Macro Consulting —, o grupo não é uma organização formal. Não possui orçamento próprio nem secretaria permanente, funcionando como um fórum diplomático de articulação política e econômica do Sul Global.

Estrutura e expansão do bloco
Atualmente, o BRICS conta com 11 países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia. Outros dez países são considerados parceiros — entre eles, Belarus, Bolívia, Cuba, Vietnã e Nigéria — com direito a participar de discussões, mas sem poder de voto.
A expansão foi impulsionada em 2024 por iniciativa da China, que busca ampliar a influência do bloco em contraposição à hegemonia ocidental representada pelo G7. A proposta, no entanto, dividiu os membros. O Brasil, por exemplo, teme perder protagonismo com a entrada de novos integrantes. A Índia também resistia, mas passou a indicar maior abertura diante da possibilidade de um gesto diplomático em direção à Arábia Saudita.
Desde sua origem, em resposta à crise financeira global e ao deslocamento do eixo econômico mundial, o BRICS tem buscado reafirmar o protagonismo dos países emergentes. Para além das reuniões diplomáticas, o grupo criou instituições próprias como o Novo Banco de Desenvolvimento, que busca financiar projetos dos países-membros de forma autônoma.