Na última coluna abordei algumas diferenças entre Brasil e Portugal e ressaltei que quando a escala de um país como Portugal é diminuta, isso gera maior proximidade entre as pessoas. A coluna foi uma das mais lidas e só confirma, a meu ver, que as pessoas gostam e querem mesmo é afeto e gentileza.
A coluna dessa semana vai na mesma direção. Hoje vou falar de convívio, ou melhor dizendo, como conviver e respeitar as regras sociais portuguesas. Não que elas difiram muito de algumas regras de convívio brasileiras, mas são mais explícitas e por isso mesmo merecem algum destaque.
Há quem diga que a região do norte de Portugal, e o Porto, principalmente, seja a mais acolhedora do país. Não há português que duvide ou ponha em xeque a hospitalidade do portuense, mesmo que essa constatação desagrade alguns lisboetas.
Quando por cá chegamos, nosso convívio social era bastante restrito. No máximo 3 ou 4 casais de amigos que se reuniam toda sexta feira na praça de alimentação de um mercado local. Como era de se esperar, levou algum tempo para que a amizade entre nós vingasse e mudasse de patamar.

Com o tempo a praça de alimentação deixou de ser o local de encontro e demos início aos jantares em nossas casas. E, convenhamos, nada mais íntimo e informal que convidar amigos para jantar em sua casa.
Sempre que há um convite para jantar na casa de alguém, as mulheres dos casais convidados invariavelmente ligam para a anfitriã perguntando se ela precisa de ajuda e o que precisa que se leve para o jantar. Tal iniciativa apesar de não ser inédita, não é uma praxe no Brasil, e é bem simpática em Terras Lusas.
No dia do jantar, os convidados nunca chegam de mãos abanando. Há sempre uma garrafa de vinho, flores ou bombons e até há quem traga sobremesa por conta própria. Se até aqui tudo parece exatamente igual ao que acontece em terras tupiniquins é no decorrer do jantar que as diferenças aparecem.
Uma vez instalados, os convidados sem nenhuma timidez põem a mão na massa e ajudam na cozinha, retiram pratos do forno, servem bebidas, abrem novas garrafas de bebidas facilitando o trabalho dos anfitriões. A dinâmica do jantar até parece um ballet sincronizado e todos sentem-se tão confortáveis como se estivessem em suas próprias casas. E quando digo todos, incluo homens e mulheres sem distinção.

Outra diferença relevante é a quantidade de garrafas de vinho que se consome num jantar. Excetuando casos tanto para o bem quanto para o mal, cada convidado consome, em média, uma garrafa e meia de vinho. Isso sem falarmos na quantidade de doces que são servidos como sobremesa, no mínimo uns 4 tipos de doces.
Terminado o jantar, a dança sincronizada dá lugar ao que brinco ser o “mutirão da limpeza”. A maioria dos convidados junta-se aos anfitriões para retirar copos e pratos da mesa e acreditem se quiserem, os colocam na máquina de lavar.
Isso sem falar do recolhimento dos pratos principais que são meticulosamente armazenados em recipientes e guardados na geladeira. Ou seja, a casa fica impecavelmente arrumada como se não tivesse havido jantar algum.
Para nós brasileiros, essa forma de viver e de conviver dos portugueses nos causa um pouco de estranheza, já que a maioria de nós está acostumada que os empregados ou só os donos da casa façam essa parte doméstica enquanto os convidados simplesmente aproveitam os bons momentos do jantar sem nenhum aborrecimento.
Por falar em empregados domésticos, por aqui o que se vê são diaristas e empresas de limpeza que limpam as casas semanalmente ou de quinze em quinze dias. A exceção de se ter uma empregada que durma em casa só acontece quando o nível financeiro assim o permite e arquitetura do imóvel também, já que a maioria dos apartamentos não tem quarto de empregada.
Dito isso, é bom lembrar que todo imigrante perceba que é necessário, e de bom tom, respeitar e se adaptar às regras do país que lhe acolhe.
