O assassinato do adolescente de Bertioga, Henrique Marques de Jesus, de 16 anos, continua sendo investigado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE). Inicialmente, acreditava-se que o crime estava relacionado a um gesto feito em fotos publicadas nas redes sociais, mas a polícia descartou essa hipótese após novas diligências.
Em entrevista ao Jornal Metrópoles, o delegado Júlio Morais, responsável pelo caso, explicou que as investigações indicam que o assassinato foi motivado por uma camisa que exibia o símbolo de uma facção criminosa. Ele afirmou que os relatos dos suspeitos apreendidos até o momento corroboram essa teoria.
Conforme relatado pela autoridade, o adolescente foi agredido, torturado e morto por traficantes do Comando Vermelho, que o confundiram com um membro do Primeiro Comando da Capital (PCC), devido a uma blusa que ele usava. Três suspeitos foram presos até o momento, e os depoimentos indicam que o crime foi premeditado.
Adolescente de Bertioga foi morto no Ceará: com aconteceu o crime?
Henrique viajou para a Vila de Jericoacoara, no Ceará, com seu pai, Danilo, e sua irmã, Camilly, de 14 anos, no dia 13 de dezembro. Ao VTV News, a tia Naomi Marques contou que, na madrugada de 17 de dezembro, Henrique decidiu voltar sozinho da barraca na praia para a pousada onde estavam hospedados, por volta das 23h.
De acordo com a família, o garoto seguiu o caminho até a pousada para recarregar o celular e se preparar para voltar a São Paulo no dia seguinte. Já a Polícia Civil aponta que ele estava no local para comprar drogas e foi agredido no ponto de vendas após ser confundido com um membro de facção rival.
“Ele faleceu porque chamou a atenção dos criminosos por estar vestindo uma blusa que teria um símbolo ou desenho relacionado a um grupo criminoso rival. A partir disso, os criminosos, supostamente, o julgaram integrante do tal grupo e mexeram no celular dele para buscar mais informações”, disse Júlio ao Metrópoles.
‘Rivalidade entre facções’
Imagens de segurança obtidas pelo SBT mostram que, neste meio-tempo, Henrique foi abordado por cerca de oito homens. Quando o pai retornou ao hotel, não encontrou o filho e iniciou uma busca desesperada por toda a vila. Ele só soube o que aconteceu na manhã seguinte, ao analisar as imagens de um estabelecimento local.
A polícia, no entanto, não conseguiu localizar a blusa mencionada nem o celular de Henrique. Segundo os relatos dos suspeitos, o desenho na camiseta seria uma meia-lua ‘yin-yang’. No vídeo que mostra o momento em que o garoto é levado pelos traficantes, ele já estava sem a blusa.
No taoismo chinês, o símbolo representa a dualidade e a complementaridade dos opostos. No entanto, no mundo do crime, esse símbolo é associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Além disso, o número “três”, frequentemente mostrado por turistas em fotos, também é um símbolo ligado à organização.
A investigação revelou que, além da blusa, o celular de Henrique possuía imagens que poderiam confirmar a ligação com facções criminosas, mas o aparelho nunca foi encontrado. Apesar da ausência de provas concretas, a polícia acredita nas declarações dos suspeitos, uma vez que não houve contradições em seus depoimentos.
Três foram presos e investigações continuam
Em nota, a Polícia Civil do Ceará afirmou que, no dia 1º de janeiro, um adolescente de 16 anos foi apreendido na Vila de Jericoacoara – sendo a terceira pessoa capturada. A apreensão foi feita com base em um mandado de busca e apreensão cumprido pelas equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e da PCCE.
Logo no dia 23, seis dias após o crime, outra operação foi deflagrada pela PCCE para capturar suspeitos do homicídio. Nesse contexto, um adolescente também de 16 anos foi apreendido em Fortaleza, no bairro Barroso.
A ação contou com a colaboração do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Norte (DPJ-Norte) e do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), além do Departamento de Inteligência Policial (DIP).
Além das apreensões de menores, a polícia também cumpriu mandado de prisão preventiva contra um homem de 36 anos. O suspeito, que já estava preso no Maranhão, é apontado como o mandante do crime. Ele tem um longo histórico criminal, incluindo tráfico de drogas e homicídios, e é líder de um grupo criminoso originário do Rio de Janeiro.
Quem era Henrique Marques de Jesus?
Para a família, Henrique sempre foi uma pessoa alegre e cativante, conhecida pela personalidade brincalhona na infância e por ser carinhoso na adolescência. Ele nunca perdeu o jeito divertido de ser, mesmo com o passar do tempo. Prestes a começar seu primeiro emprego na praia de Bertioga, Henrique estava cheio de planos e sonhos.
“Ele tinha praticamente 1,90 de altura, mas era uma criança. Tiraram os sonhos de uma criança”. Emocionada, Naomi também considera que Henrique não pôde se defender. “A gente acredita que ele estava muito assustado. É o que dá para perceber no vídeo”.
O corpo foi encontrado em 18 de dezembro, próximo à Lagoa Negra, após ele ter sido levado para uma área isolada da vila. Segundo o delegado, a tortura foi ‘brutal’, com a vítima tendo uma orelha decepada, e o corpo foi abandonado em outro ponto distante.
“Isso acontece com muitas famílias em todo o Brasil. Estamos arrasados, principalmente a minhã irmã [Amanda, mãe de Henrique] e o meu ex-cunhado [Danilo, pai]. Havia perdido minha mãe em dezembro e, agora, o mês se tornou ainda mais triste para nós”, disse Naomi para o VTV News.
