Segundo a Agência Reuters, subiu para 78 o número de mortos nas enchentes que atingiram o estado do Texas, nos Estados Unidos, desde a última sexta-feira (4). Entre as vítimas, há 28 crianças, segundo confirmou o xerife do Condado de Kerr, Larry Leitha à agência. O epicentro do desastre foi na região central do estado, próximo ao Rio Guadalupe, que transbordou após um volume histórico de chuvas, atingindo áreas residenciais e um tradicional acampamento cristão de verão para meninas.
As buscas continuam por ao menos 41 pessoas desaparecidas. Entre elas, estão campistas do Camp Mystic, que abrigava cerca de 700 meninas no momento do alagamento. As chuvas provocaram uma elevação de mais de nove metros no nível do rio em menos de duas horas, segundo medição do Serviço Nacional de Meteorologia. De acordo com autoridades locais, essa foi uma das maiores tragédias naturais da história recente da região.

Camp Mystic: crianças entre as vítimas e desaparecidos
O acampamento Camp Mystic, com quase um século de existência, foi um dos locais mais atingidos. Dez meninas e uma monitora continuam desaparecidas. Três mortes já foram confirmadas por familiares em postagens nas redes sociais. Uma conselheira que estava na área mais elevada do acampamento relatou que as meninas tiveram que ser retiradas em caminhões militares, após a água invadir até os alojamentos mais altos.
O cenário no local é de devastação: construções destruídas, colchões cobertos de lama e marcas d’água a mais de um metro e meio do chão. O governador do Texas, Greg Abbott, que esteve na região no sábado (5), afirmou que o estado seguirá mobilizado para localizar os desaparecidos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se manifestou e prometeu visitar a área nos próximos dias.
A #Texas National Guard truck rolls by with the back cargo area FULL OF RESCUED GIRLS from the campground that was WIPED OUT by the flood there.#TexasFloods pic.twitter.com/ztQ3OIlPQs
— DJ Broid (@DjBroid) July 6, 2025
Evacuações e operação de resgate em curso
As chuvas intensas deixaram o solo saturado, aumentando o risco de uma nova onda de cheias. Segundo o chefe da Defesa Civil do Texas, Nim Kidd, já há registros de uma “nova parede d’água” descendo pelas vertentes do Rio Guadalupe. Mais de 850 pessoas foram resgatadas, algumas encontradas agarradas a árvores. Equipes da Guarda Costeira e da FEMA, a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, atuam na região após a declaração de estado de desastre feita pela Casa Branca.
A tragédia reviveu a memória de um evento similar ocorrido em 1987, quando dez adolescentes morreram após uma enchente repentina também no Rio Guadalupe. O episódio inspirou o filme Enchente: Quem Salvará Nossos Filhos?, exibido com frequência na televisão brasileira.
Além disso, a atuação do governo federal nos alertas climáticos foi questionada após a tragédia. Desde o início da gestão Trump, a NOAA — agência que supervisiona o Serviço Nacional de Meteorologia — sofreu cortes significativos em sua força de trabalho. Ex-diretores afirmam que o esvaziamento do órgão compromete a capacidade de prever desastres e emitir alertas eficazes.
Trump, ao ser questionado sobre possíveis falhas, isentou responsabilidades diretas e afirmou que “foi uma catástrofe de 100 anos”. O presidente ainda atribuiu a responsabilidade à administração anterior, mas minimizou o impacto dos cortes e evitou comentar sobre a atuação da FEMA.
Resposta internacional e posicionamento brasileiro
O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, divulgou nota lamentando as mortes provocadas pela enchente. Em comunicado, o Itamaraty expressou solidariedade às famílias das vítimas e afirmou que não há, até o momento, registro de brasileiros entre os atingidos.
O texto também ressalta que “as alterações climáticas intensificam eventos extremos e aumentam a frequência de desastres semelhantes, o que torna ainda mais urgente a necessidade de medidas conjuntas por parte da comunidade internacional.”

Segundo especialistas da região, o Texas Hill Country — onde se localiza o Condado de Kerr — é conhecido como “corredor de enchentes” por conta de sua geografia montanhosa e solo com baixa absorção. O diretor da Community Foundation of the Texas Hill Country, Austin Dickson, explicou que “quando chove, a água não penetra no solo. Ela desce morro abaixo.” A precipitação registrada na última semana já ultrapassa 250 milímetros, volume superior ao da tragédia de 1987.
/Com informações da Reuters e TNYT