A cada aumento de 10% na presença de alimentos ultraprocessados na dieta, o risco de morte prematura sobe 3%. A constatação é de um estudo liderado por pesquisadores da USP e da Fiocruz, com base em dados alimentares e de mortalidade de oito países.
A pesquisa indica que, dependendo do nível de consumo, os ultraprocessados podem responder por até 14% das mortes precoces em determinadas populações.
Os pesquisadores identificaram uma relação direta — e linear — entre o consumo de ultraprocessados e a mortalidade geral. A taxa de impacto varia conforme o padrão alimentar de cada país: nos Estados Unidos e Reino Unido, onde esses produtos representam mais da metade das calorias ingeridas, as mortes atribuíveis giram em torno de 14%. No Brasil, o impacto estimado é menor, mas ainda expressivo.
Segundo o pesquisador Eduardo Nilson, da Fiocruz Brasília e do Nupens/USP, o dado reforça um padrão já identificado em dezenas de estudos anteriores, que associam o consumo de ultraprocessados a doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes, distúrbios cardiovasculares, doenças digestivas e até transtornos de ordem mental.
Nilson ressalta que os ultraprocessados — formulações industriais ricas em aditivos e pobres em alimentos in natura — interferem em múltiplas dimensões da saúde. Entre os fatores apontados estão alterações físicas e químicas da matriz alimentar, o uso sistemático de aromatizantes, emulsificantes e corantes, e o estímulo ao consumo excessivo por conta da palatabilidade e do baixo custo.

Recomendação: regulação e políticas fiscais
Diante da magnitude do impacto, os autores do estudo defendem que os ultraprocessados sejam oficialmente reconhecidos como fator de risco para a saúde pública. A principal medida recomendada é a adoção de políticas regulatórias e fiscais que incentivem o consumo de alimentos frescos e reduzam o acesso facilitado aos industrializados.
Entre os instrumentos sugeridos estão rotulagem nutricional mais clara, proibição de venda em ambientes escolares, restrição de publicidade e tributação seletiva — modelo já previsto na Reforma Tributária aprovada em 2023, que prevê isenção para alimentos da cesta básica e taxação para bebidas adoçadas.
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Nilson reforça que medidas informativas, como a atualização e aplicação do Guia Alimentar para a População Brasileira, precisam estar acompanhadas de transformações no ambiente alimentar, que ofereçam opções viáveis e acessíveis ao cidadão comum. “É inviável responsabilizar o consumidor individualmente, sem modificar as estruturas que influenciam suas escolhas”, afirma.
Colaboração internacional
O estudo reuniu pesquisadores de universidades e centros de pesquisa do Brasil, Chile, Colômbia, Canadá, Austrália, México, Reino Unido e Estados Unidos.
A análise comparou padrões de consumo alimentar detalhados e estatísticas nacionais de mortalidade em cada país, oferecendo uma estimativa robusta do impacto global dos ultraprocessados. A pesquisa foi publicada na revista científica American Journal of Preventive Medicine.