Quem me acompanha por aqui sabe que a coluna Em Terras Lusas tenta mostrar ao leitor brasileiro tanto o lado bom, criativo e produtivo de Portugal, quanto o lado menos luminoso desse país que escolhi e que me acolhe há quase dez anos.
Faço isso para mostrar àqueles que nos leem semanalmente, que não acreditem em tudo que a internet e a mídia dizem sobre as maravilhas de se viver e morar por essas bandas, como se por aqui não houvesse problemas como xenofobia, falta de trabalho e, muitas vezes, racismo.
Afinal, nem tudo que está na rede é verdade, nem tudo que reluz é ouro e nem sempre a grama do vizinho é mais verde do que a nossa. Ou seja, exercer o raciocínio crítico e ter boas informações pode fazer toda a diferença nas nossas escolhas cotidianas.
A coluna dessa semana quer mostrar ao leitor algumasinvenções portuguesas relativamente recentes que enchem o país e os portugueses de orgulho, e que, de certa forma,desmitificam a velha ideia de que não há ilhas de excelência e vanguarda em Portugal.
Se há centenas de anos os portugueses foram responsáveis por invenções pioneiras que propiciaram a criação de objetos e meios de transporte indispensáveis no mundo contemporâneo, como a caravela portuguesa, o astrolábio náutico, a passarola (um precursor do que viria a ser obimotor), o pirelióforo (uma espécie de forno de altas temperaturas) e o Herrmann Wall Phone (um telefone de parede que, graças a uma tecnologia inovadora, permitia efetuar comunicações por “chamada de botão”), que talfalarmos das mais recentes invenções e seus criadores?
E há uma panóplia delas. Poucos sabem, mas o telefone pré-pago, o sistema de pedágio sem parar, a bola de vento para microfones, as bengalas eletrônicas para cegos e o ColorADD, sistema de código de identificação de cores para daltônicos, são criações lusas.
Perturbação visual incurável, normalmente de origem genética, embora possa ser adquirida, resultante de lesão ocular ou neurológica, o daltonismo faz com que as pessoas tenham dificuldade na distinção das cores. Comumente, a maioria dos daltônicos não distingue entre verde e vermelho, mas há também aqueles que confundem azul e amarelo, e até mesmo quem só veja em preto e branco.
Pensando nessas pessoas, na discriminação que sofrem, nos impedimentos profissionais advindos dessa limitação e na dificuldade em realizar tarefas simples do dia a dia,como escolher um par de meias, em 2000, o designer portuense Miguel Neiva criou o ColorADD.
A premissa do código de cores consiste em atribuir três símbolos gráficos representando as cores primárias (azul, amarelo e vermelho). Através do conceito da adição de cores, os símbolos gráficos são relacionados entre si para criar e identificar toda a paleta de cores que conhecemos.
Já os símbolos para preto e branco orientam as tonalidades escuras ou claras. Assim, basta ir combinando os diferentes símbolos para formar novas cores. Uma ideia simples e que tem revolucionado a vida de inúmeros daltônicos no mundo.
Em Portugal o código é uma realidade em várias empresas e segmentos públicos, utilizado em linhas do metrô, mapas da cidade, estacionamentos, hospitais, tabelas de informações nutricionais e em muitos outros produtos e serviços onde a cor seja um fator primordial de decisão.
Mas que não se engane o leitor ao acreditar que a invenção portuguesa faça sucesso somente em Terras Lusas. O código pode ser encontrado em praias na Grécia e na Costa Rica, em shopping centers na Espanha e, nos Estados Unidos, a empresa Mattel decidiu utilizar o código no jogo de cartas “UNO” fazendo com que as vendas do jogo aumentassem exponencialmente.
No Brasil, o código é utilizado pelo colégio Mackenzie em São Paulo, na biblioteca do Supremo Tribunal Federal em Brasília, pelo grupo NIAD de administração de shopping centers espalhados por todo o país, entre outros. A partir desse ano, o sistema ColorADD também poderá ser encontrado no aeroporto RIOgaleão, no Rio de Janeiro.
Uma invenção portuguesa do século XXI que parece simples a um primeiro olhar, e que modifica e melhora a vida de milhões de daltônicos.