Pesquisadores do Instituto de Química da Unesp, em Araraquara, desenvolveram um método inovador para detectar fraudes com metanol em amostras de gasolina, etanol e bebidas alcoólicas destiladas, como cachaça, vodka e whisky. A técnica é rápida, econômica e eficiente, e poderá ser aplicada em campo por qualquer profissional treinado, sem a necessidade de estrutura laboratorial ou técnicos especializados.
A pesquisa foi publicada em fevereiro de 2022, e patenteada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com apoio da Agência Unesp de Inovação (AUIN).
O método transforma o metanol presente na amostra em formol por meio de uma reação química com sal e ácido, gerando alterações de coloração perceptíveis a olho nu. O processo leva cerca de 15 minutos para bebidas e etanol, e 25 minutos para gasolina.
A classificação visual das amostras segue o seguinte padrão:
- Verde: sem quantidades significativas de metanol
- Verde amarronzado: entre 0,1% e 0,4%
- Marrom: entre 0,5% e 0,9%
- Roxo: entre 1% e 20%
- Azul-marinho: entre 50% e 100% de metanol

Além da facilidade de aplicação, o método se mostrou 100% preciso nas análises feitas até o momento e tem potencial para ser transformado em kit de baixo custo, estimado em R$ 15,00. Outros métodos tradicionais, como a cromatografia gasosa, que exige estrutura técnica complexa e pode custar até R$ 500,00 por análise.
Aplicações em bebidas e eventos
A metodologia também foi testada com sucesso em bebidas destiladas, ampliando seu potencial para o setor de eventos. Hoje, não há kits comerciais capazes de medir com precisão o metanol nessas bebidas. De acordo com o MAPA, o limite permitido é de 20 mg por 100 ml, o equivalente a poucas gotas.
“O promotor de eventos não pode se arriscar a distribuir bebida sem saber sua procedência”, alertou a pesquisadora Larissa Modesto, autora principal do estudo quando o material foi publicado. “É uma ferramenta boa, barata e que pode evitar intoxicações“, completou.
A técnica ainda gerou uma segunda patente, voltada à análise de vinagres derivados de vinho ou álcool, também capaz de detectar metanol com precisão.
Casos de metanol no Brasil
O Ministério da Saúde informou neste domingo (5) que o Brasil tem 209 casos em investigação de intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas.
Até o momento, foram 16 casos confirmados – sendo 14 em São Paulo e 2 no Paraná – consolidados pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS), a partir de dados enviados pelos estados.
Segundo balanço da Agência Nacional do Petróleo, no primeiro semestre de 2021 foram lavrados 288 autos de infração por comercialização de combustíveis fora das especificações legais. Desses, 9,1% das gasolinas e 17,8% dos etanóis apresentavam teor de metanol acima do permitido.