Este é o meu texto de estreia na coluna de literatura e cultura pop do VTVNews, e eu já começo com uma notícia daquelas que todo apaixonado por livros adora comentar: importante, relevante e, de certo modo, curiosa.
É um prazer enorme poder falar sobre literatura em um espaço como este, e ainda mais quando o tema é um dos maiores prêmios do mundo: o Nobel de Literatura.
O vencedor de 2025 é o escritor húngaro László Krasznahorkai, autor do intenso e visionário “Sátántangó”. Embora seja amplamente reconhecido entre críticos e leitores especializados, ele ainda é pouco conhecido pelo público brasileiro, o que torna esta premiação uma excelente oportunidade para descobrirmos sua obra.
“Estou profundamente feliz por ter recebido o Novel – sobretudo porque esta premiação significa que a literatura existe por si só, para além de uma série de expectativas não literárias, e que ela ainda é lida. E, para aqueles que a leem, oferece uma certa esperança de que a beleza, a nobreza e o sublime ainda podem existir por si só. Talvez ofereça esperança até mesmo àqueles nos quais a própria vida mal se manifesta. Confie – mesmo quando não pareça haver motivo para isso.”
– László Krasznahorkai, em nota.
Mais livros no Brasil em 2026
A Companhia das Letras, responsável pela única publicação do autor no Brasil até agora, anunciou nesta sexta-feira (10) que lançará dois novos livros de Krasznahorkai em 2026: “O Retorno do Barão Wenckheim” (publicado originalmente em 2016), com tradução de Zsuzsanna Spiry, e “Herscht 07769”, um romance monumental de mais de 400 páginas escrito em uma única frase.
“Sátántangó”
Lançado por aqui em 2022, “Sátántangó” apresenta uma aldeia remota e decadente, habitada por personagens desajustados, como um médico alcoólatra que observa obsessivamente seus vizinhos e uma menina com deficiência que tenta matar seu gato. Todos aguardam a chegada de Irimiás, um homem misterioso que pode ser tanto um profeta quanto o próprio demônio.
O livro inspirou o aclamado filme de 7 horas e meia, “O Tango de Satã”, dirigido por Béla Tarr, conterrâneo e colaborador frequente de Krasznahorkai.
Veja o trailer:
“O Retorno do Barão Wenckheim”
Em “O Retorno do Barão Wenckheim”, o autor retoma sua prosa de parágrafos longos e frases contínuas para narrar a história de Béla Wenckheim, um aristocrata húngaro de 64 anos que retorna à sua cidade natal após anos de exílio em Buenos Aires. Ingênuo e excêntrico, ele sonha reencontrar seu antigo amor, Marika, mas é recebido por moradores que acreditam que ele traz consigo uma fortuna capaz de mudar o destino da cidade.
“Herscht 07769”
Já “Herscht 07769” acompanha Florian Herscht, um homem corpulento e de passado nebuloso que vive em uma pequena cidade da Turíngia, na Alemanha. Entre tarefas simples, como limpar ruas e remover pichações, Florian encontra consolo nas conversas com uma bibliotecária e nas lições filosóficas de um ex-professor de física, revelando o olhar compassivo e quase místico de Krasznahorkai sobre a solidão e a transcendência.

Obra poderosa e visionária
Krasznahorkai foi anunciado vencedor do Nobel de Literatura de 2025 pela Academia Sueca, “por sua obra poderosa e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”. Pelo reconhecimento, ele embolsará uma pequena fortuna: o equivalente a R$ 6,2 milhões. Isso sem contar o mais importante, o prestigio para uma vida toda.
Em 2015, o autor já havia recebido o Man Booker Prize pelo conjunto da obra. A ensaísta americana Susan Sontag o definiu como “um mestre do apocalipse”.
Desafie-se na leitura de Krasznahorkai
Assim como aconteceu no ano passado, quando a sul-coreana Han Kang venceu o Nobel e despertou a curiosidade dos leitores com A Vegetariana, este é um excelente momento para mergulhar em uma literatura que desafia, provoca e transforma.
Mesmo com uma escrita exigente, László Krasznahorkai promete recompensar quem se deixar levar por sua prosa – uma jornada densa, poética e profundamente humana.