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Pai de criança morta em confronto com a PM usava muletas quando foi morto

Advogada e testemunhas contestam versão da Polícia Militar
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A morte de Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, durante um suposto confronto entre policiais militares e criminosos no Morro São Bento, em Santos, nesta terça-feira (5), continua gerando grande comoção e diversas perguntas.

A versão oficial da Polícia Militar, que aponta a possibilidade dos disparos da PM terem sido efetuados em legitima defesa, é contestada por uma testemunha anônima. A mãe de um amigo da vítima, que diz ter testemunhado toda a cena do crime. Além disso, uma nova informação pode mudar o rumo das investigações: o pai de Ryan, Leonel Andrade foi morto há nove meses durante um confronto com a polícia.

A advogada da família, Letícia Giribello, questiona a coincidência de ambos os casos, mas afirma que, até o momento, não é possível afirmar que existe ligação. Ela também contesta a versão policial sobre o suposto confronto com criminosos e afirma:

Eles viram dois meninos de moto, são dois adolescentes, um de 15 e um de 17 anos, que estavam trafegando sem capacete no morro. E a versão que chegou para nós foi exatamente essa, que começou uma perseguição por conta dos meninos estarem trafegando sem o capacete. Os meninos entraram na viela onde estavam as crianças brincando e aí começaram os tiros. Todas as pessoas que presenciaram afirmam que não houve troca de tiros, que o tiro partiu por parte da polícia. Não foram encontrados nem entorpecentes, nem armas com esses adolescentes“.

Uma testemunha ocular, mãe de um amigo de Ryan, relatou que estava em casa quando ouviu os disparos e saiu para ver o que estava acontecendo. Ao chegar ao local, encontrou o menino baleado e os policiais atirando em direção à sua casa.

“Quando olhei pro lado, porque eu não tinha visto que o Ryan estava atrás de mim. E quando eu virei assim, ele já estava com a mãozinha na barriga e a gente perguntando o que tinha acontecido. Ele não falava nada”.

Foi neste momento em que a mulher, que também foi atingida de raspão, percebeu que Ryan estava morto. A testemunha afirma que não houve confronto e que os policiais dispararam indiscriminadamente, atingindo tanto os adolescentes quanto Ryan.

“Eu pedia pra eles pararem de atirar… Pelo amor de Deus, que tem criança aqui. Esse negócio de confronto não existe, não teve. Porque os primeiros dois tiros que eles deram, derrubaram os dois meninos. Então não teve confronto. Eles atiraram em direção à minha casa. Na minha casa, na parte que eu moro, não existe boca de tráfico. Não existe biqueira, não tem isso, gente”.

A família de Ryan está devastada com a perda do filho e questiona a conduta da polícia durante a operação. A mãe da vítima, que já havia perdido o companheiro em um episódio de violência no mesmo local, encontra-se em estado de choque e conta com a ajuda de remédios para se manter estável.

A morte de Leonel

Leonel Andrade Santos, de 36 anos, morreu durante um suposto confronto com a Polícia Militar no Morro São Bento, em Santos. A vítima, que utilizava muletas devido a uma lesão no joelho, foi baleada junto com Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos.

A versão da polícia aponta para um confronto, com os agentes alegando terem sido atacados a tiros pela dupla. No entanto, a família de Leonel contesta essa narrativa. Uma foto, tirada por uma moradora horas antes do ocorrido, mostra Leonel com as muletas, o que, segundo a esposa, torna impossível a participação em uma troca de tiros.

A esposa de Leonel, e mãe de Ryan da Silva, afirma que o marido recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e estava na fila de espera para uma cirurgia.

A advogada Letícia Giribello afirma que a família está completamente desestruturada após perder dois entes queridos em um intervalo de apenas nove meses devido à violência policial.

Esperamos fazer justiça. Ryan e Leonel não vão voltar, mas esperamos que os culpados sejam efetivamente punidos”

Polícia Militar

O Coronel Émerson Massera, chefe da comunicação social da Polícia Militar, afirmou em coletiva de imprensa que a perícia irá investigar o caso para determinar a origem do disparo que matou Ryan. Ele defendeu a ação dos policiais, alegando que eles foram vítimas de um ataque de criminosos e que precisaram se defender.

De acordo com informações da PM, o confronto começou quando três viaturas da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) estavam pelo bairro e avistaram cerca de dez indivíduos que, ao perceberem a presença dos policiais, tentaram fugir para um ponto conhecido pelo tráfico na região.

Os agentes iniciaram as buscas pelos suspeitos a pé e, ao se aproximarem desse ponto de tráfico, foram recebidos a tiros. Por isso, segundo o registro da ocorrência, os policiais revidaram, dando início a um confronto.

De acordo com a corporação, durante a troca de tiros, os adolescentes foram alvejados. Um tinha 15 anos e o outro, 17. O mais velho foi encaminhado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Zona Noroeste, mas não resistiu e morreu. O outro permanece internado na Santa Casa de Santos sob escolta policial.

O registro policial não menciona o menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, que também foi baleado. De acordo com moradores, a criança estava brincando na frente da casa onde morava quando foi atingida na barriga. Ryan foi levado para a Santa Casa de Santos, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.

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