O mês de novembro marca a campanha Novembro Azul, criada para conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata, doença que mais atinge homens no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
A estimativa mais recente (2023-2025) do INCA indica mais de 71 mil novos casos por ano, representando cerca de 30% dos tumores masculinos, excluindo o câncer de pele não melanoma. Ainda, de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 16 mil homens morrem anualmente em decorrência da doença.
Câncer de próstata: quando o silêncio é o maior inimigo
O câncer de próstata é um tumor que se desenvolve lentamente e, na fase inicial, geralmente não apresenta sintomas, tornando o diagnóstico precoce essencial. Quando detectado cedo, as chances de cura chegam a 90%.
Em entrevista à VTV News, o Dr. Wilson Busato, supervisor da Disciplina de Câncer de Próstata da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), destacou:
“O câncer de próstata apresenta um crescimento muito lento e, de início, está confinado na próstata. Se o diagnóstico for feito nesse momento, é possível oferecer algum tratamento curativo como prostatectomia radical ou radioterapia. Mas se o diagnóstico for feito quando a doença já saiu da próstata e se espalhou, não há mais chance de cura e devemos recorrer a tratamentos longos, mais agressivos e com mais riscos aos pacientes, como quimioterapia e hormonioterapia.”
O Dr. Wilson ressalta que um diagnóstico precoce está associado à cura e à melhor qualidade de vida, evitando tratamentos caros e invasivos.
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos, como a prostatectomia robótica e a radioterapia de precisão, aumentaram a eficácia dos tratamentos e reduziram os riscos de complicações.
Principais sintomas e sinais de alerta
Em muitos casos, o câncer de próstata não apresenta sintomas nas fases iniciais. No entanto, alguns sinais podem indicar que é hora de procurar um especialista. Entre eles estão:
- Dificuldade para urinar ou jato fraco de urina;
- Sensação de bexiga cheia mesmo após urinar;
- Dor ou ardência ao urinar;
- Presença de sangue na urina ou no sêmen;
- Dor na região lombar, pélvica ou nos ossos;
- Disfunção erétil em alguns casos.
A presença de um ou mais desses sintomas não significa necessariamente câncer, mas exige avaliação médica. O primeiro passo é procurar um urologista, que poderá solicitar exames como dosagem do PSA e o toque retal para avaliar a glândula prostática.

Prevenção e exames: diálogo e informação salvam vidas
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens a partir dos 50 anos procurem um urologista para avaliação individual. Mas, aqueles com histórico familiar ou de raça negra devem iniciar o acompanhamento aos 45.
O urologista Dr. Bruno Benigno, ouvido pela VTV News, reforça que a prevenção deve começar cedo, especialmente entre os homens com fatores de risco.
O médico explica que o acompanhamento deve incluir dosagem do PSA e exame de toque retal, e que o estilo de vida também é parte fundamental da prevenção.
“A prevenção envolve um estilo de vida saudável: alimentação equilibrada, manutenção de peso adequado, atividade física regular, evitar tabagismo e controle de fatores metabólicos, como obesidade e diabete. Estudos demonstram associação entre obesidade e maior risco de câncer de próstata.”
Benigno ressalta que cada paciente deve discutir com o seu urologista os riscos e benefícios dos exames, pois o acompanhamento deve ser individualizado.
Os mitos que ainda afastam os homens do consultório
Mesmo com os avanços nas campanhas de conscientização, muitos homens ainda evitam procurar o urologista por causa de mitos e desinformações. O Dr. Bruno Benigno explica que essa resistência está ligada a barreiras culturais e a uma visão distorcida sobre o cuidado masculino.
“Diversos estudos apontam para barreiras culturais e psicológicas: sensação de constrangimento com o toque retal, preconceitos sobre masculinidade, medo de diagnóstico de câncer, desvalorização da própria saúde entre os homens, expectativa de ‘sou forte, não preciso consultar’.”
Segundo Benigno, entre os mitos mais comuns estão:
- “Não tenho sintomas, então não preciso me preocupar.” O câncer de próstata, em suas fases iniciais, é geralmente assintomático. A ausência de sintomas não significa que está tudo bem.
- “O exame de toque é doloroso ou vergonhoso.” O procedimento é rápido, simples e indolor, e serve para complementar o exame de sangue (PSA).
- “PSA alto é sinônimo de câncer.” O resultado pode estar alterado por outros motivos, como inflamações ou aumento benigno da próstata.
- “Fiz o exame uma vez e não preciso repetir.” O acompanhamento deve ser contínuo e orientado por um especialista, conforme idade e fatores de risco.
- “Se o diagnóstico for positivo, vou perder minha virilidade.” Hoje, tratamentos modernos, como a cirurgia robótica e a radioterapia de precisão, permitem boa recuperação e preservação da qualidade de vida.
Como reforça o Dr. Benigno, “é necessário superar esse receio cultural, mostrar que o acompanhamento não é sinônimo de doença, mas sim de cuidado, prevenção e autonomia masculina.”
Barreiras culturais e o medo do diagnóstico
Apesar da importância da prevenção, muitos homens ainda resistem a procurar o médico. O Dr. Bruno Farias, psicólogo clínico, explicou à VTV News que o comportamento de negação é uma das principais barreiras emocionais:
“Quando o ser humano está diante de alguma angústia, um dos mecanismos para afastar esse incômodo é a negação. A nossa mente encontra uma maneira de negar, de fingir que aquilo não é real. Então, uma das dificuldades que fazem com que muitos homens não cuidem da saúde, principalmente quando falamos da saúde da próstata, nós vamos encontrar o mecanismo da negação.”
Nesse sentido, o Dr. Bruno Farias explica que quando o homem pensa na possibilidade de ter um câncer ou fazer um exame que revele algo errado, isso gera angústia e a mente nega.
Segundo o psicólogo, esse comportamento está associado também à masculinidade tóxica, que reforça a ideia de que o homem não pode demonstrar vulnerabilidade.
“A masculinidade tóxica idealiza uma figura de homem que é uma idealização patológica. E, nessa idealização, o homem não pode demonstrar fraquezas, não pode demonstrar preocupação e ele não pode se colocar aos cuidados de uma outra pessoa, porque, para a masculinidade tóxica, isso é inferioridade.”
A influência da cultura e da sexualidade
O psicólogo e psicoterapeuta Dr. Edson França, em entrevista à VTV News, também apontou fatores culturais como causas da resistência masculina:
“A grande dificuldade masculina de cuidar de si mesmo na sua questão genital talvez seja a cultura, que faz com que os homens não olhem muito para as questões genitais, diferente das mulheres que, desde crianças e adolescentes, vão ao ginecologista. Fazer consultas já faz parte da cultura feminina, enquanto os homens não são levados quando adolescentes ou jovens adultos a um urologista.”
Ele explica que isso cria uma barreira para buscar esse tipo de atendimento:
“Os homens têm resistência a buscar esse tipo de apoio porque isso fica muito próximo às questões da sua sexualidade, como se a sexualidade masculina fosse algo de uma intimidade única. No desenvolvimento da sexualidade, existe uma diferença muito grande na forma como os adolescentes homens lidam com o tema, com grande temor e repressão à homossexualidade, o que cria uma grande repressão quando se trata de cuidar dos exames urológicos, como toque retal.”
Para o psicólogo, o ideal seria incentivar os meninos desde cedo a fazer exames periódicos, construindo hábitos de prevenção e quebrando o tabu que ainda cerca a saúde masculina.

Novembro Azul e as campanhas de conscientização
Campanhas como o Novembro Azul ajudam a romper essas barreiras e têm impacto real na vida das pessoas.
“O Sistema de Saúde realiza diversas campanhas maravilhosas. Essas campanhas possuem um grande alcance, elas conseguem levar informações para muitas pessoas, e eu gostaria que fossem mais reconhecidas, recebessem mais verbas, porque elas realmente salvam vidas”, afirmou Bruno Farias à VTV News.
Ele também destaca o papel da família:
“Companheiros, companheiras e familiares precisam começar a realizar dois tipos de comportamentos. O primeiro é passar a cuidar da saúde de forma preventiva. Para isso, precisamos reconhecer e avisar os nossos familiares que estão praticando negação ou esquiva.”
Segundo Dr. Wilson Busato (SBU), a instituição realiza neste ano uma série de ações gratuitas, como mutirões de atendimento urológico, o “Novembrinho Azul”, voltado à saúde infantil, e a Corrida Novembro Azul, que une esporte e conscientização. “A mídia tem um papel crucial em divulgar e informar corretamente a população masculina”, ressaltou o especialista.
Quando e onde buscar ajuda
Homens a partir dos 45 anos, ou 40 anos com histórico familiar, ou fatores de risco, devem procurar um urologista para avaliação. O atendimento está disponível na rede pública de saúde, com encaminhamento nas unidades básicas (UBSs), e também na rede privada e planos de saúde.
Porém, vale ressaltar que o diagnóstico precoce é o principal aliado contra a doença, e a consulta regular é o primeiro passo. Em caso de sintomas urinários ou histórico familiar, a avaliação médica deve ser feita imediatamente.
Coragem
O Novembro Azul é mais do que uma campanha: é um chamado à conscientização e à coragem. É um convite para quebrar o silêncio, combater o preconceito e colocar o autocuidado em dia.
Os especialistas ouvidos pela VTV News são unânimes: cuidar de si é um ato de responsabilidade e amor-próprio.
Quanto antes o homem buscar informação e acompanhamento médico, maiores são as chances de cura, de qualidade de vida e de um futuro mais saudável.