O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (6) que irá impor uma tarifa adicional de 10% a países que se alinharem às políticas “antiamericanas” do BRICS, grupo que reúne grandes economias emergentes. A declaração foi publicada por Trump na rede social Truth Social, no mesmo dia em que os líderes do bloco abriram a cúpula anual no Rio de Janeiro. “Não haverá exceções para essa política”, escreveu.
A medida foi divulgada poucas horas após a publicação do comunicado conjunto do BRICS, no qual os líderes criticaram o aumento global de tarifas comerciais — sem citar diretamente os Estados Unidos, mas reiterando preocupação com o impacto dessas políticas sobre o comércio internacional.
O anúncio ocorre enquanto a atual administração norte-americana trabalha para concluir dezenas de acordos comerciais antes do prazo final de 9 de julho, data em que deve entrar em vigor uma nova rodada de tarifas retaliatórias.

Com a atuação dos fóruns tradicionais, como o G7 e o G20, afetada por divergências internas e pela política isolacionista americana, o BRICS tenta se posicionar como uma alternativa multilateral diante de conflitos e guerras comerciais. Ao abrir a cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o grupo representa o legado do Movimento dos Não Alinhados, surgido durante a Guerra Fria como resistência à bipolaridade internacional. “Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia volta a estar em xeque”, declarou.
Lula também destacou que o BRICS representa hoje mais da metade da população mundial e cerca de 40% do PIB global, alertando para o crescimento do protecionismo e a necessidade de reformar instituições como o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional.

Expansão do BRICS
A expansão do bloco — que começou em 2009 com Brasil, Rússia, Índia e China, e que hoje inclui também África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia — tem ampliado sua complexidade interna, mas também o peso diplomático do grupo. A Arábia Saudita, segundo fontes diplomáticas citadas pela Reuters, ainda não formalizou sua adesão, enquanto cerca de 30 países já demonstraram interesse em se juntar ao BRICS como membros ou parceiros.
O BRICS também anunciou um projeto-piloto de garantias multilaterais dentro do Novo Banco de Desenvolvimento, com o objetivo de reduzir custos de financiamento e estimular investimentos em países membros. Em outro comunicado, os líderes pediram regulamentação do uso de inteligência artificial, com ênfase em proteção de dados e mecanismos de remuneração justa.
No campo ambiental, o Brasil usou a reunião como vitrine de sua atuação em defesa da Amazônia e da agenda climática. Durante encontros com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representantes da China e dos Emirados Árabes sinalizaram interesse em financiar o projeto Tropical Forests Forever Facility, voltado à preservação de florestas ameaçadas.
Trump, por sua vez, tem criticado duramente as políticas climáticas americanas e reforçado sua oposição a acordos ambientais multilaterais, como o Acordo de Paris, abandonado durante seu primeiro mandato.
O ministro da Economia da Indonésia, Airlangga Hartarto, participou da cúpula no Brasil e deve viajar aos Estados Unidos nesta segunda-feira (8) para acompanhar negociações tarifárias com autoridades americanas. O Ministério das Relações Exteriores da Índia não comentou o anúncio feito por Trump. Até o momento, o ex-presidente não esclareceu o que considera “políticas antiamericanas” dentro do BRICS.