Na noite de 26 de setembro de 1932, três aviões do governo Getúlio Vargas lançaram bombas sobre Bragança, em uma das ações mais violentas da Revolução Constitucionalista. Um dos explosivos quase atingiu a estação ferroviária da cidade. Duas pessoas ficaram gravemente feridas e foram socorridas à Santa Casa local.
O ataque foi noticiado no dia seguinte pelo jornal Correio de S. Paulo, que descreveu o episódio como mais uma investida da aviação federal contra cidades abertas. “Coube a vez à linda cidade de Bragança suportar esse ataque”, afirmou a publicação.
Apesar da manchete citar apenas “Bragança”, especialistas ouvidos pela redação especulam que se tratava de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, dada as características férreas e a oposição paulista ao regime.
Ferrovia e contingente militar fizeram da cidade alvo estratégico
À época, Bragança Paulista era parte da chamada Frente Mineira, que reunia cidades como Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. O município abrigava um expressivo contingente de revolucionários e, por contar com ligação ferroviária, funcionava como ponto de escoamento logístico de armas e alimentos.
O bombardeio aconteceu semanas após o recuo das tropas constitucionalistas da região, motivado pela falta de munição e inferioridade numérica. Ainda assim, Bragança permaneceu como ponto relevante no mapa do conflito, razão pela qual foi alvo da ofensiva aérea federal.

O contexto da revolta e o papel paulista
A Revolução Constitucionalista de 1932 teve início em 9 de julho daquele ano, como resposta à ruptura institucional imposta por Vargas após assumir o poder em 1930. O novo governo dissolveu o Congresso, revogou a Constituição de 1891 e passou a governar por decretos, centralizando as decisões no Executivo federal. A insatisfação paulista, alimentada pela perda de protagonismo político na República, culminou no levante armado.
Segundo o historiador Cláudio Moreira Bento, o estopim do movimento remonta ao 23 de maio, com a morte de quatro estudantes em um protesto contra o governo: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Eles foram baleados por forças getulistas durante uma manifestação em maio daquele ano. A partir desse episódio, um movimento clandestino batizado com as iniciais dos jovens (MMDC) organizou o levante que viria a ser conhecido como Revolução Constitucionalista. Formou-se uma frente revolucionária composta por unidades da Força Pública, alguns batalhões do Exército e milhares de voluntários paulistas.
Bragança Paulista teve papel expressivo nesse cenário. De acordo com registros históricos, ao menos 119 bragantinos se alistaram para o combate, doze dos quais perderam a vida durante o conflito. “A região aqui foi forte para a agremiação dos soldados”, explicou o professor Carlos Alexandre das Neves. Segundo ele, a proximidade com o sul de Minas Gerais posicionava Bragança como linha de frente nas investidas federais.
A guerra e seus desdobramentos
Apesar da derrota militar, o movimento constitucionalista exerceu pressão suficiente para que o governo federal convocasse uma Assembleia Constituinte. A nova Constituição foi promulgada em 1934, introduzindo avanços significativos no ordenamento jurídico do país, como o voto secreto e os direitos trabalhistas.
A ofensiva aérea contra Bragança, em setembro, já acontecia nos momentos finais do conflito. Mesmo assim, o ataque expôs a estratégia do governo Vargas em reprimir focos de resistência por vias não convencionais. O episódio permanece como um dos momentos mais emblemáticos da participação bragantina na Revolução de 1932.
