O laudo da reconstituição do assassinato de Igor Peretto, em Praia Grande, concluiu que Mario Vitorino, além de dar 40 facadas no cunhado, não explicou as lesões sofridas por Igor. Uma das facadas o deixaria tetraplégico e o impossibilitou se defender do ataque “brutal e cheio de ódio”, como definiu o delegado do caso Dr. Renato Mazagão Júnior.
Inclusive, a tese de legítima defesa foi totalmente anulada. “Além do excesso cometido contra a vítima, não foram descritas no laudo lesões na mão de Igor, que haveriam caso ele tivesse utilizado um pedaço quebrado de espelho para atacar Mario”, afirma o delegado titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Praia Grande.
Outra prova colhida pela equipe de investigação, composta pelo investigador chefe Marcelo Ferreira, Luciano S Moutinho e José Carlos G. Salvador, é de que Mario teria mentido sobre onde pegou a faca utilizada para matar Igor Peretto.
Durante a simulação, Mario declarou que visualizou a faca na cuba da pia após “ser ferido por Igor”. No entanto, o exame pericial no local após o crime – que ocorreu no apartamento de Marcelly, na Avenida Paris – mostra que a gaveta de facas estava aberta. (Veja as imagens abaixo)
Marcelly se contradiz, detalha laudo
Em seu primeiro depoimento na sede da DIG, Marcelly não menciona que seu irmão estava com um caco de vidro e alega que ela foi para o outro quarto se trocar e viu Mario passando para a cozinha, retornando ao quarto principal onde estaria Igor. Quando voltou para o outro quarto, viu Mario em cima de Igor, que estava caído no chão, o esfaqueando.
Já na reconstituição, Marcelly alterou a sua versão apresentada na Delegacia e disse que, logo após a porta do guarda-roupa cair, Igor teria se abaixado e ameaçado Mario com um caco de vidro. Momento em que ela passou sobre a porta caída e foi para o outro quarto se vestir.
📲 Participe dos canais VTV News no WhatsApp“Soma-se a isso o seguinte detalhe: para que a porta ficasse no caminho de Marcelly, a ponto dela precisar passar sobre a referida porta (da forma como declarou/encenou na reprodução simulada), seria necessário algum outro tipo de ação/interação (não apontada por Marcelly) em relação à referida porta, além de seu simples desprendimento do guarda-roupa”, aponta o laudo. (Confira as imagens abaixo)
Igor foi encontrado morto com a porta do guarda-roupa entre as suas pernas.
Já Mario, em seu depoimento, relata que Marcelly saiu correndo para o outro quarto quando Igor teria quebrado o espelho. Segundo ele, Marcelly só saiu deste cômodo após o crime e não viu o irmão ser esfaqueado.
Contradições entre Mario e Marcelly
Mario apresentou uma versão diferente de Marcelly sobre o momento quando a porta do guarda-roupa cai. Durante a reprodução simulada, ele diz que Igor sentou na cama, chutou a porta e o vidro estilhaçou, sendo que a porta permaneceu no mesmo lugar.
A porta teria caído após a saída de Igor do quarto para atender o interfone. Mario diz que Igor volta ao quarto e começa a discussão (Neste momento ilustrado abaixo)
Veja os detalhes da reconstituição aqui:
No entanto, esta versão conflita com a versão apresentada por Marcelly durante a reprodução simulada dos fatos (na qual Igor chuta várias vezes a porta do guarda-roupa e ela cai por inteiro, estilhaçando o respectivo espelho).
O laudo ainda aponta que a versão de Mario conflita ainda com o depoimento dele mesmo na Delegacia de Polícia, onde ele situa este evento em momento diferente.
Vizinhos relatam que os três estavam na mesma cena
Depoimentos de vizinhos, obtidos através de trabalho de campo da Polícia Civil, relatam que as três pessoas no apartamento (Igor, Mario e Marcelly) falavam ao mesmo tempo, durante toda discussão.
“Eles estariam juntos o tempo todo e todos falavam na mesma cena. Além disso, essas testemunhas informaram que em nenhum momento ouviram pedido de socorro de Marcelly, nem de
ninguém que estava dentro do apartamento”, relata a conclusão do delegado da DIG.
Conclusão da Polícia Civil
“A nebulosidade e a incongruência dos fatos narrados pela Marcelly e pelo Mario, tanto nos seus depoimentos quando na reconstituição do crime, quando confrontados pelos laudos técnicos, depoimentos de testemunhas e dados obtidos da extração dos celulares, reforça a tese de suas culpabilidades nesse crime hediondo, pois leva a crer que as suas versões não são o retrato da verdade, mas sim trazem como objetivo preservar Marcelly de sua participação no crime e imputar uma legítima defesa a Mario. Em tempo, informa-se que, embora Rafaela não estivesse presente no palco dos eventos que culminaram com a execução de seu marido Igor, a mesma, conforme dados obtidos na extração de seu aparelho celular, apagou informações do mesmo, as quais não foram possíveis de serem recuperadas, além disso, ela foi peça importante durante a fuga de Mario, o auxiliando, inclusive indicando a casa de um parente seu para que o mesmo se abrigasse ao se evadir após o crime, informação essa omitida no seu depoimento”, relatou o delegado Dr. Renato Mazagão Júnior.
O laudo necroscópico revelou que o ataque sofrido por Igor Peretto foi brutal, sendo que foram informadas 40 facadas, distribuídas entre no pescoço, cabeça, tronco anterior e posterior e nos braços, um dos golpes deflagrados nas costas, atingiu a coluna de Igor, o que, por sua vez, incapacitaria a vítima, visto que a lesão, conforme descrita no laudo, poderia ter levado a uma tetraplegia.
“Desse modo, com base nas informações do presente laudo, esvaziam-se as possibilidades de legítima defesa, pois além do excesso cometido contra a vítima, não foram descritas no laudo lesões na mão de Igor, que haveriam caso ele tivesse utilizado um pedaço quebrado de espelho para atacar Mario. Ainda de acordo com essas informações, a vítima apresentava perfurações nos braços e antebraços, as quais seriam ferimentos possíveis de auto defesa, contra os ataques de Mario. Marcelly, embora negue qualquer participação no homicídio de seu irmão, a mesma saiu da cena do crime com as roupas manchadas de sangue e com as unhas quebradas, o que em tese não é compatível com a descrição de que teria ficado no quarto e não se envolvido, e que apenas teria visto o desfecho da situação. Além disso, as contradições no seu depoimento põem em dúvida até que ponto estaria envolvida na ação que culminou no assassinato de Igor, bem como na sua omissão, não sendo descartada a possibilidade de que a mesma tenha golpeado seu irmão“, traz a finalização do inquérito.