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Em Terras Lusas – Passado Glorioso

O bom de escrever semanalmente, além de receber comentários de leitores que não conheço ou que pedem informações sobre um determinado tema, é poder me reconectar com amigos de longa data que acabam por ler a coluna, divulgá-la em suas redes sociais, e ainda, sugerir temas de seu interesse.

Como bem diz o ditado, quem tem amigos não morre pagão, não é?

Essa semana recebi uma sugestão de uma amiga sobre um assunto de que não tinha o menor conhecimento: a Real Fábrica de Gelo, localizada na Serra de Montejunto.

Mas antes de entrar no tema da coluna propriamente dito, vou contar um pouco sobre a amizade que tenho com essa amiga (Teca) e com seu marido (Flavio). Perdoem-me os leitores, mas nesse espaço eu conto o milagre e revelo o santo.

Nosso trio, apesar de não conviver como gostaríamos, se conhece há mais de 40 anos, e quando o destino nos propicia oportunidades para nos reencontrarmos, parece que o tempo não passou e que estivemos juntos há poucos dias.

Conhecemo-nos quando estávamos no primeiro ano da faculdade de Direito na PUC-SP, e desde logo, nossa conexão foi imediata. Éramos jovens, ambiciosos e tínhamos a ilusão de que o mundo que se abria à nossa frente iria ser bem melhor. Afinal o ano era 1982.

Flávio era o aluno que sabia desde o primeiro dia do curso que caminho iria seguir logo que a faculdade acabasse. Teca era a aluna sensível que deixava o ambiente menos árido com suas indagações filosóficas e sua deliciosa gargalhada que virou sua marca registrada conhecida por nossa turma e, quiçá, por toda a faculdade. Quanto a mim, era o aluno que observava a tudo e a todos, e espreitava o futuro com olhos curiosos, achando que exercer a advocacia me transformaria em um yuppie. Ledo engano o meu. Cada qual seguiu seu destino: juiz, advogada/psicóloga e advogado/escritor.

Mas vamos ao que interessa: a Fábrica da Neve de Montejunto.

De inspiração espanhola, o hábito de tomar sorvetes e bebidas frescas no verão foi introduzido em Portugal pela corte de Filipe II, no século XVIII.

Não existindo, na época, as modernas tecnologias de refrigeração, o recurso à neve e ao gelo eram as únicas alternativas possíveis. Com o consumo cada vez mais frequente, e o aumento das temperaturas, a procura por esse bem escasso e valioso foi inevitável, assim como a sua comercialização.

A Real Fábrica do Gelo, em Montejunto, foi criada para abastecer a cidade de Lisboa e arredores e sua construção, que parece ser anterior ao ano de 1741, foi atribuída aos freis dominicanos.

O processo para a confeção do gelo era simples. A fábrica aproveitava-se do clima frio e úmido da região da Serra de Montejunto para congelar a água de forma natural.  A água era retirada dos poços e armazenada em grandes reservatórios durante as noites de inverno.Em seguida, era transferida para tanques rasos de congelação, onde congelava naturalmente.

Uma vez que a água estivesse congelada, o corneteiro da fábrica entrava em cena. Munido de sua corneta, em plena madrugada, ele seguia a cavalo até a vila de Pragança para acordar os funcionários para a recolha do gelo antes que o sol raiasse. Os primeiros a chegar e a recolher o gelo, ganhavam dinheiro suficiente para todo o ano. Nada mal, não?

Mas o trabalho era árduo. O gelo era partido e levado nas costas em cestos de 65 quilos, por homens e mulheres, para ser armazenado em grandes silos. Nestes silos, os trabalhadores andavam sobre o gelo para o deixar compactado, ficando acondicionado até os meses de abril e maio (próximo ao início do verão na Europa).

Por fim, embalado em palha e juta, o gelo seguia serra abaixo, inicialmente em lombos de burro e carros de boi, até às margens do Tejo, de onde seguia até o Terreiro do Paço. Dali, o gelo era distribuído para a Casa Real, alguns importantes cafés da cidade de Lisboa, como o Martinho da Arcada, e também para o Hospital de Todos os Santos para ser utilizado em tratamentos hospitalares.

As ruínas da Real Fábricade Gelo de Montejunto ainda podem ser exploradas por visitantes e turistas, o que deve ser uma experiência bastante interessante que quero experimentar na primeira oportunidade.

Dedico essa coluna aos meus queridos amigos Teca e Flávio, e ainda, à senhora Cristina Leal, que fez um excelente vídeo sobre a Real Fábrica de Gelona Serra De Montejunto.

Autor

  • Paulo Visani Rossi

    Paulo Visani Rossi é advogado especializado em Direito Autoral e assessor de imprensa, atua como consultor de marketing na Europa e vive há 9 anos em Portugal

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